quarta-feira, janeiro 24, 2007

"Chame o ladrão"

A piada com as fotos dos policiais cariocas tiradas com turistas estrangeiras em poses de simulação de prisão e violência não teve a menor graça – a não ser para os turistas que riram de nós. A quase inexistente credibilidade que gozava a instituição da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PM-RJ) já devia ter atingido a escala negativa há muito tempo. Mas tudo de ruim que o histórico policial guarda, de um modo ou de outro, sempre tenta se superar.

Não bastasse tudo o que certos policiais militares daqui vem aprontando – participação em chacinas, corrupção ativa e passiva, envolvimento com o tráfico, conivência com jogos ilegais, entre muitíssimos outros maus exemplos de como não se deve agir – agora vem mais essa. Fotos lamentáveis de policiais que não valem o colete que usam nem as balas que carregam.

Certamente, não podemos julgar todos os membros da instituição como corruptos, assassinos e facínoras. Obviamente, sabemos das suas dificuldades no trabalho, da pouca remuneração, disso tudo e muito mais. Mas o fato é que nenhum dos argumentos justifica o comportamento desse tipo de agente que deveria proteger a população e não amedontrá-la. Além disso, já está mais que claro que a instituição – ainda que se conte as raras exceções dos bons policiais – está falida como um todo.

Alguém ainda acha estranho quando vê um carro da PM do Rio passando com os quatro vidros abertos onde canos de fuzis e metralhadoras estão expostos por todos os lados, ou já acham que isso é mesmo normal? Onde já se viu tanta truculência, tanto medo de polícia, de estar perto de um, de sempre se perguntar: “será que esse cara é mesmo um deles ou só está com o uniforme?”.

Tenho vergonha da polícia que há no meu estado, entre outras coisas. Vergonha, revolta, medo, raiva, tenho muitos sentimentos sobre os absurdos que envolvem a PM-RJ e sobre os absurdos com os quais ela se envolve. É uma pena que os poucos bons policiais de lá não sejam capaz de difundir seu exemplo.

Thiago Mattos.

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domingo, janeiro 21, 2007

A suiça existe?

A edição do Fórum Social Mundial (FSM) deste ano acontece até o dia 25 de Janeiro em Nairóbi, Quênia. O FSM, que generosamente muda de endereço a cada ano, acontecerá pela primeira vez em solo africano, desde sua criação em 2001, numa celebração de resistência e diversidade cultural.

Durante o encontro, que se opõe ao famigerado Fórum Social Econômico, serão discutidas soluções imediatas para o caos social conseqüente da globalização e da onda política neoliberal. As estimativas chegam a prever cerca de 150 mil pessoas na edição do FSM deste ano, dentre elas intelectuais, artistas, articuladores civis e políticos de toda a parte comprometidos com as mais diversas causas sociais.

Quase ao mesmo tempo acontecerá em Davos, Suíça, o Fórum Econômico Mundial, este até o dia 28 de Janeiro. Enquanto Davos recebe a elite financeira e política do mundo – chefes de Estado, economistas, donos de bancos, empresários –, Nairóbi acolhe todo o resto que sofre as com as conseqüências das decisões dos frequentadores do primeiro, ou seja, todos os que não são donos de bancos, presidentes e empresários ambiociosos (desculpe a redundância).

É mais ou menos assim: quem fica de fora em Davos poderia ir reclamar em Nairóbi, deu pra entender? É fácil. Vamos pensar nas pessoas que vão a cada uma das festas. Angela Merkel, Tony Blair e Mahmoud Abbas vão a Davos; Martinho da Vila vai a Nairóbi; Lula que sempre ia aos dois, este ano só irá a Davos; Hugo Chavéz, rejeitado em Davos, vai a Nairóbi. Eu, que não vou a nenhum dos dois, se pudesse escolher iria a Nairóbi. E você, cara pálida, em qual deles gostaria de estar?

Thiago Mattos.

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domingo, janeiro 14, 2007

Alguém entende a política brasileira?

A iminente eleição que ronda o Congresso Nacional representa bem como nossos atuais políticos estão cada vez mais iguais entre si. Ambos os candidatos que disputam a presidência da Câmara em Brasília, o petista Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o ex-comunista Aldo Rebelo (PCdoB – SP), defenderam abertamente o aumento dos subsídios dos parlamentares em troca de votos, recentemente. Ambos os candidatos são insípidos e insipientes; não há ali qualquer traço de uma política feita com algum propósito, senão a da manutenção de um certo grupo no poder. Que mal lhe perguntem a vocês que acompanham, mas alguém estranhou o apoio do PSDB a um candidato petista?

