terça-feira, novembro 18, 2008

Notas e notícias


Diz o jargão jornalístico que notícias sobre suicídios devem ser tratadas de forma lacônica, com muito cuidado e até mesmo evitadas. Mas o mesmo jargão também salva ao jornalista o direito de publicá-las.

Paulo Sérgio da Silva, 36, operador da corretora de ações Itaú, atirou contra o próprio peito na tarde de ontem (17), durante um pregão na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), em São Paulo. A notícia virou nota e pouquíssimos meios de comunicação a repercutiram - talvez, por conta do tal jargão jornalístico.

Em nota à imprensa, a BM&F confirmou que "ele foi socorrido imediatamente no ambulatório da bolsa e transferido para a Santa Casa de São Paulo", conforme divulgou a agência de notícias Reuters. Contudo, mais informações serão raras.

A tentativa de suicídio, segundo colegas de trabalho, não tem uma conexão direta com a crise financeira que estamos atravessando, ao contrário do que poderíamos associar, já que Paulo havia anteriormente interrompido suas atividades como broker por conta de depressão e usava medicamentos anti-depressivos.

Talvez tal notícia, trágica para a família e amigos, pudesse apenas virar uma simples nota de rodapé, como nos sugere o velho jargão. Mas vivemos um momento em que todas as atenções se voltam para o mercado financeiro e fica difícil ignorar o que nele está acontecendo.

Uma arma dentro do mais importante palco das decisões financeiras do país, as consequências do estresse de uma profissão que está com os dias contados para substituir homens por computadores (como nos mostra a tendência mundial), ou apenas um comportamento depressivo em meio a gritos de compra e venda? Seja como for, vale a pena ter em mente cada uma dessas variáveis.

Thiago Mattos.

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6 Comments:

Blogger Thelêmaco Montenegro said...

Muito bom o post, Thiago! Vou colocar sobre o assunto lá no meu... por falar nisso... mudei de blog.. depois vai lá! rs
bomficarsabendo.blogspot.com

mas só uma parada... essa questão de maquinas substituirem homens não vejo como um grande problema... ainda bem que podemos criar tecnologias que substituam a gente... o problema está nesse sistema... q nos tornam "imprestaveis paraa sociedade"... no filme Zeitgeist Addendum se fala muito bem sobre essa questao... depois ve la.

abraços!

3:40 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

Vou conferir o filme e o blog.

Essa coisa de tecnologia substituir o homem tá na moda desde os idos de 1800-e-perdi-a-conta...

Talvez realmente o cerne do problema não seja este mas que isso afeta empregos e deixa empregados loucos, tá na cara. Alguém lembra do movimento ludista invadindo fábricas no começo da Revolução Industrial e quebrando tudo? Pois é...

Então, de minha parte, acho que um fato para considerarmos é esse: se a sociedade consumista e doente por si mesma cria maravilha tecnológicas - como a substituição de homens por menos homens e mais máquinas - também cria esses efeitos colaterais que, afinal de contas (vendo tantos produtos brilhantes na prateleira e babando para poder comprá-los), ninguém dá tanta importância assim.

3:53 PM  
Anonymous Anônimo said...

Já ouviu falar de pós-humanismo Thiago? Talvez seja um tópico legal para abordar no seu blog, você escreve bem. A substituição de homens por máquinas já estamos cansados de falar a respeito, cada um tem um ponto de vista sobre, mas e quando podemos trocar nossos próprios braços, pernas, colocar silicone, e essas coisas? Ou seja, quando nós nos transformamos e algo muito próximo de uma máquina com suas peças de reposição? Algo a se pensar, né?

Grande abraço!
O blog continua muito legal!

4:25 PM  
Blogger Carlos de Castro said...

Eu li a notícia de manhã e pensei comigo: primeira vítima do crack de 2008. Lembrei dos corretores e acionistas que se jogavam das janelas de Wall Street em 1929. Creio que a tentativa de suicidio está diretamente relacionada com a crise econômica, ela impulsionou o sujeito para o destempero. Abração

7:08 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

Vou pesquisar mais sobre o tema do pós-humanismo, soa muito interessante.

Informações que tenho de fontes seguras garantem que a perda do emprego num futuro próximo e um quadro de depressão de longa data teve muito mais influência do que a crise financeira em si.

Muito obrigado pelas palavras. O que mais me deixa feliz é vê-los participando das discussões, ao invés de ficar naquele conformismo sedutor que anestesia e acalma nossas mentes.

8:58 AM  
Blogger Zeb said...

é pena que gente dessa quer acabar com a vida por causa do stress ou porque se dão conta que estão contribuindo a um sistema ruim que não lhe trazem felicidade ?
a pesar disso, acho que de maneira geral, nas ultimas décadas, o grandes cérebros, as pessoas inteligentes não forem usadas para as boas coisas
teve muita propaganda para a carreira financeira ao detrimento de outros assuntos mais viáveis para o homem ! temos que pensar nisso
porque uma boa educação sobre o que é realmente importante e uma boa soluçao para repensar o sistema e sair da beco no qual estamos

mais ou menos (sem ordenar as minhas ideias ou reler), aqui esta a minha opinião sobre o assunto !

7:38 PM  

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