Quem é a América?
As freqüentes manifestações e protestos (até agora já foram mais de 50 por todos os estados americanos) contra a nova lei da imigração que está empacada no Senado demonstram a importância do tema que pode interferir diretamente na vida de pelo menos 11 milhões de pessoas que vivem nos EUA, na maioria latino-americanos, na maioria mexicanos.
Em Dezembro, os republicanos conseguiram passar um projeto de lei pela Câmara dos Representantes (onde votam os deputados) que dizia, entre otras cositas más, que todos os imigrantes ilegais devem ser deportados e as pessoas que os empregam devem sofrer punição. Além disso, também foi garantido pelos deputados o financiamento de uma espécie de muro de
Na contramão de alguns ‘cidadãos’ que querem se ver livres de outros não-cidadãos que estão ali para fazer o serviço sujo e girar as engrenagens da maior economia do mundo, está a Liga dos Cidadãos da América Latina (LULAC) que prepara uma ação punitiva aos produtos da cervejaria Miller, para castigá-la e envergonhá-la pelo apoio dado ao republicano James Sensenbrenner, de Wisconsin, autor do projeto de lei que causa tanta revolta entre os imigrantes.
A grande verdade é que os imigrantes que trabalham no país, legais ou ilegais, são os braços e as pernas dos EUA, que sem eles pararia. Pergunta: qual dos White Anglo Saxon Protestant construiriam as casas, fariam o serviço doméstico, dirigiriam os táxis, cortariam as gramas, colheriam tomates nas plantações, acabariam servindo no exército e iriam para o Iraque levando a ‘democracia’, enfim, quem faria o trabalho pesado e sujo? É claro que isso é uma generalização mas tirem os ilegais e vejam como seria. Um filme já tentou mostrar isso, mas quem sabe logo poderemos também visualizar na prática.
A nova lei, criminaliza não apenas os imigrantes não autorizados, que vendem sua mão de obra por um preço que poucos venderiam, mas também aqueles que lhes ofereceram ajuda humanitária. Dá para notar a fúria contaminada pelo medo anti-terrorista que os políticos vem usando para aumentar mais a ainda o medo do outsider. Com a consolidação da lei, ser imigrante não será apenas uma ofensa cível, será crime. E todos nós sabemos como são tratados os criminosos, não é mesmo?
O jornalista Juan Williams, que já escreveu bastante sobre os movimentos civis nos EUA na metade do século passado, tem alertado sobre a importância que os protestos contra a lei da imigração vem ganhando, reunindo cada vez mais um número maior de pessoas e importantes segmentos da sociedade; os protestos estão ganhando o mesmo impacto transformador.
Se a situação não mudar, os manifestantes prometem fazer uma paralisação no primeiro de maio. Desta forma, mostrarão a sua importância e sua existência, já que muitos ‘fingem que não existem’. De uma maneira ou outra, algo de bom precisa sair de tudo isso. Depois de livros que viraram best seller culpando os imigrantes pelos problemas do país e publicações que defendiam o fechamento do país, já estava mais que na hora do tema entrar no debate público e questionar o imenso clamor antiimigrante que vem tomando conta de país que se formou basicamente através da imigração e vem sendo habitado e desenvolvido, desde o desembarque dos peregrinos, graças a uma diversidade de culturas vital para a sobrevivência do país.
Thiago Mattos.
PS: O texto acima também foi escrito em inglês.
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