terça-feira, abril 28, 2009

Gripe suína, Obama e Susan Boyle

A gripe suína veio com tudo e desbancou o que seria a pauta mais importante do mês: os 100 dias de Barack Obama no poder.

Numa cobertura que ronda a linha tênue que frequentemente separa a informação do sensacionalismo, a imprensa mundial tenta divulgar os fatos sem espalhar o pânico - difícil tarefa.

Vale destacar a contribuição de um tal de Niman, usuário do
Google Maps que diz ser "pesquisador de biomedicina em Pittsburgh", na Pensilvânia.

Niman está monitorando pelo Google Maps os casos e as aparições de gripe suína pelos quatro continentes - América do Sul e do Norte, Europa e Oceania.

A doença foi detectada primeiramente no México em meados de abril, espalhando-se rapidamente pelos Estados Unidos, Canadá, e logo chegando à Europa.
As vítimas fatais da variante do vírus H1N1 (que caracteriza a gripe suína), por enquanto, só foram confirmadas no México.

No Brasil, apesar de uma dúzia de pessoas estarem sendo monitoradas, nenhum caso ainda foi confirmado.

Enquanto isso, os 100 dias de Obama no poder tem chamado menos atenção que a Susan Boyle.


Thiago Mattos.


Imagem: Andy Marlette

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sexta-feira, abril 24, 2009

"A família é sagrada"

O mais novo escândalo político brasileiro vem da chamada "farra" das passagens aéreas a que nossos parlamentares clamam, choram, exigem ter por direito.

Após vir à tona um esquema de venda de bilhetes aéreos bancados com verba pública e repassados por agências de viagens, o que veio adiante surpreende ainda mais: as declarações e posicionamentos dos nossos eleitos da Câmara e do Senado.

Além da maneira como usam os bihetes (extendendo o privilégio a toda a parentela), a "revolta" causada nos políticos que se vêm ameaçados em seus privilégios é espantosa.

Os argumentos para a manutenção de um privilégio que desperdiça dinheiro público aos montes são os mais estapafúrdios possíveis e revelam a alma de quem está (ou quer entrar) para a vida política do país - os próprios brasileiros, que sempre querem uma boquinha.

Na semana passada, relembrando o episódio do deputado Fábio Farias (PMN-RN) que deu sete passagens aéreas a apresentadora de TV Adriane Galisteu, os jornalistas perguntaram ao primeiro-secretário do Senado Heráclito Fortes (DEM-PI):

"Pode dar passagem para namorada?". Ao que ele respondeu prontamente: "Se for bonita, pode" - e engoliram a piada e, de quebra, o sapo.

Inocêncio Oliveira (PR-PE), segundo-secretário da Câmara, já utilizou as passagens para viajar com a família a New York, Frankfurt, Milão e Miami. Acha tudo tão normal que fez uma declaração onde diz tudo sobre a maneira como pensam não só os políticos, mas qualquer brasileiro médio que estivesse ali em seu lugar:

"A família é sagrada".

Sentiu-se abençoado com sua "boa ação" e pouco foi questionado.

O que não percebemos - políticos ou eleitores - é que nem a família, nem a namorada ou amigos foram eleitos. Quem foi, além de contar com tantas regalias, já dispõe de um salário suficientemente bom para bancar os seus.

O episódio das passagens ainda não acabou por aí. Novas votações virão e novos sapos deveremos engolir. Se os brasileiros não mudarem a si mesmos, os políticos continuarão os mesmos.

Thiago Mattos.

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terça-feira, abril 14, 2009

As novas paredes de Phil Spector

Na última Segunda-feira (13), o produtor e compositor Phil Spector, 69, foi condenado em Los Angeles pelo assassinato da ex-atriz Lana Clarkson, 40. O crime, ocorrido há mais de 6 anos atrás em sua casa, pode levá-lo a 18 anos de prisão.

