sexta-feira, abril 28, 2006

Quem é a América?

As freqüentes manifestações e protestos (até agora já foram mais de 50 por todos os estados americanos) contra a nova lei da imigração que está empacada no Senado demonstram a importância do tema que pode interferir diretamente na vida de pelo menos 11 milhões de pessoas que vivem nos EUA, na maioria latino-americanos, na maioria mexicanos.

Em Dezembro, os republicanos conseguiram passar um projeto de lei pela Câmara dos Representantes (onde votam os deputados) que dizia, entre otras cositas más, que todos os imigrantes ilegais devem ser deportados e as pessoas que os empregam devem sofrer punição. Além disso, também foi garantido pelos deputados o financiamento de uma espécie de muro de 1116 km na fronteira com o México. É a nova caça às bruxas da América.

Na contramão de alguns ‘cidadãos’ que querem se ver livres de outros não-cidadãos que estão ali para fazer o serviço sujo e girar as engrenagens da maior economia do mundo, está a Liga dos Cidadãos da América Latina (LULAC) que prepara uma ação punitiva aos produtos da cervejaria Miller, para castigá-la e envergonhá-la pelo apoio dado ao republicano James Sensenbrenner, de Wisconsin, autor do projeto de lei que causa tanta revolta entre os imigrantes.

A grande verdade é que os imigrantes que trabalham no país, legais ou ilegais, são os braços e as pernas dos EUA, que sem eles pararia. Pergunta: qual dos White Anglo Saxon Protestant construiriam as casas, fariam o serviço doméstico, dirigiriam os táxis, cortariam as gramas, colheriam tomates nas plantações, acabariam servindo no exército e iriam para o Iraque levando a ‘democracia’, enfim, quem faria o trabalho pesado e sujo? É claro que isso é uma generalização mas tirem os ilegais e vejam como seria. Um filme já tentou mostrar isso, mas quem sabe logo poderemos também visualizar na prática.

A nova lei, criminaliza não apenas os imigrantes não autorizados, que vendem sua mão de obra por um preço que poucos venderiam, mas também aqueles que lhes ofereceram ajuda humanitária. Dá para notar a fúria contaminada pelo medo anti-terrorista que os políticos vem usando para aumentar mais a ainda o medo do outsider. Com a consolidação da lei, ser imigrante não será apenas uma ofensa cível, será crime. E todos nós sabemos como são tratados os criminosos, não é mesmo?

O jornalista Juan Williams, que já escreveu bastante sobre os movimentos civis nos EUA na metade do século passado, tem alertado sobre a importância que os protestos contra a lei da imigração vem ganhando, reunindo cada vez mais um número maior de pessoas e importantes segmentos da sociedade; os protestos estão ganhando o mesmo impacto transformador.

Se a situação não mudar, os manifestantes prometem fazer uma paralisação no primeiro de maio. Desta forma, mostrarão a sua importância e sua existência, já que muitos ‘fingem que não existem’. De uma maneira ou outra, algo de bom precisa sair de tudo isso. Depois de livros que viraram best seller culpando os imigrantes pelos problemas do país e publicações que defendiam o fechamento do país, já estava mais que na hora do tema entrar no debate público e questionar o imenso clamor antiimigrante que vem tomando conta de país que se formou basicamente através da imigração e vem sendo habitado e desenvolvido, desde o desembarque dos peregrinos, graças a uma diversidade de culturas vital para a sobrevivência do país.

Thiago Mattos.

PS: O texto acima também foi escrito em inglês.

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segunda-feira, abril 24, 2006

Depois dos feriados

Após duas semanas seguidas de feriado, o sangue d barata renova seu sangue verde e volta com entradas semanais. Como diz o Zé Simão, se o bom do feriado é que o país pára, o ruim é que quando acaba o feriado ele volta a andar... pra trás! Mas de qualquer forma, o mundo continua girando e as notícias acontecendo, tudo como sempre esteve.

As eleições na Itália (onde o candidato da oposição Romano Prodi derrotou numa disputa apertadíssima o dono da Itália, Silvio Berlusconi) e no Peru (onde haverá segundo turno) evidenciam a tendência cada vez mais polarizada entre dois candidatos que as disputas eleitorais vêm ganhando. Algum palpite do que acontecerá por aqui nas eleições de outubro?

Aqui no Brasil, por mais que os celulares estejam explodindo e muitos querendo mais é que o mundo se exploda, quem está prestes a explodir é a Varig (se é que já não o fez). A cia. aérea anunciou uma dívida acumulada de R$ 7 bilhões e teve o pedido de ajuda financeira negada pelo governo. Fica a pergunta: Como uma empresa que já foi líder do setor no Brasil, detém agora menos de 20% do mercado? É o mundo girando...

Saiu no Washington Post uma matéria sobre a ampliação do conceito de ‘guerra total’ pelos EUA, num plano militar recém aprovado pelo secretário de defesa norte-americano Donald Rumsfeld, que já está tendo a sua cabeça pedida por 6 generais reformados, diga-se de passagem. Entre os pontos principais do plano está a ampliação do raio de ação do país além dos atuais palcos de guerra. Detalhe: Entre os locais de destino da América Latina está incluído o Brasil. Fica outra pergunta: de onde sai tanto dinheiro que aumentou o orçamento da “guerra do terror” em 60% desde 2003? São as notícias acontecendo...

