segunda-feira, junho 19, 2006

Pequena homenagem a um grande humorista

Morreu na madrugada deste sábado um dos nossos melhores comediantes da ativa, o Bussunda. O humorista do Casseta & Planeta divertia as nossas noites de terça e estava na Alemanha cobrindo a Copa quando teve uma parada cardíaca fulminante depois de uma pelada.

Dono de um carisma raro e flamenguista doente, Bussunda tinha uma desenvoltura natural para fazer suas críticas políticas e sociais através do humor, era ao mesmo tempo ácido e suave. Tinha a sua genialidade e fazia fácil o que fazia: fazia a gente rir. Não precisava nem imitar o Lula ou o Ronaldo, a gente ria só de olhar para ele.

O mais popular dos Cassetas foi embora de maneira rápida e inesperada. A dor para os que ficam será imensa e a morte de uma persona do calibre de Bussunda tem um peso grande para uma sociedade que precisa de alegria; já está fazendo falta. Perder um humorista é perder muita alegria, deixar de dar muitas gargalhadas. Quando se vão os que nos fazem sorrir fica mais fácil chorar. Valeu, Bussunda!

Thiago Mattos.

PS: http://casseta.globo.com/
http://blogdoscassetas.globolog.com.br/

Marcadores: ,

segunda-feira, junho 12, 2006

Um negócio chamado futebol

Não precisamos mais esperar. Começou a 18ª. edição da Copa do mundo, desta vez na Alemanha. As mais importantes seleções de futebol entram em campo disputando, entre outras coisas, o título de melhor do mundo. Até aqui a disputa vai bem; o problema está entre as ‘outras coisas’.

Como todos sabemos, atualmente o futebol é um negócio altamente lucrativo. A profissionalização do esporte veio a reboque do patrocínio de empresas que se tornaram grandes corporações e movimenta hoje grandes somas de dinheiro. O jogador, que antes jogava pelo amor ao clube, hoje segue o faro de uma figura nova que virou titular: o agente ou empresário. O amor pela camisa agora tem um preço – e também um prazo. Os grandes clubes tornaram-se grandes empresas negociadoras de passes e o futebol, como um esporte puro, já não mais existe; tornou-se business.

Não há dúvidas que esse fenômeno esportivo não é privilégio do futebol, as grandes corporações entram no negócio em forma de acessórios esportivos, fabricando chuteiras, camisetas ou o que for. Qualquer outro esporte que necessite equipamentos sofre a mesma pressão. Mas o futebol tem um appeal particular.

De acordo com uma empresa de pesquisa britânica chamada Football Economics, calcula-se que 17% da população mundial acompanhará pela TV a final da Copa do Mundo; uma oportunidade de estratégia publicitária que as empresas de material esportivo aproveitarão muito bem para inchar suas receitas.

Chama a atenção também uma reportagem que saiu no Financial Times, a bíblia dos economistas, sobre um relatório de 36 páginas encomendado pelo G14 (agremiação que reúne os 18 mais importantes clubes europeus) sugerindo que a Copa do Mundo e da Europa seja realizada a cada dois anos. O relatório ainda ousa sugerir um aumento de 32 para 48 equipes presentes na Liga dos Campeões Europeus, o que faria a receita dos clubes europeus aumentar para 600 milhões de euros. Em contrapartida, os clubes brasileiros, que cada vez mais exportam seus craques, pouco tem a ganhar, já que o dinheiro girado por lá passa pouco por aqui.

Na realidade brasileira, o futebol ganha uma conotação especial e pode explicar muita coisa em termos sociológicos e antropológicos. Entretanto, devemos também atentar para os 'perigos econômicos' que usa o futebol como fachada. A comoção nacional que o futebol invoca e a identificação coletiva que ele gera merecem ser entendidas por menos fanatismo e aplicados em campos mais férteis, como a política, que acaba usando o futebol para alienar o povo e desviar as atenções. No final, o que rola em campo de mais importante torna-se secundário e passa despercebido pelos olhos de quem assiste aos jogos. Mas, e depois que o jogo acabar?


Thiago Mattos.

Marcadores: ,

terça-feira, junho 06, 2006

Cansados de esperar

Essa semana completa um ano que a palavra ‘mensalão’ passou a fazer parte do vocabulário da política nacional brasileira. Há exatos 12 meses, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) dava uma entrevista à Folha de S. Paulo declarando que o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava R$30 mil mensais a deputados de Brasília em troca de apoio ao governo. Dias depois da entrevista, Jefferson vai depor na Câmara e dispara uma metralhadora verborrágica de acusações para todos os lados do Congresso, poupando só o presidente.

