Ok, você venceu! Batata frita! É assim que me sinto conforme vou me deixando seduzir pouco a pouco pelas vicissitudes tecnológicas. Primeiro foi o celular: durante um bom tempo eu me recusava a andar por aí carregando um tamagochi que além de falar também faz você falar onde você está. Até que um dia me rendi ao uso do maldito. Rapaz, passei por cada situação... Depois veio o imeiu. “Cara, você não tem e-mail? Ta por fora, hein!” Era o que me diziam (familiar isso?), então tinha que arrumar o tal. Ninguém mais me escrevia cartas, (e olha que eu recebia cada carta de dar inveja a locutor de programa de rádio AM). Assim, eu também fui parando de escrevê-las, de tanto que era bombardeado pela propaganda do imeiu. Aí, veio o famoso messenger. “Mermão, tu tem que ter! É chuchu beleza, funciona que é uma maravilha! Pá pum, rapidim”.
Agora, esse negócio de orkut, francamente hein... Imagina só: uma vitrine virtual exibindo quem você é, do que você gosta, do que você não gosta, do que você – além de não gostar – odeia, quem são seus amigos, seus inimigos, onde você vai, se você bebe, se você fuma, se você cheira, putaquiupariu! Sai pra lá! Que que é isso, minha gente? Todos querem os seus 15 minutos de fama, todos querem ser importantes e mostrarem como são únicos, como são especiais por gostarem de música gótica espanhola, lerem Fitzgerald e comerem rúcula. Que carência é essa?
“Viu o que ele escreveu pra mim, Gertrudes?”
“Menina, se a Zilcreide ler aquilo tu tá fritinha da silva”
E olha que eu não estou nem tocando na questão política disso. A coisa fica feia mesmo quando a gente pensa que mesmo vivendo em plena era do “Sorria, você está sendo filmado” a gente quer mais é aparecer bem na fita, ali atrás da repórter. “Galvão, filma nóis!”. A gente quer mais é mostrar que existe, sonhamos em sermos os próximos a aparecer na revista Caras, nos desesperamos para sermos sorteados no Big Brother Brasil.
Essa alienação voluntária no maravilhoso mundo do controle social camufla um estilo de vida servil à uma idéia que não é nossa, compramos gato por lebre sem percebermos ou nos questionarmos o que tem por trás disso, sem essa de teoria da conspiração mas toda essa exacerbação da imagem e da individualidade não faz ninguém especial. Ao contrário, somos só mais uma ovelha no meio de um rebanho subjugado, dominado e cego. O problema é que com todo esse glamour anestésico fica difícil qualquer acorrentado se libertar da confortável caverna de Platão.
Thiago Mattos
Marcadores: comportamento, internet, orkut, tecnologia