domingo, julho 30, 2006

Desculpas para tudo

A curiosa moção recentemente aprovada na Câmara dos Representantes dos EUA, pedindo a criação de uma força-tarefa na Tríplice Fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai) que “assista e combata a proliferação das organizações terroristas”, causou por aqui uma certa surpresa. Apesar de todas as evidências dizerem que não, o projeto de autoria da republicana Ileana Ros-Lehtinen, da Flórida, especula que haja ali um possível braço da Al Qaeda e que terroristas estariam vindo para o Brasil e indo daqui até o México, tentando assim entrar em american soil.

Desde então, diversos congressistas que discordam dos termos do pedido se manifestaram a favor do governo brasileiro, ressaltando a “ativa participação e liderança” do Brasil no programa de segurança do grupo 3+1, formado pelos três países da região mais os EUA. O ponto nevrálgico é que a moção sugere uma militarização da região sob a desculpa da luta contra o terrorismo, conceito ainda vago e impreciso.

O presidente venezuelano Hugo Chavéz já cansou de declarar suas intenções de transformar a Venezuela numa potência militar. Há algumas semanas, a Guiana anunciou a participação de uma força militar americana para vigiar sua parte da floresta amazônica. Há também presença militar dos EUA até Dezembro deste ano em território paraguaio para “exercícios militares”.

Apesar de problemas localizados na Colômbia com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a América do Sul é um dos poucos pontos ainda pacíficos do planeta; as tentativas de militarização, ao contrário do que se pense, não trarão qualquer garantia de paz para a região. Entretanto, notamos que as investidas na direção contrária estão cada vez mais fortes.

A região da Tríplice Fronteira, vale lembrar, tem uma importância estratégica, já que ali está situado o aqüífero Guarani, a maior reserva de água doce do subsolo americano. Já não bastam as constantes ameaças de internacionalização da Amazônia, isso sim um terror, qualquer passo dado na direção de uma intervenção que ameace a soberania desses países deve ser tratado com respeito e cuidado.
Thiago Mattos.

Marcadores: , , , ,

quinta-feira, julho 20, 2006

Merda acontece!

As engrenagens do Senhor da Guerra precisam de mais sangue para azeitar os lucros e assim começa mais um combate em nome da honra e da pátria. Israel, em busca de dois soldados capturados pelo Hizbollah, abre uma ofensiva contra o Líbano, mas até agora só civis estão morrendo – os números crescem a cada dia.

Aqui no “Ocidente Médio”, mais conhecido como São Paulo, as coisas não são muito diferentes. Bem, não temos nenhum tzahal envolvido mas é como se fosse. A cor do sangue é sempre a mesma e a dor grita em uníssono aos surdos.

O presidente estadunidense disse que tem que fazer o Hizbollah parar essa merda, com essas palavras em alto e mau inglês. Bem, ao menos uma merda bem colocada. Concordo com o W. Bush mas, presidente, diga como ahn?

Por aqui, a disputa eleitoral amplifica um embate tacanho e medíocre da parte dos candidatos. Por que não pagamos a todos eles uma excursão ao Líbano? Ok, sem generalizações. Deixa eu tentar de novo.

Em Brasília, a CPI dos Sanguessugas (nenhum deles é sangue bom, vale lembrar) cada vez incha mais a lista dos nomes que “não são necessariamente culpados”, ressalva Vossa Excelência. Até parece... O fato é que as legendas mais envolvidas são casualmente as dos partidos que participaram também com o mesmo vigor nos outros escândalos políticos, inclusive no ‘mensalão’. Alguém ainda topa a vaquinha mandando eles para o Líbano?

Bem, entre tantas merdas acontecendo no mundo há quem prefira ver a novela ou comprar o novo lote do trio da lvete, há quem fique falando mal de tudo escrevendo blogs e há quem só fique lendo. Que merda, hein!

Thiago Mattos.

Marcadores: , , , ,

domingo, julho 09, 2006

We don´t need no education, do we?

Após ter sido vetado durante o governo do nosso presidente-sociólogo, sob a desculpa de que faltava infra-estrutura e professores, o Conselho Nacional de Educação (CNE) decidiu nesta sexta-feira, por unanimidade, que a Sociologia e a Filosofia serão disciplinas obrigatórias nas escolas do Ensino Médio.

