sexta-feira, março 24, 2006

Você está aqui

É isso aí! A história está acontecendo. Daqui a um tempo, tudo isso estará nos livros de história e na boca do povo. Diremos coisas como “No meu tempo, eu entrava por trás no ônibus” ou “Eu sou do tempo que o PT era vermelho”. Mas a história acontece sem pedir licença e só nos resta escolhermos que papel ocuparemos nisso tudo.

Se você estivesse agora em Paris, onde estão tacando fogo na cidade e
os estudantes não param de protestar contra a lei do primeiro emprego, de que lado você estaria? Se estivesse no Iraque, onde os atentados já viraram rotina e a próxima vítima pode ser você, o que você estaria fazendo? Se sua sorte te pusesse nos desunidos Estados Unidos, o que você estaria comprando?

Podemos pensar em um monte de exemplos e muitos diriam: “Eu não queria estar preso em
Guantánamo” ou “Eu não queria ser uma mulher afegã”, mas essas coisas a gente não escolhe. Nos é dado uma realidade e dali pra frente é com a gente mesmo.

Acontece que somos brasileiros. Alguns de nós estamos asfixiados nas favelas, outros escandalizados no Congresso, outros vestidos pretenciosamente em seus paletós, outros fazendo blogs. Mas muitos não sabem onde estão!

Precisamos nos encontrar enquanto a história acontece para podermos decidir onde estaremos quando ela for contada: partes ativas e determinantes da nossa própria realidade ou apenas mansos espectadores perdidos.

Thiago Mattos.

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segunda-feira, março 20, 2006

Me dá seu orkut?

Ok, você venceu! Batata frita! É assim que me sinto conforme vou me deixando seduzir pouco a pouco pelas vicissitudes tecnológicas. Primeiro foi o celular: durante um bom tempo eu me recusava a andar por aí carregando um tamagochi que além de falar também faz você falar onde você está. Até que um dia me rendi ao uso do maldito. Rapaz, passei por cada situação...

Depois veio o imeiu. “Cara, você não tem e-mail? Ta por fora, hein!” Era o que me diziam (familiar isso?), então tinha que arrumar o tal. Ninguém mais me escrevia cartas, (e olha que eu recebia cada carta de dar inveja a locutor de programa de rádio AM). Assim, eu também fui parando de escrevê-las, de tanto que era bombardeado pela propaganda do imeiu. Aí, veio o famoso messenger. “Mermão, tu tem que ter! É chuchu beleza, funciona que é uma maravilha! Pá pum, rapidim”.

Agora, esse negócio de orkut, francamente hein... Imagina só: uma vitrine virtual exibindo quem você é, do que você gosta, do que você não gosta, do que você – além de não gostar – odeia, quem são seus amigos, seus inimigos, onde você vai, se você bebe, se você fuma, se você cheira, putaquiupariu! Sai pra lá! Que que é isso, minha gente? Todos querem os seus 15 minutos de fama, todos querem ser importantes e mostrarem como são únicos, como são especiais por gostarem de música gótica espanhola, lerem Fitzgerald e comerem rúcula. Que carência é essa?

“Viu o que ele escreveu pra mim, Gertrudes?”

“Menina, se a Zilcreide ler aquilo tu tá fritinha da silva”

E olha que eu não estou nem tocando na questão política disso. A coisa fica feia mesmo quando a gente pensa que mesmo vivendo em plena era do “Sorria, você está sendo filmado” a gente quer mais é aparecer bem na fita, ali atrás da repórter. “Galvão, filma nóis!”. A gente quer mais é mostrar que existe, sonhamos em sermos os próximos a aparecer na revista Caras, nos desesperamos para sermos sorteados no Big Brother Brasil.

Essa alienação voluntária no maravilhoso mundo do controle social camufla um estilo de vida servil à uma idéia que não é nossa, compramos gato por lebre sem percebermos ou nos questionarmos o que tem por trás disso, sem essa de teoria da conspiração mas toda essa exacerbação da imagem e da individualidade não faz ninguém especial. Ao contrário, somos só mais uma ovelha no meio de um rebanho subjugado, dominado e cego. O problema é que com todo esse glamour anestésico fica difícil qualquer acorrentado se libertar da confortável caverna de Platão.

Thiago Mattos

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quarta-feira, março 15, 2006

O cidadão brasileiro médio

A desmoralização da Câmara dos Deputados e a ocupação do Exército em algumas favelas cariocas demonstram bem o arquétipo do cidadão brasileiro médio. É fácil reconhecer um cidadão brasileiro médio: ele carrega consigo idéias medíocres.

Quando ouvimos numa conversa de boteco coisas como “Eu é que queria ganhar mensalão” ou “Todo político mete a mão mesmo”, fica claro o sintoma que aproxima toda uma população. Essas frases medíocres denunciam um absurdo comum: o conformismo presente na boca do povo. E quando digo povo, envolvo todas as camadas, do primeiro andar à cobertura.

Assim, fica fácil também entender porque acontece o que acontece na Câmara dos Deputados, todo esse acordo de compadres que salva os colegas. Brasília e todos os deputados federais que votaram contra a cassação dos envolvidos no escândalo do caixa 2 é apenas um microcosmos do que é o Brasil, ou melhor dizendo, de como manifestam-se as idéias medíocres do cidadão brasileiro médio.

O cidadão brasileiro médio existe por toda a parte e é este mesmo cidadão que também participaria do acordão para livrar a cara do seu colega que roubou 20 ou 100 mil, afinal, no lugar de seu colega (outro cidadão brasileiro médio) ele também faria o mesmo (quem não faria?).