Cá entre nós, mesmo que toda essa politicagem mesquinha pensada em curto prazo e feita com a ideologia do fisiologismo tenha nascido antes do chamado “presidencialismo de coalizão” – nosso contemporâneo – suas raízes na atual política brasileira não param de crescer. Como então interromper esse ciclo de donos e mais donos do poder, que tão logo tomam posse não podem mais desgrudar de seus privilégios e confundem constantemente o público com o privado?

O interesse único e imediato dos partidos tem sido de longa data o mesmo: ocupar os espaços políticos, conseguir pastas e ministérios, nomeações e o que mais valha a sobrevivência política. Entender esse nosso complexo sistema de mil partidos – todos partidos por dentro – não é de forma alguma tarefa fácil. Leva tempo, paciência e dá desgosto quando se começa a entender.

De qualquer forma, podemos pensar que os políticos vêm do seio da sociedade (no nosso caso, da sociedade brasileira, onde também pertencemos); compartilham o mesmo sistema de valor que nós e, portanto, se há algo errado com eles, também devemos considerar que talvez haja algo de errado conosco e com esse imenso lugar chamado Brasil.

Até aqui, isso não é novidade para ninguém, qualquer criancinha sabe. Mas o que precisamos ter em mente é que, se por um lado os políticos brasileiros têm uma enorme responsabilidade na condução do destino do nosso país, por outro, nós cidadãos brasileiros – que não vamos sequer a eleição de síndico do prédio – também temos. Cabe agora a cada um de nós, ao invés de reclamarmos, pensarmos como.

Thiago Mattos.

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terça-feira, janeiro 09, 2007

Foi-se o tempo de olhar no buraco da fechadura

A determinação judicial que bloqueou o acesso de 5 milhões de internautas brasileiros ao YouTube é mais que ridículo, é uma vergonha iniciada por uma modelo-manequim-ex-de-jogador sem-vergonha, talvez não por ter dado publicamente para seu namorado numa praia da Espanha, mas por ter imposto na Internet brasileira uma censura digna do Chairman Mao. Se bem que a comparação chinesa nem precisa ir tão longe – alguém se lembra do que aconteceu com o governo chinês e a Google recentemente?

A exposição da pobre moça, que foi pega de calça curta, tem sido uma das notícias mais comentadas da semana. Agora, imaginem se pega a moda da censura na Internet. Sites sendo bloqueados, blogs sendo filtrados, alguns liberados, e-mails vasculhados... Realidade distante, será? Do jeito que a coisa vai, fica difícil de saber.

Polêmicas sobre o uso da Internet e da divulgação de material produzido na rede tem sido uma constante e que, ao que parece, continuará sendo enquanto for discutido hipocritamente. O que chama mais a atenção neste caso específico é que não houve qualquer invasão de privacidade da dita-cuja, mas, ao contrário, uma evasão.

Foi ela (vocês sabem quem) que resolveu deliberadamente se expor publicamente para quem quisesse ver, filmar ou tirar fotos, virando notícia na Espanha, no Brasil e em todo canto. Depois ainda teve a cara-de-pau de abrir um processo judicial em cima de sua própria falta. Foi-se o tempo de olhar no buraco da fechadura. Agora, quem precisa dos paparazzi, quando todos querem se mostrar?

Thiago Mattos.

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segunda-feira, janeiro 01, 2007

Sobre o enforcamento (ou "A violência é tão fascinante")

Saddam Hussein, tirano sanguinário foi enforcado.
Corda no pescoço, Alcorão na mão, Maomé na boca.
Sua morte foi cruel, pra ele não se podia dar sopa.
Tinha que pagar com a própria vida as que havia tirado.
Dar seu sangue para compensar o sangue derramado
Servir de exemplo pra mostrar o que acontece
A quem se mete com quem não deve
Com tiranos ainda mais sanguinários,
Na qual as diferenças que mais se fazem notar são
O nome dos santos livros: um a Bíblia, outro o Alcorão.
A amizade com os organismos internacionais
A influência política que nunca é demais.
Déspota por déspota quem é que pode me dizer:
Qual deles merece matar, qual deles merece morrer?
Qual deles merece julgar e dizer tu és meu condenado?
Quem de nós pode dizer: bem feito ter sido assassinado?
Parece que eles decidem e concordamos resignados
Vivemos sem nem sentir, é tão difícil acreditar
Qualquer vida que é tirada não pode mais nos tocar.

Thiago Mattos.

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