quarta-feira, maio 03, 2006

Um outro primeiro de maio


O primeiro de maio na Bolívia foi um pouco diferente. O presidente Evo Morales, cumprindo uma de suas promessas de campanha, determinou através do ‘decreto de nacionalização dos hidrocarbonetos’ que todas as etapas da exploração e comercialização do gás e do petróleo no país fossem nacionalizadas. As tropas do exército invadiram campos de produção, dutos, refinarias, incluindo unidades da Petrobrás para anunciar as novas medidas, acertando em cheio a cia. brasileira que tem investimentos de mais de US$1 bilhão.

Dentre os pontos frágeis do lado de cá está o consumo de gás natural do Brasil: cerca de 50% vem de lá. Outra medida aumenta a tributação sobre o gás de 50% para 82%. Além disso, o Estado boliviano assumirá o controle acionário das duas refinarias da Petrobras instaladas em Santa Cruz e Cochabamba através da estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), que além de assumir a comercialização de gás e petróleo, definirá condições, volumes e preços tanto para o mercado interno quanto para exportação. Caso as empresas não aceitem as medidas, terão de deixar o país em 180 dias.

O governo brasileiro foi surpreendido e considerou grave a decisão de Morales. Há uma semana, Lula, em gesto simbólico, manchava suas mãos no petróleo anunciando a auto-suficiência da Petrobras. Agora veio o balde de água fria.

A medida de Evo Morales (essencialmente de esquerda) não era nenhuma novidade, já que constituía uma de suas plataformas de campanha. Sua intenção é a de diminuir os lucros recordes que as cias. vêm registrando a cada ano. Segundo o decreto do governo boliviano, 82% dos valores arrecadados com a venda de gás e petróleo devem ir para o Estado, ficando apenas 18% para as empresas.

Analistas do mundo inteiro consideram a medida precipitada; possivelmente o povo brasileiro sofrerá tanto com o aumento do preço quanto com o racionamento de gás futuramente. Ao contrário do que muitos hermanos possam pensar, estamos muito longe de exercermos um papel imperialista na América do Sul. Milhões de pessoas vivem no Brasil em condições de miséria. O mais importante de toda essa discussão é tanto Brasil quanto Bolívia lembrarem que a união dos povos da América Latina é uma arma vital para enfrentar o real imperialismo que vem lá de cima e fortalecer cada um dos povos de cada um dos países.

Thiago Mattos.

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10 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ao inves de darmos as mãos e unimos forças,estamos nos distanciando cada vez mais, não é assim que se conquista a vitoria entre nações, deveremos nos unir e nos fortalecer. A America Latina necessita da força e da conquista dos seus habitantes, ainda estamos marchando lentamente para a soberania e a vitoria entre as nações.Vamos nos unir e crescer pra depois escolher a quem vender ou não nossos produtos e serviços.

1:36 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ok. Evo Morales na Bolívia e Hugo Chavéz na Venezuela dão calafrios a muitos por suas posturas de peitar geral, mas o que dizer de Tabaré Vasquez no Uruguai, Kirschner na Argentina e Michelle Bachellet no Chile? E olha que ainda nem perguntei do novo presidente do Peru - que pode ser o outro calafriento Ollanta Humalla... ahn? ahn?

3:28 PM  
Anonymous Anônimo said...

galera, o q rola e nao podemos eskecer é q o cara lá já tava sendo pressionado desde q assumiu> olha o q eu li: "Os grandes empresários de Santa Cruz, os fazendeiros, as multinacionais e até os narcotraficantes estão se unindo sob o teto da embaixada americana para derrubar o governo". Po, o cara lá já tava sofrendo muita pressao pra mostrar a cara, saca?
Bem, a matéria completa está em:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2304200601.htm

Abração, Thiago.

3:50 PM  
Anonymous Anônimo said...

Acho q o Lula tá reagindo bem, na conversa. Mas, cá entre nós, tava mais que na hora de alguém tomar uma atitude dessas. E se fosse aqui? O povo boliviano tá fudido, na merda. O Morales tem 80% de aprovação mas como disse o cara aí de cima tá tendo uma pressão fudida. Por que a moda não pega de uma vez e a gente também expulsa as multinacionais daqui?

4:43 PM  
Blogger Seu Cuca said...

PC,

acho que porque nós já passamos dessa fase (com sorte).

Eu sou a favor de uma medida enérgica do Itamaraty: é preciso enviar uma carta à Casa Branca pedindo que George W. desabone pública e imediatamente a cocaína boliviana!

5:23 PM  
Anonymous Anônimo said...

Galera, Morales está fazendo lá o que Lula tinha que fazer aqui.

A Bolívia tem 80% da população indígena e nunca tinha tido um presidente indígina. Quem será que dominava a Bolívia até agora? Uma elite branca, claro. É que nem aqui.

E quem é que ficou alarmado com essa tomada de atitude do nosso querido Evo? Quem são os analistas a que se refere nosso "sangue de barata"?

O que Morales faz é o que Chávez faz e o que kirschner fez: domar a economia com a política.
A política não pode ser engolida pela economia, pelo mercado.

Talvez a gente se foda nessa por causa da Petrobrás. Mas, em termos de princípios, Morales está certo. E, apesar de tudo, o Lula se dá bem com ele, entende o ponto do cara e vai negociar.

