sábado, março 31, 2007

A capa de disco mais famosa do mundo completa 40 anos


No dia 31 de março de 1967, os Beatles vestiram-se como uma banda lisérgica em uniformes coloridos e espalhafatosos, posando para a capa do álbum mais importante de todos os tempos: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, que rompia com tudo o que havia sido feito até então.

Antes do álbum idealizado por Peter Blake (que rejeitava o som da banda e até hoje reclama de ter sido mal pago), as capas de disco exerciam a mera função de serem capas de disco; não tinham qualquer preocupação artística ou sequer comunicavam algo além da ficha técnica – nem mesmo continham as letras das músicas.

A partir do Sgt. Pepper's, o gênio criativo dos Beatles aflorava em sua expressão máxima, firmando-os como uma referência definitiva dos anos sessenta e de tudo o que viria depois. A obra transcendia a música, com suas inúmeras referências artísticas, políticas, intelectuais nos rostos ali emoldurados de figuras definitivas daquela e de outras gerações.

Circulava entre elas nomes como o mago Aleister Crowley, o poeta beat William Burroughs, o escritor Oscar Wilde, o guru indiano Sri Yukteswar Giri, a atriz norte-americana Mae West, o dançarino Fred Astaire, o músico Bob Dylan e muitos outros. Os próprios Beatles apareciam em estátuas de cera do museu Madame Tussaud ao lado da Banda do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta (livre tradução), como se aquilo tudo não fosse mesmo eles, mas um alter-ego da banda.

Um ano mais tarde, na primeira de muitas paródias feitas sobre o disco, Frank Zappa lançaria uma crítica corrosiva ao movimento hippie com o Mothers Of Invention no disco We’re Only In It For The Money. Mas muito ainda seria dito sobre aquela capa que até hoje provoca curiosidade e encantamento.

Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band marcou uma espécie de rito de passagem na trajetória musical da banda e o lançamento do disco, meses depois, lançava por terra qualquer dúvida sobre a qualidade e o papel dos Beatles na história da música mundial.

Thiago Mattos.

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sexta-feira, março 30, 2007

Sangue de Barata x Poesia & Cia. (parte um)

"Cada poema é uma garrafa de náugrafo jogada às águas...
Quem a encontrar, salva-se a si mesmo"

"Quem faz um poema salva um afogado"
Mário Quintana

Março foi o mês de aniversário do blog mais sanguíneo da rede. Passou-se um ano desde que finalmente brotou uma continuidade internética (por assim dizer) da vontade de pôr o dedo na ferida do mundo; o que outrora se manifestava num fanzine do qual eu fazia parte na transição dos milênios, o Poesia&Cia.


Através dele, um grupo de jovens organizava mensalmente sua concepção de um mundo melhor inspirado na poesia e em todas as manifestações artísticas que lhe fizessem companhia. O fanzine durou três anos, mas o que ele transformou em nossas vidas dura até hoje.

Durante esses anos, descobrimos poetas fora e dentro de nós e, da mesma forma, descobrimos o mundo. Construímos nossa visão particular da realidade, fizemos amizades duradouras, encaramos de frente nossa própria ignorância e, penso, aprendemos a ser gente.

De lá pra cá, pouco no mundo mudou – não fosse a Internet e seus efeitos. Não mudaram os governantes, nem os heróis, nem os inimigos. Vivemos hoje num tempo tão absurdo – e tão absurdamente longe – quanto aquele de uns dez anos atrás, onde não existiam palavras como blog ou download.

Como tudo na distância da memória fica mais doce: bons tempos aqueles. Quem compartilhou, lembra. Um tempo em que achávamos que poderíamos salvar o mundo com caneta e papel na mão. Agora sabemos que precisamos de, no mínimo, um teclado e um mouse. Ah, e é claro, da Internet.

Thiago Mattos.

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domingo, março 18, 2007

Educação brasileira

Foi-se o tempo de nos assustarmos com a queda de algum ministro. Esse cargo, outrora tão distinto, parece estar amaldiçoado por quem o deseja ocupar. Hoje em dia, os ministros estão caindo tão depressa que nem esperam tomar posse; vide o caso Balbinotti.