O ensino da Sociologia, que já havia saído e voltado diversas vezes nas tantas Reformas Educacionais que tivemos, pode trazer avanços a um sistema educacional tão medíocre como é o nosso. Os pessimistas têm o mesmo argumento: mais conteúdo para dar conta no vestibular? Aí a gente se pergunta por que devemos aprender quanto é 3x – 4 = 5, o que é uma guanina e uma citosina, qual a massa atômica do plutônio ou coisas do tipo. Toda área do conhecimento pode ou não ser válida, dependendo do uso que se faz dela. Pessoalmente, não preciso saber que materiais compõe a lava vulcânica ou que dia nasceu Pedro Álvarez Cabral. Toco minha vida sem complicações pela falta desse saber.

Entretanto, estou convencido de que todos precisamos ter uma certa base educacional, que pode e deve ser útil se relacionada à nossa realidade prática. Dessa forma, será importante compreender que na equação acima x=3, porque posso aplicar a variável para descobrir a solução de uma problema que fará a diferença no meu cotidiano, se tem um sentido prático; otherwise, será apenas um x qualquer, e se for 3 ou 4 não fará a menor diferença para mim.

Não podemos privar os estudantes, que já são tão oprimidos pela panóptica de Foucault, de aprenderem também matérias mais subjetivas, como é o caso da Sociologia e da Filosofia – que mexem com uma outra parte da sensibilidade na cognição. O ensino da Sociologia, por exemplo, traz uma contribuição maior ao estudante, lhe ensinando a pensar diferente, com um conteúdo que faz parte da vida de todos.

Não será mais apenas um raciocínio puramente lógico, já que entender os fenômenos sociais requer um outro grau de abstração - e não que a mátematica ou a física não tenha, só é diferente. Quando a gente pensa numa molécula, num número, num fato histórico ou numa sintaxe, tudo isso a gente vê de fora. Agora, quando estudamos o suicídio, o crime, a migração, os problemas do campo, qualquer uma dessas áreas da Sociologia, somos parte desse macrocosmos que é a sociedade. Precisamos a aprender a desnaturalizar o que é naturalizado pela sociedade. A Sociologia nos fornece conceitos que nos ajudam a compreender isso, e essa discussão não pode excluir ninguém, todos nós fazemos parte disso.

No mundo de hoje, onde o consumo é tão imediato e não temos tempo para pensar, trazer essas matérias – que com certeza ainda terão um peso ridículo em comparação a outras matérias – já é um avanço para as cabeças que precisam mais do que cabelo.


Thiago Mattos.

Marcadores: , ,

segunda-feira, julho 03, 2006

Eu já sabia!

Não precisamos mais esperar: pelo menos para o Brasil, terminou a Copa do Mundo. Todos de volta ao trabalho e sem mais preocupações como “onde eu vou ver o próximo jogo?”. Amigo, não terá mais próximo jogo. Agora, só daqui a 4 anos.


Mas quer saber? Eu já sabia! Essa seleção tão papagaiada e cheia de glamour só podia acabar assim mesmo, foi bem feito. Pena que todo aquele nacionalismo idiota que enchia as janelas de bandeirinhas e as ruas de verde e amarelo não vai durar até outubro, quando teremos eleições. Seria um bom uso de um sentimento tão precário.

Por falar em eleições, neste mês começam as campanhas eleitorais. Tempo para ficarmos de olho em quem vem por aí. Os candidatos realmente deveriam disputar a eleição à outra coisa; nos governos estaduais é cada um pior que o outro. Cada vez mais os eleitores têm que escolher entre o ‘de jeito nenhum’ e o ‘deus me livre’, na dúvida acaba elegendo qualquer um que vê na TV.

Falando em TV, o presidente Lula acabou se decidindo pelo padrão japonês na TV digital, favorecendo as grandes corporações em troca de apoio na sua reeleição e contrariando um sem número de interesses, principalmente o interesse popular. A batalha por trás dessa novela que estava sendo a escolha entre um dos padrões para a TV digital foi acelerada pelo clima eleitoreiro e pelo ministro das Comunicações e ex-repórter da Globo, Hélio Costa.

Agora pouco, em ato inédito, Lula pediu ao Congresso a devolução de 225 processos de renovação de concessões de rádio e TV, ameaçados de rejeição pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados. A manobra, feita a pedido do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), impedirá que emissoras de políticos que estão com concessões vencidas sejam fechadas.

Mas isso tudo ainda é distante da real preocupação do povo, quando o Brasil perde a Copa poucos querem falar de outra coisa. Se a gente começar a opinar quem leva o caneco na disputa presidencial, sabe o que eu vou dizer em Outubro? Eu já sabia!


Thiago Mattos.

Marcadores: , , , ,