quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Quarta-feira de Cinzas

O fim do carnaval anuncia para nós, brasileiros, o começo do ano. Isso todo mundo embaixo do Equador já sabe. Também se sabe que num país carnavalesco por excelência como o nosso, o carnaval não acaba na Quarta-Feira de Cinzas. Ele dá uma pausa.

Que a Beija-Flor de Nilópolis ganharia o desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro desse ano, ainda mais depois de aparecer dias antes num programa de TV líder de audiência, todo mundo também já sabia. Os vencedores dessa festa que a cada ano que passa fica mais industrial são muito previsíveis. Posso até dizer que(m) ganhará ano que vem.


Que já era hora de Tony Blair anunciar uma retirada, ainda que parcial, das tropas britânicas no Iraque, só um outro presidente maluco ainda não percebeu. Que os pilotos norte-americanos envolvidos no acidente aéreo do ano passado no Brasil têm culpa direta no caso (já admitiram inclusive ter desligado o radar), não é mais novidade. Pouca coisa é difícil de presumir nesse mundo óbvio e caótico.

Falta agora sabermos quais serão as próximas manchetes que engoliremos seco daqui pra frente, quais as novas que esse ano já velho tem para nos oferecer. Meteoros caindo sobre a Terra? Novas vacinas? Mais escândalos políticos? Assassinatos brutais? A visita de um alienígena? Nada mais pode me assustar; eu acredito em tudo.


Thiago Mattos.

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domingo, fevereiro 11, 2007

Olho por olho, dente por dente

O que dizer da mais nova polêmica promovida pela grande mídia corporativista: a pena de morte. Que os bandidos responsáveis pela morte de uma criança inocente também devem ser mortos a fim de que tudo se resolva em paz? Que os facínoras não são mais humanos e, portanto, perderam seus direitos? E, por conseguinte, devem ser torturados e arrastados no mesmo trajeto para sentirem a mesma dor e pagarem o que fizeram?

Não há dúvida de que ninguém aceita a impunidade. Todos nós, chamados cidadãos de bem, queremos justiça, de um modo ou de outro. Mas até que ponto essa justiça com as próprias mãos resolve o problema? Seria mesmo esse o melhor exemplo a ser dado? Olho por olho e dente por dente, seria essa a justiça ideal?

Há muitas perguntas e sugestões do que deve ser feito. No entanto, para qualquer dessas possibilidades, pouco se entende do que se fala e, no sentido oposto, pouco se faz. É óbvio que uma pena de morte não institucionalizada já existe e é praticada no Brasil. Destina-se a um público alvo. Quem disse que nossa polícia não é boa? Quando o assunto é matar, ela é exemplar.

Mesmo que houvesse uma redução da maioridade penal e a imediata instalação da pena de morte (que sou veementemente contra, diga-se de passagem), me parece que de nada adiantaria se não fossem melhoradas as condições das prisões, da polícia, do Judiciário e de todo um tecido social que está carcomido por dentro.

Estamos todos desesperados por soluções imediatas, carentes de uma esperança de que tudo possa melhorar. A morte de um inocente em quaisquer circunstâncias gera comoção e revolta. Mas qualquer solução encontrada num momento como este, onde todos querem sentir o gosto de mais sangue derramado, não parece ser de bom-senso. Precisamos parar um pouco de reclamar e ir à reunião de condomínio. Isso para começar.

Thiago Mattos.

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quinta-feira, fevereiro 01, 2007

A minha geração

Sou da geração que hoje tem menos de 30 anos, da geração que aprendeu a tomar bomba e esculpir o corpo mas tem os maiores índices de anorexia e obesidade; que vai ao restaurante natural e pede para ficar na área dos fumantes, e quando vai a um fast food pede um hambúrguer gorduroso com açaí.

Essa é a mesma geração que aprendeu a usar a Internet mas esqueceu como ler um livro; conversa no Messenger mas não fala com seu vizinho; não sabe o que está acontecendo com o seu país ou com o mundo, mas sabe pelo Orkut quem está pegando quem.

A minha geração entende tudo de Big Brother mas nunca ouviu falar de George Orwell; escuta funk carioca mas não tem amigos negros; perde a virgindade com 12, engravida com 13 e divorcia aos 20. Acompanha a vida das celebridades e esquece da sua. Absorve e reproduz toda a hipocrisia das gerações anteriores; não reclama de nada que não seja prolixo e inconsistente.

Minha geração já se acostumou com a violência desde criança mas ainda não conseguiu encarar as crianças de rua; não estranha mais a miséria nem a guerra, até porque em matéria de respeito ao próximo e senso crítico minha geração é miserável. É a geração que acredita no progresso e na ciência mas perdeu a fé em si mesma, mesmo que os templos se multipliquem e que os filósofos passem a crer em Deus. Parece que não há mais salvação.

Um dia, fomos o futuro do país. Hoje, somos a desgraça da nação. Eu, você a minha geração.

Thiago Mattos.

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