quinta-feira, junho 01, 2006

Anular resolve?

O desencantamento político reforçado pelo escândalo do mensalão e a falta de boas opções eleitorais são as principais causas de uma campanha que vem ganhando cada vez mais consistência: a campanha pelo voto nulo. Potencializada pela internet, através de blogs e e-mails, e robustecida por conversas de boteco, a campanha pelo voto nulo já foi eleita o assunto do ano (depois da Copa do Mundo, é claro), de modo que a Justiça Eleitoral, temendo uma onda gigante de anulação de votos, prepara o lançamento de uma contra-campanha publicitária sobre a questão.

O voto nulo, segundo o TSE, é apenas registrado para fins de estatísticas e não é computado como voto válido, ou seja, não vai para nenhum candidato. Ao contrário do voto branco, que ratifica o resultado eleitoral seja ele qual for, o voto nulo atua no sentido de expressar a insatisfação do eleitor em relação ao pleito. Fruto do exercício da cidadania e da democracia, o ato de anular o voto, quando feito em massa, pode até mesmo anular uma eleição.

Entretanto, há um ponto que sinto falta em qualquer conversa que apele ao voto nulo: quando pomos um abismo entre os dois lados do processo, candidatos e eleitores. Será que a mediocridade dos candidatos (seja no nível federal, estadual ou municipal) e a desilusão política em si não estão diretamente ligados com o nosso descompromisso enquanto eleitores e, por que não ousar, cidadãos? Já que quem ocupa o poder é um reflexo direto de quem ocupa a sociedade, como exigiremos bons políticos se não formos bons eleitores?

Precisamos avançar na discussão de forma crítica à nossa própria postura social, à nossa interação com o meio onde vivemos. A discussão pela anulação do voto é mais do que válida mas enquanto jogarmos lixo no meio da rua para não tirar o emprego do gari ou enquanto não lembrarmos em quem votamos na última eleição, pouco adiantará o voto, seja ele qual for. Precisamos acordar desse delírio tolo de que o mundo é lá fora e não nos pertence. O mundo é nosso e, até que percebamos o compromisso inegável que temos com ele, nenhuma mudança distante afetará dentro de nós.

Thiago Mattos.

PS: Na foto acima, Elza Burati durante depoimento na CPI dos Bingos

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