quinta-feira, agosto 30, 2007

O estranho e o familiar

Dois ícones de nossa época foram retratados de um modo curiosamente provocante.

O artista plástico Jonathan Yeo, filho de um deputado conservador britânico, compôs um retrato de George W. Bush com colagens de imagens pornográficas. Quem olha de perto, vê ali muita coisa explícita. Mas sabemos que não é preciso ir até a Soho londrina para conferir toda a pornografia de Bush.


Pricilla Bracks, em sua obra
"Bearded Orientals: Making the Empire Cross" (Orientais Barbudos: Representando a Cruz do Império), retrata Osama Bin Laden como Jesus Cristo e ao mesmo como a Virgem Maria usando uma burka.


Ambas as obras polemizam com o senso comum e, mais que isso, nos fazem exercitar o famoso preceito antropológico sugerido por Clifford Gertz: é preciso estranhar o familiar e familiarizar-se com o estranho, na tentativa de entender o outro e de compreender a nós mesmos.

Mais que contestar, censurar ou rir da piada, vale exercitar.

Thiago Mattos.

Marcadores:

domingo, agosto 12, 2007

Yes! Yes! Yes!

Ela tem talento, um penteado ousado, uma voz maravilhosa e muitos problemas. Amy Winehouse vem ganhando destaque por conta de seu novo álbum, Back to Black, e também por seu estilo de vida que parece seguir direitinho a cartilha suicida do rock’n’roll.

A cantora inglesa, que vez por outra está nos tablóides, mais uma vez foi notícia. Após passar três dias misturando vodka, whiskey, ecstasy e remédio para cavalos, Amy foi parar num hospital em Londres na última quarta-feira, após suspeita de overdose. Mas, ao que tudo parece, ainda teima em ir ao Rehab (clínica de reabilitação) e se tratar.

Apesar do seu estilo de vida perigoso e problemático, que a inclina a uma postura rebelde e blasée diante do mundo – seja quando manda Bono Vox calar a boca, dá declarações polêmicas sobre suas condições de saúde, ou sai correndo de um palco para vomitar – o que mais impressiona nessa jovem de 23 anos é, sem dúvida alguma, sua música.

Amy Winehouse conseguiu de maneira espontânea misturar suas influências de hip hop, R&B, soul e jazz com letras desesperadas, que falam de amor, traição, drogas e sofrimento. Tudo de um modo incrivelmente natural e sincero. Quem a vê, se encanta. Quem a ouve, se apaixona.

Mas Amy está seriamente ameaçada por seus problemas com as drogas, que a levam toda hora ao seu limite. Na letra de sua música mais famosa, Rehab, ela expõe justamente sua teimosia em não ir para a clínica se tratar – No! No! No! – insiste o refrão que evidencia um dos grandes temas da sua vida.

Seu comportamento maníaco-depressivo a impede de tomar medicamentos e se tratar. Seu futuro parece estar mais curto. Mas Amy parece não se importar muito com nada. O que, realmente, é uma droga!

De nossa parte, fãs da boa música e dos bons artistas, o que podemos fazer é mostrar o quanto nos importamos. Quanta falta nos faz um Kurt Cobain ou um John Bonham, que morreram por causa da mistura indigesta entre drogas e depressão. Devemos aprender por esses péssimos exemplos.

Para ser mais exato, para uma menina judia tão charmosa e brilhante, não vale a pena viver e morrer como Billie Holiday. Não precisamos disso. Vamos aproveitar e mudar a letra – Yes! Yes! Yes!

Thiago Mattos.

English version

Marcadores: , , ,

Amy Winehouse

A seguir, dois vídeos da cantora inglesa mais cool do momento. Vale a pena conhecer e se encantar (para assistir, pause a Rádio Sangue Bom):

Amy Winehouse - Rehab


Amy Winehouse - You know I'm no good

Marcadores: , ,

domingo, agosto 05, 2007

Me deixa falar mal do homem, vai...

A tragédia acontecida no dia 17 de Julho poderia ter sido evitada, caso algumas providências fossem tomadas antes da fatalidade. Houve uma soma de erros e precisamos consertá-los. Muitos são os responsáveis, mas é preciso cuidado com quem anda apontando dedos a esmo – para que lado for.

É claro, evidente e vergonhoso como setores da mídia estão utilizando politicamente 199 mortos – inclusive o piloto, que tinha 27 anos de profissão e mais de 13 mil horas de vôo, também está sendo culpado – para uma tática que tenta atingir a todo custo o Palácio do Planalto mas, ironicamente, nunca funciona. É o efeito teflon que não deixa nada de ruim grudar à imagem do presidente Lula (vide a última pesquisa Datafolha e o peso da opinião dos que não viajam de avião).

