Microsoft embranquece na Polônia
Exibida inicialmente nos EUA, a propaganda mostrava dois homens (um asiático e um negro) e uma mulher (branca) sentados à mesa de reunião. Com uma diversidade étnica no visual e o seguinte slogan: "Capacitar seu pessoal, com as ferramentas de informática que eles precisam".
Quando chegou à Polônia, a mesma imagem havia sido alterada de modo simplório, removendo apenas o rosto do negro (deixando seu corpo na mesma postura) e o substituindo pelo rosto de um branco. A colagem é clara e não deixa mentir.
Muitas têm sido as manifestações de quem não vê ali qualquer sinal de racismo, mas apenas uma adaptação à realidade polonesa. Seguindo esse raciocínio, não seria de bom gosto mostrar etnias diferentes das que compõem o lugar de destino de uma propaganda. Assim, apenas judeus barbudos devem estar nos anúncios que vão para Israel, somente mulheres de burka na publicidade islâmica, só orientais nas propagandas da Ásia e apenas negros podem ser vistos na África.
Isso seria praticamente uma versão globalizada do apartheid, onde os diversos povos deste planeta não comprariam um produto representado por um "estranho", ou seja, alguém que não represente os padrões de beleza exigido pelos países globalizadores.
Ora bolas, qual o problema de mostrar índios na Rússia, brancos no Marrocos, japoneses na Itália ou negros na Polônia? Somos todos humanos! Sentimos da mesma forma a dor e o prazer. Um produto que queira ser reconhecido como internacional usa essa diversidade ao seu favor, mostrando o poder da sua marca, e não a restringindo.
O tempo inteiro somos bombardeados por um repertório de anúncios que não necessariamente se encaixam em nossa realidade. A globalização, quando é feita no sentido contrário parece incomodar. Assistimos à reality shows, ouvimos música americana e comemos hambúgueres, queremos bolsas italianas e perfumes franceses, compramos tecnologia japonesa... e tudo isso sem reclamar!
A justificativa de quem não vê racismo algum na "adaptação" não se sustenta, até porque o oriental continua lá na foto. É lamentável que um problema sério ainda seja desmerecido como uma mania de perseguição ou vitimização utilitarista. Qualquer forma de racismo deve ser combatida de forma séria e tenaz.
A mensagem inical da Microsoft que mesclava a foto e o slogan tinha tudo para servir de exemplo de como as diversas etnias se encaixam bem na ideia das "ferramentas", cada uma com a sua importância. Mas, infelizmente, o anúncio se tornou um exemplo de que o racismo ainda vive, por mais que tentemos negá-lo.
Thiago Mattos.
PS: Os outros anúncios mostrados ao longo do texto são também exemplos claros de racismo. O xampu que "conserta" os cabelos rebeldes; o sabonete que chama o menino negro de sujo e o pergunta por que ele não se lava com o sabonete Vinolia; e a publicidade de um achocolatado francês (utilizada desde 1915) que recentemente considerada racista e retirada de circulação.
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