quinta-feira, abril 19, 2007

A cultura da violência (da Virgínia ao Catumbi)

Quarta-feira, meio-dia. Um helicóptero preto da Polícia Civil dá rasantes no morro do Pavão-Pavãozinho, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Os barulhos da hélice me trazem o pensamento para a possibilidade do início de mais um tiroteio no morro. Concentrar-se em escrever um texto é difícil. Espero o dia seguinte.

No cemitério do Catumbi, os velórios haviam sido suspensos. Velar um morto por lá ainda pode matar. Pois mesmo que esse pedaço do Rio de Janeiro não seja Zona Sul, Centro ou Zona Norte, é certo um lugar onde não há muita paz por aqui.

Nosso cotidiano carioca que mistura alegria, suor e tragédia quase não pode mais se espantar com a cor do sangue nem com a razão porque ele jorra dos corpos de nossos mortos.

De manhã, uma manifestação pela paz colocou 1.300 rosas num ponto da praia de Copacabana para nos lembrar quantos já morreram nesta guerra financiada pela indústria da violência tupiniquim. As rosas e o sangue têm a mesma cor, mas isso pouco importa para quem morre.

Pelo Brasil adentro brotam tantos exemplos de tragédias cotidianas que um massacre como o de Virginia Tech não pode mais nos chocar. No máximo, um pequeno susto.

Apesar da diferença em como se mata lá e aqui, chama a atenção no caso da Virgínia a frieza de um assassinato em massa onde os que ficaram não podem dirigir a raiva a alguém, já que o único suspeito está morto. Haveria ainda alguma justiça a ser feita? Como?

Mesmo que surjam vídeos, fotos ou cartas, nunca saberemos a ‘verdade verdadeira’ de uma tragédia que massacra os espectadores do mundo inteiro contra o mais novo inimigo público dos EUA: um coreano, ainda que do sul da Coréia.

Apesar de todo o sangue derramado e da surpresa em relação ao que nos lembra o que outra hora se chamou Columbine – ou tantos outros nomes de escolas nos EUA assoladas pelo mesmo mal – sabemos como poucos sobre assassinatos em massa, sejam eles cometidos por loucos ou não, com ou sem uniforme, legitimados ou não pelo aparelho repressivo do Estado.

Não precisamos de um assassino no cinema, nem de uma menina que mata os pais e tem nome alemão. Pouco precisamos de psicopatas. Nossas instituições cuidam para que essa indústria da violência siga matando em endereço certo aos nossos próprios inimigos públicos: nossos pobres.

A tragédia de mortes banalizadas que choca o mundo e é para nós uma dura realidade ainda custará muitas rosas.

Thiago Mattos.

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4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

"como? quando? onde?"
hoje em dia é tudo que nos questionamos quando o asunto tratado é vítimas do acaso. Ao nível que estamos quem precisa saber o "por que?"
todos ficamos chocados, mas nenhuma providência é tomada, no máximo paseatas ou protestos esperansosos, e não é so de esperança que este grande "acaso" será menos evidente.

10:40 PM  
Anonymous Anônimo said...

Os massacres dos EUA são apenas um dos síntomas de uma sociedade doente. Nós temos nossos próprios problemas mas pra uma sociedade onde a maioria das pessoas tem uma boa condicao de vida esse tipo de episódio é dificil de se entender.

2:05 PM  
Blogger Zaira Brilhante said...

sabe o que me incomoda nisso td...
as pessoas aqui se julgando no direito de dizer que isso acontece la por causa das leis com relacao a posse e porte de armas... como se o bendito do estatuto do desarmamento que levou um nao na cara fosse resolver... o brasil nao precisa de mais leis, precisa colocar elas em pratica!!! quem aqui nao sabe, caso queira, onde conseguir uma arma??? so passar no pe do morro, nem precisa subir, molha a mao do cara e pronto! a diferenca eh que la eles tem facil acesso mas so um louco pega em armas e faz aquilo... aqui, qq um na esquina pq o outro avancou o sinal eh capaz de disparar o gatilho... nossa doenca eh social, sempre foi... e eh ela que precisa ser curada!!! enfim... falei de mais... bjsss

11:12 AM  
Blogger Sangue de Barata said...

falou de mais nao, botou pra fora, tamos aki pra ouvir os desabafos msm =)

12:35 AM  

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