A última novidade é daqui mesmo da cidade do Rio de Janeiro, onde metrôs e trens começaram a pôr em prática nesta segunda-feira a lei estadual 4733/06, do deputado Jorge Picciani, que determina pelo menos um vagão destinado exclusivamente às mulheres; homem não entra. A lei tem um horário específico (de 2ª. a 6ª. entre 6h às 9h e entre 17h e 20h) e é no mínimo curiosa. Mas isso já é assunto pra outro dia.

Thiago Mattos.

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sexta-feira, abril 07, 2006

'Alegria de palhaço é ver o circo pegando fogo'


Pois bem. Morreu o saudoso palhaço brasileiro Carequinha, o primeiro que veio pra carimbar a nossa condição de povo circense, e a sua morte não poderia vir em melhor hora para marcar no tempo a era da palhaçada que o país está atravessando (há muito tempo, diga-se de passagem).

Um assaltante é morto com três tiros na cabeça em plena Avenida Nossa Senhora de Copacabana às 6 da tarde, após uma perseguição cinematográfica pelas ruas do bairro por policiais depois de roubar um apartamento e ninguém acredita na letalidade da nossa policia, novamente confirmada, que não respeita o direto à vida e atira para matar. Enquanto isso, a gente assiste a tudo quieto sem reclamar, sorrindo aliviados com a morte de menos um bandido no mundo.

Deputados estão sendo absolvidos sucessivamente, mesmo após confessarem que receberam dinheiro ilegal, a classe política sendo ridicularizada e o povo dando risada, dizendo que se estivessem lá em Brasília roubariam também. Os presidenciáveis sendo engolidos na areia movediça que criaram, tergiversando desculpas e todo mundo dando gargalhada. Hoje tem marmelada? Tem, sim senhor!

A verdade é que ninguém está nem aí. Exemplo simples e próximo: quando eu escrevo aqui neste blog expondo as besteiras do orkut, todos se inflamam e se manifestam. Entretanto, se aqui neste mesmo espaço proponho a discussão de temas mais políticos, por assim dizer, só 2 ou 3 pessoas deixam comentários. Se falasse sobre quem vai comer quem na novela talvez houvesse uma participação ainda maior dos meus leitores. Hoje tem goiabada? Tem, sim senhor!

De qualquer forma, agora que nosso ícone da palhaçada se foi, só precisamos nos olhar no espelho para rir da nossa própria condição burlesca de povo bestializado e besta. O circo está pegando fogo mas, de tanta gargalhada, o povo não percebe que está morrendo queimado.

Thiago Mattos

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segunda-feira, abril 03, 2006

Não dizem nada mas falam de tudo

Lendo os jornais, a gente repara nas curiosas notícias que são repercutidas à exaustão e na divulgação improvável de alguns fatos ocorridos. Muitos são os exemplos. Podemos pensar nos 'passinhos infelizes' com os quais a deputada do PT comemorou a absolvição do seu colega e que já ocupam os noticiários há mais de uma semana.

Alguns fatos, mesmo que não tão importantes, ganham muito mais relevância em detrimento de outros. Se por um lado o ministro da Fazenda cai, por outro o Brasil vai para o espaço (trocadilho pertinente), ainda que de maneira imbecil, já que não desenvolve a sua própria tecnologia espacial e paga para pôr um astronauta em órbita e depende de outros países. O fato não é discutido mas pouco importa, todos fazem festa.


Há poucas semanas, um general do exército deu uma carteirada num aeroporto em S. Paulo e mandou voltar um avião da pista que estava prestes a decolar e, pra completar a estotinha-que-só-acontece-no-Brasil, a companhia aérea fez descer dois passageiros para que o ilustre general embarcasse com a sua senhora. Notícia que se tornou vazia já que, além de não acontecer nada com o milico, o Comando Militar do Leste, encabeçado pelo mesmo general, se reuniu para comemorar na semana passada os tantos anos do Golpe Militar de 64, exaltando o Golpe e pouco se falou nisso.


Os escândalos que governo e 'oposição' compartilham são claramente tratados de maneira diferenciada na sua importância e estamos em geral muito mais esclarecidos sobre o caixa 2 do PT, mas alguém vai mesmo saber como é que foi o episódio do Azeredo ou o desvio de recursos da Nossa Caixa no governo Alckmin em SP?


De qualquer forma, as notícias e reportagens mostram uma coisa: o que importa mesmo é falar. Dos meninos do tráfico (que servem muito mais a um apelo de audiência do que uma discussão sobre a questão) à nova dieta milagrosa, pouco se dá a devida importância e cuidado ao tema ao ser abordado. Todo o bombardeio de críticas políticas e o esgotamento e desgaste de fatos corriqueiros, posto que são tratados de modo vazio, revelam que não há mais o que falar: não dizem nada mas falam de tudo.

Thiago Mattos

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