O problema é que a imprensa brasileira não tá acostumada a um negócio chamado democracia. E muito menos acostumada com um treco chamado confronto. Aqui no Brasil a gente sempre dá um jeito de evitar o confronto, sempre dando um jeitinho e nos acomodando.
Quando Jango partiu pro confronto democrático a gente viu no que deu.

A parada é essa: partir pra cima das corporações, se não elas dominarão o mundo mais do que já dominam. Ou vcs acham que o poder de barganha que uma multinacional tem hoje em dia na hora de negociar com o
Estado nacional é pequeno?

Uma empresa inglesa tinha privatizado a água da chuva na Bolívia!!!!!!!!!

Sugestão: vejam o filme "A corporação".

Quem chega na cena e toma de assalto?

6:53 PM  
Anonymous Anônimo said...

As palavras do jornalista que escreve na carta maior, Gilberto Maringoni, ainda sao as melhores e resubem bem:

"A maior parte da imprensa brasileira não pensou muito. Saiu logo atirando: “Brasil cria corvos na América do Sul” (Eliane Cantanhede) “, “Adiós Petrobrás” (manchete do Diário do Comércio), “Despreparo e improvisação” (Miriam Leitão) e “Golpe letal” (editorial do Estado de S. Paulo). Tudo leva a crer que estamos diante de uma declaração de guerra e da desapropriação unilateral de bens e propriedades do Brasil. Vigorou mais a bílis do que a racionalidade jornalística. Um exame detalhado no Decreto Supremo, assinado pelo presidente da Bolívia, nem de longe aponta para algo semelhante"

11:24 AM  
Blogger Seu Cuca said...

Hey

[...] "Morales partiu para Puerto Iguazú acompanhado de Chávez, que viajou ontem para a Bolívia para apoiar a decisão do governo local de nacionalizar os hidrocarbonetos e colocou a estatal de petróleo venezuelana PDVSA à disposição para ajudar em possíveis investimentos na Bolívia.

Além disso, funcionários da PDVSA já ajudam bolivianos em refinarias e campos de gás que eram controlados por estrangeiros, segundo funcionários da Petrobras." [...]

Por outro lado, em um caminho rumo à "união e irmandade de todo o continente", esta dobradinha de cavalheiros não parece estar querendo se destacar do resto do grupo? Que coisa de maricas é essa de pedir ajuda ao irmãozinho de um lado e enxotar o do outro? Não é do Chávez o termo "eixo do bem" - que não incluía o Brasil?

Me parece que o fato da "Poderosa" de Guevara não ter passado por aqui é mais emblemático do que parece...

1:32 PM  
Anonymous Anônimo said...

O principal ponto observado pelos brasileiros é a vulnerabilidade que temos em relação ao gás boliviano, nossa dependência, que faz com que de certo modo, possamos temer as consequências maléficas que a atitude de Evo possa repercutir ao Brasil. É fato que a Petrobrás não deixará de importar o gás boliviano, mesmo sobre nova taxação, o que pode ocorrer é o reajuste deste no mercado brasileiro, podendo abalar nossa tão "sólida" economia (hehehe).

Como ja foi dito aqui, analistas de todo o mundo condenam tal atitude, pejorativamente denominando como "mais uma vitória do populismo na América Latina". Pois é, as "Mirian Leitões" da vida encontram-se perplexas, com suas opiniões extremamente elitistas, à favor da economia, como se essa realmente refletisse a situação do povo diretamente, uma quadro que pode ser amplamente questionável no Brasil, atualmente.

Outro ponto extremamente duvidoso, é a crítica desse populismo. Seria uma falta falta de memória? aliás, esse é um dos grandes problemas da política, ou melhor, dos políticos! O populismo que se legitima pelas massas, mas atende ao capital internacional, como Juscelino, "o presidente bossa nova" é tão aclamado pela nossa rede globo, é o símbolo do desenvolvimento!! Agora, o "populismo" torna-se o grande mal da América Latina, pois vai de encontro aos interesses do capital internacional, afirmando a soberania de um povo.

Até que ponto isso seria populismo!?!?!?!? (pelo menos nos moldes pensados)

O que eu vejo na Bolívia é uma medida eminentemente de esquerda, que tenta diminuir a exploração internacional sobre esse país, tentando garantir melhorias significativas à sua população. Eis aqui um exemplo de governo para a melhoria da situação de vida da população, um governo comprometido com o desenvolvimento humano, e não puramente econômico, e que, acima de tudo, crê na soberania do seu povo, e não na rendição ao imperialismo.

Grande exemplo, mostrando que a união Latino-americana deve ser plurilateral.

7:52 PM  
Blogger aroldo camelo de melo said...

A Bolívia é um país pobre. A decisão do governo Evo Moralles sob o ponto de vista da interesse maior da população está certa. Porém, para o mundo capitalista, a decisão afronta regras. O capitalismo é assim: o mais forte arrasa o mais fraco.
Senore fui contra as regras do capitalismo selvagem. Somos um povo explorado e nos rebelamos contra a exploração a nós imposta. Pra ser coerente com minha ideologia, só posso dizer que Evo Moralles está correto. Talvez não houvesse necessidade de todo aquele espalhafatoso ato com o intuito de aparecer para a mídia internacional.
Aroldo Camelo de Melo
(visite meu blog: www.kafilaliteraria.blogspot.com

5:57 PM  

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