Conhecido no mundo da música por sua engenhosa técnica de gravação chamada de "Wall of Sound" ("parede de som", em inglês), Phil Spector começou a trabalhar nos anos 60, gravando e produzindo artistas como John Lennon (no álbum "Rock'n'roll"), George Harrison ("All Things Must Pass"), Ramones ("End Of A Century") e Beatles ("Let It Be"), entre outros.

Também compôs clássicos como "You've Lost That Lovin' Feeling" (gravado por The Righteous Brothers), "Deep River - Mountain High" (Ike e Tina Turner) e "Be My Baby" (The Ronettes) - foi casado com Ronnie Ronette, a cantora principal do grupo.

Phil Spector já era famoso por seus métodos não-convencionais de gravação. A lenda de que ele sempre portava uma arma em estúdio para amedrontar os músicos que errassem, foi confirmada na página 125 da auto-biografia recém-lançada por Eric Clapton:

"Trabalhar com Spector foi uma experiência e tanto. Eu o achava um cara realmente doce, talvez um pouco excêntrico, mas o rumor era de que ele carregava uma arma, então eu estava um pouco desconfiado."

Um julgamento anterior em 2007 já havia sido anulado por falta de unanimidade do júri. Desta vez, as cinco mulheres que testemunharam, acusaram Spector de já ter lhes apontado uma arma antes, o que foi determinante para sua condenação. Contudo, a defesa do produtor ainda pretende recorrer do veredicto.

Nota de curiosidade: Phil Spector usava no terno um bottom mostrando seu apoio ao Presidente Obama, que dizia: "Barack Obama Rocks!" (algo como "Barack Obama é demais!"). Ao que tudo indica, Phil Spector deve mesmo conhecer agora as paredes de concreto.

Thiago Mattos.

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quarta-feira, abril 08, 2009

Desafio Gelado

Número brasileiros imigrando para o Canadá não para de crescer e a internet tem se mostrado uma aliada cada vez mais presente no processo.

English version - click here (thesequitur.com)


Todos os anos, várias éspecies deixam seu habitat natural e migram em busca da sobrevivência. Como peixes, pássaros e outros animais, o bicho-homem também se desloca pelo planeta com a mesma desenvoltura.

É assim que atualmente centenas de brasileiros deixam seu país tropical rumo às terras geladas do Canadá, buscando melhores condições de vida. Organizam-se através de blogs, comunidades do Orkut e grupos de e-mail, onde discutem prós e contras do processo de imigração, trocando figurinhas sobre a vida como ela realmente é por lá, no frio do Canadá.

O país é um dos que mais incentivam trabalhadores qualificados dispostos a aprender uma nova língua (francês ou inglês) e um outro estilo de vida, pautado por um inverno rigoroso que pode chegar a temperaturas negativas na mesma proporção que chegam as positivas no Brasil.

Imigrantes de diversos países já se tornaram cidadãos canadenses – correspondendo a 18% da população, em uma das maiores proporções já medidas (Censo de 2001). Cinquenta mil novos imigrantes estão sendo esperados este ano na província francófona do Quebec, uma das que mais recebem brasileiros.

Diferentemente do que ocorre em outros países como os EUA, onde o green card é obtido através de uma loteria e a imigração é delicadamente tratada como um problema, no Canadá o processo é ágil e transparente.

Pontua critérios como idade, formação acadêmica e experiência profissional, conforme informa o Ministério da Imigração e das Comunidades Culturais do Quebec (MICC): “É possível imigrar para Quebec com um visto de Residência Permanente, que permite viver e trabalhar legalmente, com a quase totalidade dos direitos de todos os cidadãos canadenses”.

