"Não sou pessimista, o mundo é que é péssimo"

Conhecido por ser rabugento e pessimista, Saramago destilou uma frase, no mínimo, coerente: "Não sou pessimista, o mundo é que é péssimo".
Com sua envolvente sobriedade e sua ímpar habilidade com as palavras, questionou:
E continuou:
"Quantos delinqüentes existem no mundo? A violência já atingiu o nível da barbárie. A corrupção chegou a tal ponto que é um problema de linguagem. A palavra bondade hoje significa qualquer coisa de ridículo. É preciso conquistar, triunfar. Ninguém se arrisca a dizer que seu objetivo é ser bom. Querer ser bom em uma época como esta é se apresentar como voluntário para a eliminação. Como chegamos a isso?" Até que concluiu: "Para mudarmos a vida, é preciso mudarmos de vida."
Em meio a tantos livros de auto-ajuda, de tantos "Segredos" e com um mundo precisando tanto de uma luz, Saramago mais uma vez vem jogar um balde de água fria em quem insiste em achar tudo colorido.
Como salvar o mundo se não somos capazes de salvar a nós mesmos? Focados no consumo individualista, na conquista da vitória através da acumulação de posses custe-o-que-custar, acachapados e tontos com uma completa inversão de valores, onde as idéias e as ideologias valem mais do que uma vida, como sermos simplesmente otimistas?
Se apenas o otimismo fosse suficiente para salvar o mundo, seria perfeito. A única coisa é que, como todos sabemos, o inferno está cheio de boas intenções.
Thiago Mattos.
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