segunda-feira, maio 07, 2007

E daqui a cinco anos?

O povo francês escolheu seu novo presidente. Com 53% dos votos, o conservador Nicolas Sarkozy derrotou a socialista Ségolène Royal, que chegou aos 47%. Diferentemente do que acontece no Brasil, o voto na França não é obrigatório. Mesmo assim, o país registrou o maior índice de participação nas urnas em 20 anos – cerca de 85% dos franceses votaram.

As notícias publicadas sobre a vitória de Sarko – como o chamam seus entusiastas – vão de especulações de cenários mais caóticos sobre o incerto futuro francês às possibilidades mais férteis de uma mudança para melhor no país. Em muitos casos, as informações parecem chegar poluídas, dependendo de quem as escreve.

Acompanhei os debates, a votação e a cobertura internacional da eleição. Logo após o fechamento das urnas, saiu o resultado parcial dos votos – que é super-rápido na França. Ségolène Royal prontamente reconheceu sua derrota, dizendo que “o sufrágio universal se expressou” – os socialistas estão longe do Palais de l’Elysées desde 1995, último ano de François Mitterrand no poder.

Minutos depois, Sarkozy faria seu discurso de vitória tentando ser conciliador e causando surpresa entre os que o ouviam. Mostrando respeito pelas as idéias de sua rival socialista, disse que seria o presidente de todos os franceses. Também mandou um recado aos “amigos americanos”, lembrando da amizade entre os dois países: “amizade é aceitar que seus amigos podem pensar diferente” – frase que deixa dúvidas quanto a tão propagada admiração de Sarkozy pela política de George W. Bush.

Sarkozy ainda lançou um apelo ecológico ao seu amigo que fala inglês: “uma grande nação como os EUA tem a responsabilidade de não fazer obstáculo na luta contra o aquecimento global mas, ao contrário, assumir essa luta pois o que está em risco é o destino da humanidade”.

Claro que sabemos que uma coisa são as palavras do discurso, outra será a prática. Teme-se que as promessas do conservador custarão muitos direitos sociais do povo francês. Sarkozy venceu dizendo que vai trazer a França de volta ao trabalho.

Dentre os pontos do seu programa de governo, destacam-se a flexibilização da carga máxima de 35 horas semanais de trabalho, a diminuição de impostos sobre as horas extras e a criação de um Ministério da Imigração que enfrentará com uma postura mais rígida os imigrantes ilegais no país.

Filho de um imigrante húngaro, Sarkozy chamou de racaille (algo como ‘gentalha’) os jovens filhos de imigrantes das periferias envolvidos nos protestos, causando ainda mais revolta entre eles. Na mesma noite em que saiu o resultado das eleições francesas, 367 carros foram queimados e 270 pessoas foram presas após enfrentamento com policiais. Os violentos protestos tomaram conta da Place de la Bastille em Paris e de outras cidades como Lyon, Toulouse e Marseille. A truculência policial não é exclusividade brasileira.

Com quase metade do eleitorado insatisfeito, os desafios de Sarkozy à frente da sexta maior economia industrial serão muitos. Unir a França é apenas um deles. O desemprego no país chega a 10% e já em Junho terá de enfrentar as eleições legislativas. Além disso, precisará de muito manejo político para lidar com a situação do refém francês nas mãos do Talibã e as conseqüências do veto a Turquia na União Européia.

Fica agora a curiosidade de saber como será a França nos próximos cinco anos.

Thiago Mattos.

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7 Comments:

Blogger Wallace said...

Vivemos uma época que parece uma colagem de filmes: cenários de MADMAX com BLADE RUNNER ou MATRIX. Cenas dignas da pré-história (protestos violentos, criminalidade) lado a lado com o que existe de mais evoluído na sociedade humana (biotecnologia, genética). A tão falada "era de aquário" parece ser uma mistura de coisas inconciliáveis como fé e tecnologia.

12:41 AM  
Blogger Seu Cuca said...

Bicho,

o Sarkozy me parece mais preocupado em agitar as coisas que em transformar a França em uma tremenda Disneylândia!
Acho que certamente ele vai fazer nas terras de lá o que já se devia ter feito há muito nas de cá: revisão da legislação trabalhista e "otimização" geral do estado.

Um abraço.

10:31 AM  
Anonymous Anônimo said...

a frança sempre foi o palco de revoluções de todos os tipos, desde igualdade de direitos, até liberdade de expressão (que não se diferem tanto) e o povo francês sempre foi muito ativo socio-politicamente, e com os últimos acontecimentos, como sulamericano distante da França, não creio que este sentimento tenha se enfraquecido. Se o povo francês estava dividido quase que inteiramente entre 2 canditados, acredito que a França viverá bem os próximos 5 anos.. de qualquer forma sempre tem espaço para mais uma "igualdade de direitos feita pelo povo"

10:11 PM  
Blogger Famille said...

Ola,

não pudia deixar de comentar esse post do Thiago...

Eu acho que Sarko é bastante perigoso para a França e sobretudo para os mais fracos.

As leis que ele quer fazer são contra as liberdades e a igualidade de direitos de quais Rodrigo falou.

Por exemplo com os estrangeiros, os trabalhadores, a justicia, a repressão...

Ele era ministro do interior, cheffe da policia mais ou menos, e não conseguiu meliorar nada, pelo contrario. Ele tem uma visão muito demagogica da justicia, contre varios principos bem antigos da visão da justicia. Ele também quer destruir os direitos sociais pos maio 68.

