sábado, maio 01, 2010

Mr. America: a imperdível exposição de Andy Wahrol

Uncle Sam

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Foi quando teve seu primeiro trabalho como ilustrador comercial publicado na revista Glamour, em 1949, que um erro de datilografia transformaria de vez Andrew Wahrola em Andy Wahrol – um dos artistas mais importantes e influentes do século XX. Até o dia 25 de maio, o público brasileiro ganha a mais completa mostra de sua obra na exposição Mr. America, que a Estação Pinacoteca exibe na capital paulista.

O título faz menção a uma competição de fisiculturismo homônima realizada na costa oeste dos Estados Unidos e chama a atenção pelo que está por trás de toda a produção do artista. Filho de imigrantes da região em que hoje é o nordeste da Eslováquia e que se mudaram para os Estados Unidos fugindo da Primeira Guerra, Wahrol começou a conquistar seu espaço no mundo artístico em 1962, quando transformou algumas latas de sopas Campbell’s em obra de arte.

Graças a sua origem proletária e a difícil infância em Pittsburgh durante a Grande Depressão, Wahrol conseguia olhar para produtos de consumo banais, como uma sopa ou uma Coca-Cola, com outros olhos. “Uma Coca é uma Coca, e não existe dinheiro no mundo que possa comprar uma Coca melhor que a Coca que o mendigo da esquina está tomando. Todas as Cocas são iguais e todas as Cocas são boas. A Liz Taylor sabe disse, o presidente sabe, o mendigo sabe, e você também sabe”, disse Wahrol.

Em Mr. America, há ainda a chance de ver as famosas fotografias polaroids de grandes personagens como Liza Minelli, Grace Jones e Dennis Hopper; os quadros de Mao Tsé-Tung, Ronald Reagan e Marilyn Monroe; as telas da sopa Campbell’s em diferentes sabores, e muito mais.

Campbell's Soup

Campbell's Soup

É interessante lembrar que quando uma das pinturas das latas de sopa Campbell’s foi arrematada em 1970, por 60 mil dólares, aquele era o mais alto preço já pago para a obra de um artista até então. Em 1986, sua obra 200 One Hundred Dollar Bills é vendida em um leilão por 385 mil dólares, estabelecendo um novo recorde para seu trabalho.

Wahrol pode ser esmiuçado, admirado e compreendido como nunca na exposição, que além das obras, traz também um grande referencial explicativo para cada peça. Um visitante atento terá uma super aula de quem foi Andy Wahrol e por que esse nome tem tanto peso na arte moderna.

Certa feita, o escritor Glenn O’Brien perguntou ao artista se ele acreditava no sonho americano. Ao que Wahrol respondeu: “Não. Mas acho que podemos ganhar muito dinheiro com ele”. Essas e muitas histórias vão costurando toda a exposição, situando cada momento da vida artística de quem criou um verdadeiro império artístico.

Andy Wahrol produziu filmes, gravuras, instalações, empresariou uma banda, publicou revistas, fez de um tudo. Usou e abusou das telas serigráficas e dos estênceis. Seu interesse era a cultura popular – abordava o sexo, a morte, o poder e as celebridades. Wahrol profetizou que no futuro todos teriam seus 15 minutos de fama.

“Sua vida e obra exemplificam as tensões, contradições e crenças ideológicas que definem os Estados Unidos”, escreveu o curador Philip Larrat-Smith. Ao se reinventar constantemente e elaborar uma persona pública provocadora, Wahrol promovia a si mesmo e a sua arte. Fazendo isso, ele se tornou um espelho de seu tempo e incorporou a lógica do sonho Americano.

Tudo isso e muito mais pode – deve – ser saboreado em Mr. America. Imperdível.

Thiago Mattos

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