sexta-feira, abril 24, 2009

"A família é sagrada"

O mais novo escândalo político brasileiro vem da chamada "farra" das passagens aéreas a que nossos parlamentares clamam, choram, exigem ter por direito.

Após vir à tona um esquema de venda de bilhetes aéreos bancados com verba pública e repassados por agências de viagens, o que veio adiante surpreende ainda mais: as declarações e posicionamentos dos nossos eleitos da Câmara e do Senado.

Além da maneira como usam os bihetes (extendendo o privilégio a toda a parentela), a "revolta" causada nos políticos que se vêm ameaçados em seus privilégios é espantosa.

Os argumentos para a manutenção de um privilégio que desperdiça dinheiro público aos montes são os mais estapafúrdios possíveis e revelam a alma de quem está (ou quer entrar) para a vida política do país - os próprios brasileiros, que sempre querem uma boquinha.

Na semana passada, relembrando o episódio do deputado Fábio Farias (PMN-RN) que deu sete passagens aéreas a apresentadora de TV Adriane Galisteu, os jornalistas perguntaram ao primeiro-secretário do Senado Heráclito Fortes (DEM-PI):

"Pode dar passagem para namorada?". Ao que ele respondeu prontamente: "Se for bonita, pode" - e engoliram a piada e, de quebra, o sapo.

Inocêncio Oliveira (PR-PE), segundo-secretário da Câmara, já utilizou as passagens para viajar com a família a New York, Frankfurt, Milão e Miami. Acha tudo tão normal que fez uma declaração onde diz tudo sobre a maneira como pensam não só os políticos, mas qualquer brasileiro médio que estivesse ali em seu lugar:

"A família é sagrada".

Sentiu-se abençoado com sua "boa ação" e pouco foi questionado.

O que não percebemos - políticos ou eleitores - é que nem a família, nem a namorada ou amigos foram eleitos. Quem foi, além de contar com tantas regalias, já dispõe de um salário suficientemente bom para bancar os seus.

O episódio das passagens ainda não acabou por aí. Novas votações virão e novos sapos deveremos engolir. Se os brasileiros não mudarem a si mesmos, os políticos continuarão os mesmos.

Thiago Mattos.

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