Tal oferta já fisgou cerca de 10 mil brasileiros durante os últimos dez anos; o Brasil é um dos cinco países das Américas que mais contam com residentes permanentes no Canadá. Situada na província de Ontário, parte anglófona do país, Toronto se destaca como a cidade que mais recebe imigrantes.
É onde mora Gean Oliveira, que imigrou em 2003 buscando uma melhor qualidade de vida. Gean, assim como muitos brasileiros residentes no Canadá, mantém um blog, onde compartilha sua experiência, auxiliando tanto os que estão indo quanto os que já estão lá.

“Muitos querem uma receita pronta para vir morar no Canadá e esquecem de fazer o dever de casa que é pesquisar”, adverte ele. Nesse sentido, a Internet tem sido uma grande aliada. É uma maneira que os imigrantes têm de conseguir dar e ter apoio entre si.

“Passei diversos meses na internet analisando o que as pessoas falavam e faziam”, confessa Ingrid Lins, que imigra para Montreal em 2011 com seu marido. “Parecia um reality show. Acompanhar os blogs era emocionante, porque eles falavam de coisas que provavelmente eu passaria.”

Mas é preciso selecionar o que se lê por aí, de acordo com Soraia Tandel, uma brasileira que foi para o Canadá fazer um doutorado em 1994 e não voltou mais. Hoje, Soraia trabalha para o governo de Quebec, no MICC, e viaja pela América Latina promovendo palestras e orientando os pretendentes a novos imigrantes.

“Acho que tem uma parte válida desses blogs, eles ajudam muito com dicas sobre habitação, integração. Quem já passou pela experiência vai abrindo um pouco o caminho para o novo imigrante, mas também têm muitas informações que não procedem, é preciso peneirar.”

Seja como for, o fato é que a Internet desempenha hoje um papel fundamental no processo, facilitando o contato com a família e os amigos e simplificando a busca pela informação necessária a quem vai imigrar. Tais ferramentas eram impensáveis para quem já passou pelo mesmo desafio há menos de uma década.

Assim, a aventura de ir viver em outro país ganha um ar mais racional e menos aventureiro sem, é claro, deixar de ser um desafio. De qualquer forma, está aí uma boa oportunidade que, até mesmo por já contar com tantos brasileiros, tem tudo para dar samba.

Thiago Mattos.

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domingo, abril 05, 2009

15 anos sem Kurt Cobain

Há 15 anos, morria Kurt Cobain. Sua morte, até hoje controversa, lhe alçava ao posto de ícone do movimento grunge que nascia nos anos 90.

O cantor-guitarrista-compositor do Nirvana havia supostamente se suicidado com um tiro na boca após ingerir uma grande quantidade de heroína.

Sua carta de suicídio cita um verso de
My My, Hey Hey, a famosa música de Neil Young, que se tornou um verdadeiro hino grunge: "It's better to burn out than to fade away", ou, numa tradução livre, "é melhor queimar do que se apagar aos poucos".

Assim, Kurt não estaria apenas desaparecendo ou indo embora; mais que isso, estaria explodindo, não podendo mais suportar a dor de viver sem estar em paz consigo mesmo.

As cifras milionárias da venda dos discos e o sucesso estrondoso alcançado pelo Nirvana, pode ter, de algum modo, trazido mais angústia que felicidade para Kurt. Desde Bleach (1989) até os discos póstumos, como o MTV Unplugged New York (1994), quanto mais o Nirvana fazia sucesso, mais culpa, dor e desespero - menos paixão - sentia Kurt.

"O fato é que eu não posso enganar vocês, ou qualquer um, simplesmente não é justo para mim nem para vocês. O pior crime que eu posso pensar seria o de enganar as pessoas ao fingir que estou me divertindo 100%", diz seu bilhete suicida.

Contudo, sua morte ainda gera inúmeras questões. Por exemplo: a falta de impressões digitais na arma usada para cometer o suicídio. Afinal de contas, por que um suicída teria esses cuidados? Ou ainda: como poderia Kurt atirar em si mesmo após ter ingerido tamanha quantidade de heroína?