O mesmo acontece com a parcela da população que apóia a ocupação do Exército brasileiro em alguns morros do Rio de Janeiro para o resgate de 10 fuzis e uma pistola que haviam sido roubados de um quartel. Os pensamentos sanitaristas se reproduzem através da boca do cidadão brasileiro médio que acha normal apontar um tanque de guerra para o próprio povo, não importa que haja criminosos no meio (onde hão há?).

Precisamos tratar melhor novo povo e, por que não, nossos “criminosos”. Mas o cidadão brasileiro médio quer mais é ver o circo pegando fogo, quer mais é que morra toda essa raça descalça que não usa paletó (ainda que seja um deles). Esse é o sujeito que grita “Mata!”, “Lincha!”, “Tem tudo é que morrer!”,e é quem absurdamente defende a cadeira elétrica. Mas na verdade é apenas um cidadão sendo usado para a manifestação de idéias, sejam elas liberais, conservadoras ou revolucionárias.

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segunda-feira, março 06, 2006

Um dia o ano começa (ou "Aprendeu como se escreve um clichê?")

Agora vai. Acabou o carnaval e finalmente o ano começa. Tudo bem que ainda temos a Semana Santa, Tiradentes e depois o feriadão do Corpus Christi, a Copa do mundo, o Dia da Independência, o Dia das Crianças, Dia de Finados... Putaquipariu! E olha que ainda nem chegou o Natal e o Ano Novo... Mas que vai, vai!

Um dia a gente começa. Há de haver o dia em que a gente não deixará mais as coisas para a última hora, que as contas não serão mais pagas no dia do vencimento (quando pudermos pagar), que a gente vai mesmo ligar se disser que vai, que a gente vai mesmo na casa da pessoa quando ela nos disser “Aparece lá em casa”. Um dia a gente toma jeito.

Roberto DaMatta diz que a gente aqui no Brasil diz “diferentes, mas juntos” ao contrário do que dizem os estadunidenses “iguais, mas separados”. Roberto DaMatta diz muita coisa; muita gente diz. Eu também. Tem gente que diz que esse é o nosso charme, o nosso jeitinho que saiu da fábula das três raças (a melancolia do negro, a preguiça do índio e a cupidez do branco), que não tem jeito mesmo. Eu digo: tem jeito sim!

Mesmo que nós estejamos num país “abençoado por Deus e bonito por natureza” (mas que beleza!), isso aqui ainda está muito longe de ficar razoável. Ao contrário do que dizem, somos ou temos sido um povo apático na maioria das vezes em relação aos nossos problemas sociais, que preferimos fingir que não existem e ligar na novela, que preferimos dar esmola e dormir melhor pensando “Cara, como eu sou bom”. Mas gente, isso aqui tá ruim demais. Nós, brasileiros, como povo estamos medíocres. Não tomamos atitudes para lutar por condições de melhora nos locais onde vivemos e esperamos que o governo resolvam esses problemas (aprendeu como se escreve um clichê?).

A classe mérdia é o que existe de pior. Só querem poder pagar mais contas no fim do mês e aproveitarem quando o dólar cai para poder viajar; não estão nem aí para dar educação aos seus filhos, contanto que eles consigam bons salários numa multinacional, o mundo que se exploda. Nós, brasileiros, somos ou temos sido um povo superficial e mesquinho nas nossas relações, sejam elas quais forem. Falamos mal de todo mundo e rimos feito hienas contando piadas extremamente preconceituosas e “inofensivas”.

E tem gente que diz que é assim mesmo. Tem muita gente que diz (muita coisa pra ser dita) mas poucos ouvem. Tudo é clichê; eu mesmo não disse nada novo. Mas um dia o ano começa, nem que seja ano que vem.

Thiago Mattos

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sexta-feira, março 03, 2006

Vai que você não entende...

Coisa pra falar é o que não falta. E não falta meeeesmo! É só abrir os jornais de qualquer cidadezinha do interior ou sair pelas ruas percebendo a história acontecendo. Gente pra falar também não; todos falam de tudo, impostando uma propriedade harvardiana, argumentos cheios de estatísticas bradados irrefutavelmente.

Bom, se tem coisa à beça pra ser falada e gente que nem doido pra falar, por que é que euzinho da silva vou ficar de fora? Nananinanão! Também quero a parte que me cabe desse latifúndio virtual chamado internet.

E por falar em internet (olha quem fala) é no mínimo admirável (e no máximo aterrorizante) essa mudança interativa por qual passamos nós, usuários dependentes e incuráveis. Mudança essa que já mostra claros sinais nas relações pessoais (se é que isso pode ser assim chamado) que acontecem virtualmente.

Se você tem fotolog, orkut, messenger, blog, site, email, o raio que o parta, você corre sérios riscos de ser vítima do desentendimento virtual. É isso mesmo! Conheço um monte que sofre desse mal diariamente, eu mesmo já terminei um namoro por causa disso e sei de pessoas que perderam o emprego, amigos, até dinheiro por causa do desentendimento virtual.

O camarada tá ali batendo um papinho inofensivo no messenger até que chega uma hora que ele não entende exatamente o que o outro quis dizer quando não disse nada e já parte pra agressão. E se a titular vê no orkut um recadinho da sua ex dizendo “Oi, gostoso! Já achei sua cueca que você deixou aqui ontem a noite”, na melhor das hipóteses o tempo já fecha. Uma foto perigosa que foi postada pode denunciar o que nunca houve. A resposta de uma informação que você pede por e-mail pode ter uma P.A. de interpretações diferentes, será que você vai escolher a certa?

Qualquer passo em falso pode ser uma boa isca para o desentendimento virtual. Desconfie principalmente de textos sobre o tema. Vai que você não entende...

Thiago Mattos

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