Ele é muito amigo dos patrões, e eles gostam que os trabalhadores não tenham direitos. Ele é amigo dos medias também.
Assim ele conseguiu fingir que era o candidato da ruptura quando ele era na verdade ministro os 5 anos antes... E que os resultados dele não foram muito bons.

O povo gosta dele porque fala muito bem e parece que ele sabe muito o que quer fazer. Da a impressão de ter alguem certo para dirijir o pais.

Enfim, vendo o primeiro signo que ele mandou para o povo francés depois da eleção não foi muito bom. Ele foi passar ferias em um yachte enrome de um amigo millionario e Malte...

Enfim, vamos ver. E daqui a pouco vai ter as eleções legislativas (dos deputados) que vão talvez ser melhores. Espero

Abraços

Robin

11:47 AM  
Blogger Sangue de Barata said...

parece q a mídia francesa já está sob o controle de sarko.

cecília sarkozy, sua esposa, ñ foi votar no 2. turno mas a notícia que teria sido abafada, vazou.

12:06 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

fonte:

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=433IMQ004

12:07 PM  
Anonymous Anônimo said...

Oi,

Isso é um relatório de qualidade para os brasileiros entenderem a situação atual.
Também concordo com o que diz Robin (francês?), mas tenho que dar umas informações a mais.

O nosso novo presidente apoio o seu discurso de campanha eleitoral falando de uma política muita repressiva, sobre tudo contra os jovens das "citées": bairros mais pobres que se situem em periferia das grandes cidades do país. Lutar contra a violência foi o seu argumento numero um como já era quando ele era ministro do interior (chefe da policia).

Com esse discurso, e num clima de medo criado pelas mídias sobre o modelo dos estados unidos, ele seduziu muita gente e roubo muitos votos ao partido de extrema direita: “Front National”. Assim conseguiu ter a liderança, mas não só por isso como explicarei depois.

Mas porque teve tão sucesso falando assim? Porque muitos franceses têm medo dos habitantes das "citées", porque as mídias só mostram violência quando se fala deles... E sobre tudo porque muitos franceses não sabem viver juntos com pessoas de outras culturas (para não dizer racistas). Isso é um fato.

Agora, temos que voltar alguns anos atrás para vocês entenderem porque essas comunidades são rejeitadas.
No fim da segunda guerra mundial, muitos habitantes das antigas colônias francesas forem convidados para trabalhar em França, para ajudar a reconstrução. Empresas como Renault, Peugeot e outras conseguirem tornarem se ator mundial da economia em pouco tempo.
Os norte-africanos e africanos foram colocadas como sardinhas em lata em torres provisórias a volta das cidades. A França estava contente de ter essa mão de obra barata, mas não queria mostrar esses "selvagens" o seu polvo. As famílias que procuravam uma vida melhor se derem conta que só era areia nos olhos depois de muitos anos.
3 gerações depois, sempre continuem com os salários mais baixos do país, trabalhando nas fabricas, sempre nos mesmos apartamentos em torres podres que nunca forem bem conservadas pelas câmeras municipais, sem ajuda de ninguém nem mesmo do estado. As piores escolas são nesses bairros. A população sobrevive como pode.
E os filhos vêem os pais e avos que derem tanto para França sem nunca receber. O sentimento de revolta vem dessa faixa de idade que é a minha. E compreendo muito bem que para muitos, sem visão de um futuro melhor, o mais fácil é baixar os braços é virar-se para violência.

O clima muito tenso que ocorro no fim de 2006 foi o resultado de esses excessos. E o Sarko aproveito desse medo para ter um discurso populista e ganhar as eleições.

Mas como vai Sarko resolver esse problema? Como os outros: advertindo cada vez mais. Dando mais poder a policia... Continuando as suas medidas de quando era ministro do interior.

Lutando a violência com violência!

Soluções que não funcionaram, mas que as medias não dizem. Ele foi ate modificar a maneira de fazer as estatísticas para ter resultados. Os policias já estão fartos dessa situação que eles vivem todos os dias: confrontações não parem. Eles têm muito estresse porque têm que cumprir resultados com poucos recursos.
Claro isso não é a boa solução. O problema tem que ser cortado às raízes. Misturar essas populações com o resto dos franceses. Reprimir a discriminação na vida de todos os dias e sobre tudo no trabalho. Se essas pessoas que são franceses, como eu sou, se sentissem em casa, eles não passariam tanto tempo em pensar mal do estado e das suas instituições. Temos que ganhar de novo a confiança desses filhos da França. O estado tem que mostrar o exemplo para todos os franceses.

Outro fato muito grave são as suas relações com grandes patrões da indústria que também controlem mídias, as suas posições contra os jovens e a cultura também são estúpidas, a sua visão da justiça...

Mesmo se como todos outros candidatos ele tem outras boas idéias, a sua mentalidade e a sua idéia do mundo são inaceitáveis. Ficou muito triste sabendo isso.

Mas atenção, ele nunca vai conseguir fazer tudo o que ele quiser. Porque como presidente vai ter que conciliar as suas ações com os outros partidos. Sobre tudo que nasceu uma nova força política de centro democrático e que ele tem muitos socialistas no governo que constituiu ele mesmo. É certo que muitas coisas vão mudar no bom sentido (trabalho, economia, saúde) e outras no pior. Vamos ver.

Mas o que tenho a certeza, é que as jovens gerações irão à rua se ele tem uma atitude muito extrema. E estarei lá.

Ps: desculpa o meu português muito ruim, cheio de erros.

4:04 PM  

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