sábado, dezembro 30, 2006

Feliz tudo de novo!

Por mais que se tentasse impedir, e antes que pudéssemos perceber, o ano de 2006 já era. Foi embora levando sonhos, ilusões e, para muitos até, esperança. Ficará conhecido, entre outras coisas, como o ano que enforcou Saddam Hussein, reelegeu Lula e fechou com chave de ouro, com uma súbita onda de violência na cidade do Rio de Janeiro.

2006 já era, mas deixa perguntas. Será que a execução de Saddam Hussein – espetáculo sádico de um mundo que deseja acabar com a violência e fazer justiça dando exemplos hipócritas e sanguinários – desviará a atenção das mortes diárias no Iraque, ou apenas as aumentará? Quanto tempo ainda levará antes que os senhores da guerra decidam deixar o país à própria sorte dos iraquianos? Com quantas guerras se faz uma paz?

Depois de tantos escândalos políticos, do povo desenganado com seus governantes, de mais do mesmo, será que a reeleição de Lula mudará algo substancial no destino do país ou sua maneira curiosa de governar – que vem misturando coalizão e colisão – não aprenderá com os erros do passado? O que vem pela frente: mais sujeira ou uma melhora nas consciências? Com quantos escândalos se faz um político?

A cidade do Rio de Janeiro, a menos de uma semana para terminar o ano, sofreu com inúmeros ataques de violência onde ônibus foram queimados e pessoas foram mortas. Mas, a vida na cidade continuou normalmente, como se nada tivesse acontecido. Por mais que a violência chocasse, no fundo, para quem era apenas expectador, pouco se espantou. Tudo seguiu como se a violência fizesse parte do nosso cotidiano – e o pior é que realmente faz. Com quantas mortes se tomam providências?

Fica mais uma pergunta: se foram as tais milícias – como tanto se tem dito – que expulsaram traficantes dos morros cariocas, e se elas são formadas por policiais, agentes penitenciários, bombeiros, ou seja, agentes do Estado que deveriam combater a isso tudo como agentes do Estado e não encapuzados, por que o Estado, que os emprega e portanto tem poderes para fazer o mesmo de uma maneira legítima, não o faz? O que, se não vontade política, ainda falta para isso acontecer?

Mesmo que tenham ficado perguntas sem respostas e muitas por responder, 2007 já está aí e não adianta mais fingir que não é com a gente. Que este ano – que de novo não tem nada – traga a todos nós um pouquinho mais de respostas para que aos poucos as melhoras possam vir. Enquanto isso, deixa eu cantar: Get upa! Get on up!

Thiago Mattos.

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segunda-feira, dezembro 18, 2006

A personalidade do ano


Segundo a edição desta semana da revista TIME, fui eleito a Personalidade do Ano. Está lá escrito para quem quiser ler no editorial: “Por tomarem as rédeas dos meios globais, por fundarem e forjarem a nova democracia digital, por trabalharem de graça e superarem os profissionais no jogo deles, a Personalidade do Ano da TIME é você”.

Eu? Sim, evidentemente não apenas eu quem vos escreve – Thiago Mattos – mas muitas facetas que compõe esta pessoa chamada de “você” pela revista, da qual fazem parte blogueiros motivados apenas pela paixão e desejo de colaborar socialmente; contribuintes do YouTube, que mostram do que é feito o mundo com os mais diversos tipos de vídeos, que podem ter usos múltiplos na democratização da informação; usuários de redes como MySpace, que podem divulgar suas canções; leitores interativos da Wikipedia, enciclopédia virtual e livre, onde todos podem editar; nos podcasts e em muitos outros exemplos trazidos juntos com o que os consultores do Vale do Silício chamam de Web 2.0, a revolução da Internet.

Na minha modesta e agora importante opinião – endossada pela TIME – é por aqui que podemos de forma mais ativa e pungente atuar socialmente, seja na denúncia aos escandalosos aumentos de salários que os nossos parlamentares se auto-concedem ou nos eventos menores, mas não menos importantes, como a pouco-vergonhosa inauguração de uma linha do metrô que não funciona, como a estação Cantagalo em Copacabana.

Aqui, neste imenso latifúndio chamado Internet, com nosso humilde trabalho de formiguinha – voluntário e impagável – nós, usuários-contribuintes, mostramos que fazemos parte do mundo como ele está, queremos ter nossa voz ecoada por termos algo a dizer e fazemos por onde torná-la ouvida. Essa explosão de produtividade e inovação, como destaca a revista, está apenas começando e é uma oportunidade única para fazermos – de cidadão a cidadão – um novo modo de compreensão e interação social.

