Essa semana completa um ano que a palavra ‘mensalão’ passou a fazer parte do vocabulário da política nacional brasileira. Há exatos 12 meses, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) dava uma entrevista à Folha de S. Paulo declarando que o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava R$30 mil mensais a deputados de Brasília em troca de apoio ao governo. Dias depois da entrevista, Jefferson vai depor na Câmara e dispara uma metralhadora verborrágica de acusações para todos os lados do Congresso, poupando só o presidente.
Seu depoimento transmitido ao vivo pela TV se tornaria mais um espetáculo de entretenimento do que uma sessão do Conselho de Ética da Câmara e ficaria marcado na história política do país como o primeiro de muitos outros que virariam diversão das nossas tardes. Mais uma vez a podridão da política era destampada in loco e assim começava a crise política na segunda metade do governo Lula.
Entre as muitas revelações de Jefferson (que quase virou herói da pátria, não fosse sua própria confissão de envolvimento no esquema), havia a de que o dinheiro do ‘mensalão’ vinha de estatais e de empresas privadas e chegava a Brasília em malas para ser distribuído a parlamentares com a ajuda de um publicitário “carequinha”; suas acusações solaparam presidentes de partidos e quadros do alto escalão do governo. Hoje, dos 19 deputados suspeitos de envolvimento no esquema, 11 foram absolvidos, 1 aguarda julgamento, 4 renunciaram para não perder o mandato e 3 foram cassados, entre os quais, o ilustre deputado citado.
Com a crise, o Partido dos Trabalhadores, que antes de alcançar o poder passava incólume pela seara da corrupção, foi seriamente comprometido e maculado pelas denúncias, que aos poucos iam respingando no presidente. Os homens fortes do governo foram caindo um a um, porém o presidente-operário, que veio do povo e ali estava por ele, vem resistindo às mais de 20 tentativas de impeachment, à denúncias-crime da OAB, do Procurador-geral da República, do que vier. Especialistas políticos são procurados aos montes para explicar o “fenômeno” de um presidente que quanto mais apanha mais se fortalece. A um mês do início oficial da campanha política, pesquisas mostram que o presidente Lula é disparado o vencedor das eleições, caso fossem hoje.
Passou-se um ano e muitos estavam se perguntando até quando o povo brasileiro ia ficar quieto, assistindo a tudo passivo, moribundo como o homem do Planalto que sangra, sangra mas não morre. Fechando o ciclo desses 12 meses após o início das denúncias, manifestantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra resolveram invadiram a pau e pedra a Câmara dos Deputados numa demonstração clara que nem todo mundo está parado, sem fazer nada. O ato de cara foi repreendido duramente pela grande imprensa, que os chamou de vândalos ao invadir a Casa do Povo. Mas, cá entre nós, o Congresso já deixou de ser do povo há muito tempo.
Thiago Mattos.
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