Seja como for, todas as suspeitas até hoje recaem sobre a viúva, Courtney Love. Considerada por muitos uma espécie de Yono Ono do grunge, Courtney é apontada, entre outras coisas, como a responsável pelo recrudescimento do consumo de drogas ingerido por Kurt, pelo distanciamento dele com os amigos e, logicamente, também pelo fim da banda.

Após a morte de Kurt Cobain, os dois outros integrantes do Nirvana – Krist Novoselic e Dave Grohl – seguiram seus próprios caminhos. O ex-baixista do Nirvana é hoje um ativista político e mantém um blog sobre política, música e cultura. Já Dave Grohl tem feito muito sucesso como o líder dos Foo Fighters.

Seja como for, é um bom dia para lembrarmos que já houve uma banda como o Nirvana. É um bom dia para lembrarmos de um cara que faz muita falta no cenário musical de hoje. Então aproveita: escolha qualquer música da banda e ponha para tocar - bem alto!


Thiago Mattos.

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quinta-feira, abril 02, 2009

Os pontos altos do G-20


English version - click here

O encontro do G-20 nesta semana em Londres merece nossa atenção.


Além da aprovação do maior plano econômico da história para sair da crise, com a injeção de um trilhão de dólares em dinheiro e uma série de outras medidas que devem representar cinco trilhões de dólares até 2010, os pontos altos do encontro foram outros.

O abraço de Michele Obama na intocável rainha Elizabeth II no Palácio de Buckingham causou alvoroço por lá. A polêmica se deu por causa de um gesto com a mão feito pela rainha, como se fosse abraçar Obama, quando então a primeira-dama norte-americana quis retribuir o gesto.

Segundo aquela norma, é proibido tocar a rainha – embora a realeza possa tocar seus convidados. Times, Daily Telepgraph e outros veículos de comunicação ingleses se incomodaram com a quebra de protocolo. Mas alguém ainda se espanta com a imprensa britânica?

Outra cena que vai ficar marcada foi a gravada pela BBC, quando Barack Obama rasga a ceda de Lula antes do início da cúpula, dizendo: "Ele é o cara... Eu adoro esse cara! Ele é o político mais popular da Terra!", e emendando: "Isso é porque ele é boa pinta".


Ao final do encontro, Lula ainda tirou um sarro: "Você não acha chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI?".

Bem, se Obama ama Lula ou se Lula é o mais popular da Terra eu não sei, mas "boa pinta"?!? Cá entre nós, Mr. President, pegou pesado, hein?

Thiago Mattos.

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quarta-feira, abril 01, 2009

Primeiro de Abril

O tema da verdade versus mentira sempre interessou a muitos filósofos e poetas.

Mario Quintana escreveu que a mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer; John Lennon cantava que tudo o que queria era a verdade.

Platão buscava a verdade essencial das coisas. A verdade platônica separou o mundo dos sentidos do mundo das ideias e fez escola entre os filósofos. Mais tarde, inaugurando a modernidade, Descartes estabelece que o ato de duvidar dos sentidos ou questionar verdades até então inquestionáveis – cogitar, por si só – já é uma prova da existência. Penso, logo existo.

O primeiro dia de Abril é lembrado em muitos países como o Dia da Mentira (Dia dos Tolos, em alguns lugares). Talvez seja um bom momento de refletir sobre o assunto. É possível vivermos somente de verdade? Afinal, qual a importância da mentira no mundo?

Em uma entrevista publicada recentemente no Estado de S. Paulo, o psiquiatra Flavio Gikovate pondera. Diferencia os dois tipos de mentiras e defende a ideia de que a verdade, quando maldosa e agressiva, nem sempre é a melhor opção.

Verdades e mentiras sempre fizeram parte da jornada humana, seja no cotidiano banal das vidas mais simples, seja nos grandes feitos da História. O tema é rico e universal.

O certo é que onde há homens, há dúvidas e há mentiras – Ah, e também há um pouco de verdade.

Thiago Mattos.

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