Seu depoimento transmitido ao vivo pela TV se tornaria mais um espetáculo de entretenimento do que uma sessão do Conselho de Ética da Câmara e ficaria marcado na história política do país como o primeiro de muitos outros que virariam diversão das nossas tardes. Mais uma vez a podridão da política era destampada in loco e assim começava a crise política na segunda metade do governo Lula.

Entre as muitas revelações de Jefferson (que quase virou herói da pátria, não fosse sua própria confissão de envolvimento no esquema), havia a de que o dinheiro do ‘mensalão’ vinha de estatais e de empresas privadas e chegava a Brasília em malas para ser distribuído a parlamentares com a ajuda de um publicitário “carequinha”; suas acusações solaparam presidentes de partidos e quadros do alto escalão do governo. Hoje, dos 19 deputados suspeitos de envolvimento no esquema, 11 foram absolvidos, 1 aguarda julgamento, 4 renunciaram para não perder o mandato e 3 foram cassados, entre os quais, o ilustre deputado citado.

Com a crise, o Partido dos Trabalhadores, que antes de alcançar o poder passava incólume pela seara da corrupção, foi seriamente comprometido e maculado pelas denúncias, que aos poucos iam respingando no presidente. Os homens fortes do governo foram caindo um a um, porém o presidente-operário, que veio do povo e ali estava por ele, vem resistindo às mais de 20 tentativas de impeachment, à denúncias-crime da OAB, do Procurador-geral da República, do que vier. Especialistas políticos são procurados aos montes para explicar o “fenômeno” de um presidente que quanto mais apanha mais se fortalece. A um mês do início oficial da campanha política, pesquisas mostram que o presidente Lula é disparado o vencedor das eleições, caso fossem hoje.

Passou-se um ano e muitos estavam se perguntando até quando o povo brasileiro ia ficar quieto, assistindo a tudo passivo, moribundo como o homem do Planalto que sangra, sangra mas não morre. Fechando o ciclo desses 12 meses após o início das denúncias, manifestantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra resolveram invadiram a pau e pedra a Câmara dos Deputados numa demonstração clara que nem todo mundo está parado, sem fazer nada. O ato de cara foi repreendido duramente pela grande imprensa, que os chamou de vândalos ao invadir a Casa do Povo. Mas, cá entre nós, o Congresso já deixou de ser do povo há muito tempo.

Thiago Mattos.

Marcadores: , , ,

quinta-feira, junho 01, 2006

Anular resolve?

O desencantamento político reforçado pelo escândalo do mensalão e a falta de boas opções eleitorais são as principais causas de uma campanha que vem ganhando cada vez mais consistência: a campanha pelo voto nulo. Potencializada pela internet, através de blogs e e-mails, e robustecida por conversas de boteco, a campanha pelo voto nulo já foi eleita o assunto do ano (depois da Copa do Mundo, é claro), de modo que a Justiça Eleitoral, temendo uma onda gigante de anulação de votos, prepara o lançamento de uma contra-campanha publicitária sobre a questão.

O voto nulo, segundo o TSE, é apenas registrado para fins de estatísticas e não é computado como voto válido, ou seja, não vai para nenhum candidato. Ao contrário do voto branco, que ratifica o resultado eleitoral seja ele qual for, o voto nulo atua no sentido de expressar a insatisfação do eleitor em relação ao pleito. Fruto do exercício da cidadania e da democracia, o ato de anular o voto, quando feito em massa, pode até mesmo anular uma eleição.

Entretanto, há um ponto que sinto falta em qualquer conversa que apele ao voto nulo: quando pomos um abismo entre os dois lados do processo, candidatos e eleitores. Será que a mediocridade dos candidatos (seja no nível federal, estadual ou municipal) e a desilusão política em si não estão diretamente ligados com o nosso descompromisso enquanto eleitores e, por que não ousar, cidadãos? Já que quem ocupa o poder é um reflexo direto de quem ocupa a sociedade, como exigiremos bons políticos se não formos bons eleitores?

Precisamos avançar na discussão de forma crítica à nossa própria postura social, à nossa interação com o meio onde vivemos. A discussão pela anulação do voto é mais do que válida mas enquanto jogarmos lixo no meio da rua para não tirar o emprego do gari ou enquanto não lembrarmos em quem votamos na última eleição, pouco adiantará o voto, seja ele qual for. Precisamos acordar desse delírio tolo de que o mundo é lá fora e não nos pertence. O mundo é nosso e, até que percebamos o compromisso inegável que temos com ele, nenhuma mudança distante afetará dentro de nós.

Thiago Mattos.

PS: Na foto acima, Elza Burati durante depoimento na CPI dos Bingos

Marcadores: , ,