quinta-feira, abril 12, 2007

Ninguém é racista no Brasil

Existe uma sutil diferença entre racismo nos EUA e o no Brasil: lá eles encaram o problema de frente, discutem-no e, conseqüentemente, os direitos dos negros são mais resguardados. O recente episódio Don Imus (onde um conceituado apresentador de rádio da CBS fez um comentário racista sobre um time universitário de basquete feminino, sendo execrado e boicotado por toda aquela sociedade) mostrou bem isso.

Aqui no Brasil, não há racistas – ninguém admite o contrário – e fica a (falsa) impressão de que, portanto, não há racismo no Brasil. Ledo engano. O Brasil é o país mais racista do mundo e a insistência amplamente divulgada de que nesta terra não há racismo é cada vez mais preocupante. Atua a favor desse horrendo ideal de igualdade para os desiguais a mídia corporativista, que precisa vender seus produtos e arrebanhar mais consumidores.

Dando início ao debate sobre o tema, publico aqui um texto do Veríssimo que saiu n’O Globo, no dia 1 de abril deste ano. Mesmo para quem já o leu, vale a pena ler de novo.

Thiago Mattos.

RACISMOS
(Luiz Fernando Veríssimo)


Preconceito racial e discriminação racial são coisas diferentes.

O preconceito é um sentimento, fruto de condicionamento cultural ou de uma deformação mental, mas sempre uma coisa pessoal, quase sempre incorrigível. Não se legisla sobre sentimentos, não se muda um hábito de pensamento ou uma convicção herdada por decreto.

Já a discriminação racial é o preconceito determinando atitudes, políticas, oportunidades e direitos, o convívio social e o econômico. Não se pode coagir ninguém a gostar de quem não gosta, mas qualquer sociedade democrática, para não desmentir o nome, deve combater a discriminação por todos os meios – inclusive a coação.

Não concordo com quem diz que uma política de cotas para negros no estudo superior é discriminação ao contrário, ou uma forma de paternalismo condescendente tão aviltante quanto a discriminação.

É coação, certo, mas para tentar corrigir um dos desequilíbrios que persistem na sociedade brasileira, o que reflete na educação a desigualdade de oportunidades de brancos e negros em todos os setores, mal disfarçada pela velha conversa da harmonia racial tão nossa. As cotas seriam irrealistas? Melhor igualdade artificial do que igualdade nenhuma.

Agora mesmo caíram em cima de quem disse – numa frase obviamente arrancada do contexto – que racismo de negro contra branco é justificável.

Nenhum racismo é justificável, mas o ressentimento dos negros é. Construiu-se durante todos os anos em que a última nação do mundo a acabar com a escravatura continuou na prática o que tinha abolido no papel. Não se esperava que o preconceito acabasse com o decreto da abolição, mas mais de 100 anos deveriam ter sido mais que suficientes para que a discriminação diminuísse.

Não diminuiu.

Igualar racismo de negro com racismo de branco não resiste a um teste elementar. O negro pode dizer – distinguindo com nitidez preconceito de discriminação – “Não precisa me amar, só me dê meus direitos”. Qual a frase mais próxima disso que um branco poderia dizer, sem provocar risos? “Não precisa me amar, só tenha paciência” “Me ame, apesar de tudo”? Pouco convincente.

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6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Acho isto tdo,cotas e mais direitos a favor de negros,um assunto mt delicado,visto que estamos num país multi-racial que na verdade ninguém sabe que raça é ,pois bem ,acho que começamos errados em falar de raça,o rascismo começa daí.Acho inadmissível,do mesmo jeito que não suporto quando algum playboy que nem conhece direito as suas origens,a não ser seu sobrenome de origem européia,enche a boca pra se referir a um cicadão de cor escura ou parda de macaco(ou crioulo),também me sinto ofendido quando sou chamado de branquelo por alguém que tenha a cor um pouco mais escura que a minha,porque acho que também há uma moda de querer ser "negão";é só passar por qualquer banca de revista que podemos ver revistas escritas "Raça",que ao meu entendimento fica parecendo(no entendimento de quem se acha "negão") que a cor e tipos de cabelo determina a raça,e como se a fosse uma "raça mais forte",como Hitler tentou fazer sem sucesso (vide Olimpiadas de Berlim antes da guerra ,onde um atleta de cor negra ganhou medalha de ouro na corrida,que não lembhro quantos metros foram).Portanto daqui pra frente temos que passar a diante o entendimento que ninguém (por causa de cor ,cabelo,tamanho de nariz)é melhor ou pior,mais apto ou menos apto a realizar tal tarefa.

O que acontece por aqui é bem mais ameno do que nos EUA,uma vez que ,como indivíduo de cor clara,posso entrar em qualquer lugar,e vice-versa.Já atingimos um nível onde não pode mais haver nenhum tipo de preconceito,no Brasil é considerado crime qualquer tipo de racismo,acredito se eu gravar algum desaforo a um cidadão de outra cor,com insultos por causa da mesma,conseguindo provar o racismo ,o caso pode concluir-se até com pena de detenção se bem julgado(vide burocracia brasileira).O fato de um insulto racista pode ser equivalente a danos morais,com certeza.Ai sim alguém irá pensar 100 vezes antes de pensar torto eem relação a alguém de cor diferente da sua.