A política brasileira – ô assunto! – não tem sabido se reinventar. Raymundo Faoro, ao analisar a história política brasileira, teve a grande sacada de que todo esse descaso com o patrimônio público, grosso modo, explica-se pelo fato de confundirmos o público com o privado desde a coroa portuguesa, de nos apoderamos do que é público e o tratamos como se fosse privado, daí o nome do seu livro: Os Donos do Poder.

Fica fácil assim entender quando o presidente Lula fala que em educação estamos entre os piores do mundo. Nem precisamos de pesquisa na área para concluir o que percebemos assistindo a uma reunião de congressistas na Câmara ou no Senado, que sabem perfeitamente conjugar o verbo e acertar na concordância mandando o nobre colega para aquele lugar, mas não têm o mínimo de educação quando pensamos em civilidade, ética e respeito.

É Vossa Excelência pra lá, Vossa Excelência pra cá – um bando de mal-educados perigosos em potencial. O Ministério Público investiga um em cada oito deputados federais que podem ser cassados por crimes como caixa dois, compra de votos, uso da máquina pública, evasão fiscal etc. Mais de 12% da nova legislatura já nasceu podre e até o final dela muitas maçãs do mesmo cesto se estragarão.

A bela educação intelectual contrasta com pouca vergonha e nenhuma cortesia. Ali no Congresso Nacional todos falam ao mesmo tempo, um põe o dedo na cara do outro e vez por outra saem até no tapa. Falta o mínimo de decoro, da educação que não se aprende na escola.

E se nossas elites ridículas não tem exemplo algum para dar, que ao menos fiquem caladas. Pois quando um burro fala, o outro abaixa a orelha.

Thiago Mattos.

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quinta-feira, março 15, 2007

Cachaça versus Whisky

De vez em quando, escrevo uns artigos para um site bem legal dos EUA, thesequitur.com. Acabaram de publicar por lá um artigo meu sobre o tour do presidente norte-americano George W. Bush pela América Latina e sua parada estratégica no Brasil, que deu direito a conversas etílicas, samba, protesto de mulher pelada e revolta em São Paulo.
De qualquer forma, o interesse dos gringos no Brasil aumenta cada vez mais. Uma vez ouvi da boca do próprio Bill Clinton, numa palestra para estudantes da qual participei em Los Angeles, que os americanos deviam olhar para o exemplo do Brasil na questão do álcool, um combustível limpo, dizia ele - A Califórnia é o estado americano onde o ar é o mais poluído. A preocupação deles com o meio ambiente começava a virar uma coisa cool.
Pois bem, Bush (ex-alcólatra) passou por aqui e viu como se tira o etanol da cana - lá eles fazem o mesmo processo através do milho - mas pouco se avançou nas negociações concretas. Todo o alarde em cima de sua visita relâmpago, todo o absurdo do que foi semana passada aqui foi descrita no artigo publicado por lá.
Enfim, para quem quiser conferir o artigo, é só clicar aqui.

Thiago Mattos.

PS: Essas e muito mais fotos da visita de Bush no Brasil podem ser encontradas em http://knuttz.net/hosted_pages/George-W-Bush-in-Brazil-20070313

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sábado, março 10, 2007

Êta nóis

Desde a última quarta-feira de Cinzas, muitas coisas aconteceram. O ano começou de verdade e pra valer. Houve um recall de Toddynho nos supermercados, mais buracos se abriram na terra e o presidente George W. Bush veio ao Brasil tirar um sarro e dançar um samba, enquanto Lula vinha com suas metáforas sexuais de tudo que era jeito.

Não se falava em outra coisa, a não ser de etanol. No entanto, toda a conversa em cima da potencialidade do biocombustível brasileiro produzido através da cana-de-açucar pode trazer a reboque conseqüências mais nefastas que as altas taxas de importação cobradas pelos Estados Unidos. Nenhum jornal falou disso, exceto o The Guardian.

O jornal britânico denuncia o que há por trás da tão aclamada tecnologia brasileira, lançada durante o regime militar: o trabalho escravo dos cortadores de cana movendo as engrenagens do mega negócio verde e amarelo. E alerta para os abusos cometidos contra trabalhadores que mal fazem 410 reais por mês em condições calamitosas, morrendo aos montes por excesso de trabalho. É realmente muito grave.

Fica a lição: de que adianta termos um biocombustível “limpo”, ecologicamente correto, sermos líderes internacionais na sua produção, se essa liderança é conseguida de modo sujo e pérfido, agredindo básicos direitos sociais? Ainda há muito o que se descobrir.

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