Por isso tudo, parabéns a mim que escrevo e a você que lê, comenta e interfere nisso tudo, mostrando que, mesmo que ainda não percebamos a dimensão disso tudo, algo está mudando no jeito de nos comunicarmos. É ou não é, malandro?

Thiago Mattos.

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segunda-feira, dezembro 11, 2006

Pinochet ainda estava ali

A comemoração de aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos ganhou esta semana um irônico presente: a morte do ditador chileno Augusto Pinochet. Sua ascensão à vida política no Chile, todos sabem, veio de forma sanguinária como foi seu regime militar de 17 anos. Seu golpe de estado, em 11 de Setembro de 1973, bombardeou La Moneda e matou o presidente democraticamente eleito Salvador Allende, que começava um governo marxista no país.

As prisões, torturas e mortes foram alguns de seus crimes de violação aos Direitos Humanos; mais tarde se descobriu também o que estava por trás do “progresso econômico” chileno, que muitos economistas ainda hoje elogiam pelas privatizações e abertura ao capital estrangeiro. Seu enriquecimento ilícito e envolvimento em corrupção nos ajudam a entender sua emblemática frase dita após sair do poder: “Nenhuma folha se move no Chile sem que eu a mova”. E, realmente, parecia ser assim mesmo anos depois.

Estive no Chile há um ano atrás e, mesmo depois de Pinochet e antes de Bachelet, senti uma atmosfera pesada em Santiago. Não sabia exatamente se eram os carabineros – polícia chilena – vestidos como oficiais da SS nazista e me assustando; se era a população andando de cabeça baixa, sequelada pela dor de uma ditadura que parecia ainda existir; ou se era simplesmente o melancólico frio andino. Mas havia algo sombrio no ar que a bela vista da Cordilheira dos Andes não podia esconder.

Senti, de uma forma mais séria que sinto no Brasil, as marcas impressas no povo que sofreu com uma ditadura de quase duas décadas e que parecia viver numa repressão calada e de forma consciente disso. Participei de congressos organizados por vítimas e parentes de vítimas da ditadura. Vi como eram organizados os protestos nas ruas geladas da capital. Vivi a vida de um chileno que sai de noite para jogar xadrez nas praças. Mesmo anos depois, parecia que Pinochet ainda estava ali. E, na verdade, estava mesmo ali, movendo as folhas.

Espantosamente, muitos simpatizantes ainda foram levar flores e chorar a morte do homem que deu um mau exemplo não somente à América Latina, mas ao mundo. Fica agora a esperança de que a História faça justiça e o lamento de que a morte de Pinochet tenha evitado sua condenação pelos inúmeros crimes de violações aos Direitos Humanos. Direitos estes que ainda passam pelas bocas dos homens de forma sarcástica, chamando de “direito para bandido”, esquecendo o que já foi cometido antes de sua Declaração Universal, e mesmo depois dela. E o quanto custou para que esses Direitos fossem reconhecidos e o quanto ainda os custa guardar.

Thiago Mattos.

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terça-feira, dezembro 05, 2006

Tudo é passageiro

Quem pega ônibus no município do Rio de Janeiro tomou um susto nesta segunda-feira com o aumento de dez centavos no preço das passagens, mas pelo o que percebi – ao contrário do que aconteceu em São Paulo há uma semana atrás – pouca gente reclamou ou fez algum protesto, o que é bem normal para os passivos cariocas.

Há pouquíssimo tempo também, os preços das passagens do metrô do Rio aumentaram e a reação da população bestializada foi a mesma: nenhuma. Taí um bom motivo para o seqüestro de um ônibus, ahn?

O incremento das despesas no bolso dos trabalhadores e estudantes aumenta ainda mais, e essa máfia, que são as empresas de ônibus com suas concessões mal avaliadas, onera de forma obscena a parte mais fraca da nossa ridícula pirâmide social, que mal tem forças para lutar, dispersada pelas telenovelas e afins.

De qualquer forma, as coisas continuam como vão, aqui ou na Venezuela – onde o presidente Hugo Chávez venceu de forma esmagadora as eleições daquele país. A impressão que fica, ainda que as eleições venezuelanas interesse a pouca gente, é a de que salta aos olhos o descontentamento dos venezuelanos com a política neoliberal de antes, e que apesar de todos os defeitos do cara-que-peita-os-EUA, ele ainda é o cara que peita os EUA, ainda que isso seja feito com uma retórica falha, com direito a fusquinha vermelho e tudo.

De um lado, o ex-jogador de beisebol que sonhava em jogar na terra do diabo; de outro, o inimigo declarado de um regime cheio de inimigos. Seja como for, ficou claro que a população venezuelana ainda o quer no poder apesar dos pesares. No final das contas, para quê mudar – pensam alguns – se tudo é passageiro, menos motorista e cobrador?

Thiago Mattos.

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