Carlão Boladão

10:27 AM  
Anonymous Anônimo said...

Em primeiro lugar, comparar racismos é uma tarefa árdua, como comparar ditaduras, assassinatos ou miséria.
"Miséria é miséria em qualquer canto".

No entanto, é possível sim fazer essa comparação. Estive lá nos EUA e pude perceber a diferença nos dois mecanismos que geram o racismo. Aqui, pelo simples fato de não ser debatido e ser abafado pela população que diz que o racismo não existe, é onde acontece a pior forma de racismo. Aquele que ninguém combate pois finge que não vê.

Em segundo lugar, nosso país é sim multi-racial mas esse assunto n~~ao deve ser delicado, vamos parar de tampar o sol com a paneira, somos racistas desde criancinhas!

Como disse o Veríssimo é ridícula qualquer comparação de ofensas entre negros e brancos, que significado semântico negativo tem uma pessoa ser chamada de branquela? Na minha opinião isso não é ofensa e não deve existir qualquer comparação entre uma ofensa gravíssima quanto a citada acima em que se faz uma referência a um animal e é carregada de preconceito e intenções humilhatórias.

A cor negra precisa e tem que ser valorizada, não há moda alguma mas sim uma tentativa de valorizar a auto-estima de uma parte da população que desde que nasceram marcadas pela cor, num maldito país que valoriza a bunda e desvaloriza o cérebro.

Não há pior lugar para ser negro do que no Brasil. Aqui as maiores taxas de homicídios, de pobreza e miséria, de analfabetismo e baixa escolaridade, os piores salários e cargos, as piores habitações, as piores chances e escolhas, tudo de ruim que a nossa sociedade tem pra oferecer tem alvo certo: os negros. E quanto mais escura a cor da sua pele, pior. E é óbvio que isso não é uma mera coincidência, é uma política racista que invade todas as esferas sociais.

Então, vamos parar com essa palhaçada de que ninguém é racista e encarar o problema de frente pra, quem sabe daqui a mais 500 anos, resolver de vez a questão racial que assola o Brasil sem que ninguém dê conta do estrago.

3:06 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

Don Imus foi merecidamente demitido incondicionlemnte pela CBS sem qualquer direito a um programa de adeus após seus comentários de classe, gênero e raça. O episódio foi a notícia mais comentada da semana nos EUA.

Aqui no Brasil, apesar de nao termos esse racismo latente, nossa discrinacao é muito pior. Se discriminação matasse, restariam poucos de nós.

É tb importante nao esqucermso q a decisao da CBS foi econômica, já q a emissora nao queria ser alvo de processos por manter o infeliz apresentador ligado ao seu nome.

8:07 PM  
Blogger Alex Amaral said...

É isso meus caros. Costumo dizer que todos os 'eventos' recentes trazem algo de bom: a discussão. Finalmente tocamos no assunto, falamos, externamos o que achamos e sentimos, isso é positivo. Esse é um breve comentário atendendo a um convite de nosso caro "Sangue de Barata". Obrigado por ter visitado meu blog e saiba que lerei mais o seu. Grande abraço e parabéns. Ah, e continue "Trocando uma idéia sobre tudo". http://alex-amaral.blogspot.com

8:29 PM  
Anonymous Anônimo said...

Como vc fala: comparar comentários é tarefa árdua,tão árduo quanto tentar mostrar a certo tipos de pessoas que a comparação de racismo é como comparar governos tiranicos ,assinatos ou misérias,ou seja,é tudo negativo.

Realmente a cor negra,assim como os mestiços,precisam de uma valorização de sua cultura,mas de modo inteligente e não com revistas que falam de raças ,nas quais podem atiçar cada vez mais idéis racistas .Outrora uma deputada do Rio de Janeiro tentou aplicar uma lei na qual as novelas tipo importação de uma determinada rede de TV deveriam colocar um percentual mínimo de negros no seu elenco,este é um tipo de idéia inteligente para a valorização da cor negra,como várias outras nas quais podem ser mais inteligentes e abrangentes.

Existe aquele ditado "não faça com os outros ,o que não gostaria que fizesse para si mesmo",portanto: eu como branco não gosto de ser chama do de branquelo ,assim como um indivíduo da cor negra não gosta de ser chamado de crioulo,ou gosta?

C.H. Macedo

2:54 PM  
Anonymous Anônimo said...

Olha eu sinceramente acho uma palhaçada dizer que naum existe racismo.Porque se vc prestar atenção nós desde cedo aprendemos a ser preconceituosos ....quem nunca ouviu: "preto quando naum suja na entrada suja na saida"? pelo amor de Deus a gente quando cresce,aprende junto com a sociedade a gostar de pessoas com o padrão de beleza europeu, que por sinal é totalmente diferente do Brasil a não ser que vc more no sul que lá é bem parecido! Mas isso só vai acabar quando ensinarem desde cedo as crianças a respeitar os outros, ensinar que todos somos iguais que é apenas melanina e que ninguém é melhor do que ninguém....aí sim isso vai acabar de vez! O que falta pra esse povo é CONSCIÊNCIA pq o eu naum quero q façam pra mim eu naum farei pros outros!

9:41 PM  

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