Por outro lado, há também os cegos do castelo. Inexauríveis defensores do presidente, do seu partido e da sua política, seja ela qual for, que assusta mais do que aqueles que estão sempre a atacar.

É impressionante como alguns, faça chuva ou faça sol, aconteça o que acontecer, já se colocam de antemão a favor de Lula. Isso dá medo.

O sanguedbarata não tem (nem quer ter) nenhuma ligação partidária ou compromisso com qualquer doutrina, senão com a sua própria consciência de livre-pensador. Por isso, assusta-se com as incansáveis defesas que o imbatível presidente recebe, de modo que chega a ser agressivo a quem quer que tente o atacar.

Ouso a sugerir que funciona como um patrulhamento. Se você fala mal do Lula, você não é legal, você é da direita, você não gosta de trabalhadores, você é feio e bobo! Gente, o que é isso? Não podemos engolir tudo que nos empurram e defender o governo a todo custo. Vamos pensar que às vezes ele está errado, ok? (Tudo bem, muito mais que "às vezes").

Assim, o sanguedbarata quer e irá manter sua independência. Por isso, não se assustem se daqui a alguns dias este blog defender alguma ação do governo (como já fez algumas vezes), nem se voltar a atacá-lo quando achar necessário. Me deixa falar mal do homem de vez em quando, vai...

Da mesma forma, precisamos ter cuidado com as críticas mal-intencionadas, que só querem tirar proveito da situação e não trazem nada de saudável à discussão. Mas dessas já sabemos todos de onde vêm e, logo, podemos nos defender melhor.

Viva a liberdade!

Thiago Mattos.

Marcadores: , ,

sexta-feira, agosto 03, 2007

Esse é o Brasil


Às vezes parece que o Brasil não existe, como se fosse um país imaginário onde o que alguém pensasse de mais absurdo acontecesse.

Imagina só se tivéssemos um terrível acidente de avião há menos de um ano, envolvendo um jato Legacy e um Boeing da GOL causando um estrago de 154 vidas e tudo ficasse por isso mesmo. Se for possível – por mais absurdo que pareça – imagine que o transponder do Legacy havia sido desligado pelos pilotos. Imagina que eles, cidadãos norte-americanos, deixassem o país e voltassem aos EUA como vítimas.

Agora, imagina se desde então começasse aquilo que se convencionou chamar de “crise aérea” e “caos nos aeroportos”... Se os Controladores de Tráfego Aéreo se amotinassem revelando suas precárias condições de trabalho... Se as companhias aéreas começassem a vender cada vez mais passagens, causando overbooking e recordes de faturamento.

No meio de tantos absurdos, não seria demais imaginar também um ministro dizendo que o caos nos aeroportos é sinal de prosperidade. Nem tampouco uma ministra sugerindo a quem esperasse nas longas filas: “relaxa e goza”.

Não desista: imagine se chegando em sua casa no começo da noite de uma terça-feira do mês de Julho, você escuta da TV aquele chamado que te dá medo, dizendo que algo horrível aconteceu. Então, eles te informam a tragédia no Aeroporto de Congonhas (SP), onde nenhum bombeiro pode entrar no avião que arde em chamas contra um prédio onde pessoas trabalhavam e o risco de mais mortos é grande.

Imagine que após esta trágica notícia, o canal volte à sua programação normal com as novelas e nenhuma outra rede de TV aberta cubra a tragédia – o Pan certamente daria mais audiência. Imagine que você não tenha TV à cabo.

Então, depois de toda aquela angústia você demoraria um pouco até entender o que se passou: um Airbus A320 da TAM havia se chocado contra o prédio da própria empresa aérea, TAM Express, do outro lado da curta pista de pouso de Congonhas, matando 199 pessoas no maior acidente aéreo da história do país.

Haveria muita coisa para se imaginar, mas seria difícil entender: a condecoração de funcionários da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) logo após a tragédia, as comemorações obscenas de um assessor especial do presidente, a demora de 3 dias para um pronunciamento do Presidente Lula à nação, o próprio aeroporto e a falta do grooving, a completa falta de responsabilidade da TAM (que pouco se fala), a culpa no piloto morto e a procura por bodes expiatórios, o sensacionalismo criado e a falta de qualquer respeito ao valor da vida humana.

Mas não imagine mais, esse país existe. Esse lugar onde tudo de mais absurdo pode acontecer - e acontece - existe.

Esse é o Brasil.

Thiago Mattos.

Marcadores: