"Quem lê tanta notícia?"
Sempre convém desconfiar do que nos é informado e conferir a validade dos ensinamentos. Nossos meios de comunicação – principalmente as TVs – assumem uma ambiciosa tarefa em nossa realidade: “educar” milhões de espectadores que tomam o que é dito e visto como a mais pura e inquestionável verdade. E é aí que mora o perigo.
Recentemente, o presidente venezuelano Hugo Chávez decidiu não renovar a concessão pública à RCTV (uma espécie de Rede Globo da Venezuela), despertando o clamor da mídia corporativista – quem diria – por “liberdade de imprensa” e “respeito à opinião pública” na América Latina.
Contudo, a campanha que vem sendo promovida evocando tais palavras de ordem é, no mínimo, patética. Não precisa ser nenhum entusiasta do presidente bolivariano para perceber que os fatos vão sendo deformados e o que precisa ser discutido se esconde. Na luta pela hegemonia, fala-se em “fechamento do canal” e em “liberdade de expressão”, mas pouco é dito acerca do papel dos meios de comunicação, tampouco é analisado o histórico da emissora que foi o pivô da tentativa de golpe de estado frustrado em Caracas, em Abril de 2002.
Como disse Muniz Sodré, “o ato governamental foi respaldado pelo preceito constitucional que outorga ao Estado a administração do espectro radioelétrico”. O Estado ainda é detentor de concessões de serviços públicos, como as de radiodifusão e de transportes, por exemplo – que podem ser interrompidos de maneira unilateral, caso não atenda mais aos interesses do Estado. Mas talvez não seja assim por muito tempo.
O documentário A Revolução Não Será Televisionada nos ajuda a entender o que houve com a emissora que encerrou seus trabalhos no último domingo de Maio deste ano após a medida de Chávez. E nos faz imaginar o bem que uma medida como essa não faria por aqui, não é mesmo?
Thiago Mattos.
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