segunda-feira, junho 25, 2007

A covardia só muda de sotaque

A notícia de que cinco jovens moradores de condomínios de luxo na Barra da Tijuca espancaram covardemente uma empregada doméstica e roubaram sua bolsa na madrugada de sábado revela um triste lado de nosso país, evidenciado especialmente nas grandes cidades.

Esse comportamento sádico dos agressores estudantes de turismo, administração, gastronomia, informática e direito, que justificam tamanha barbaridade dizendo que confundiram a vítima com uma prostituta – pasmem! – apenas reflete a maneira como nossas elites em geral tratam nossos pobres: com a mais pura e sincera humilhação, com vontade de matar.

Os cinco fortes jovenzinhos da Barra da Tijuca, que demonstraram o estrago que fazem juntos em uma só mulher, em nada diferem dos que atearam fogo a um índio pataxó há 10 anos atrás em Brasília. Ou dos falsos punks que mataram um garçom a facadas também nesse último final de semana em São Paulo. Todos são privilegiados financeiramente em relação à realidade da maioria das famílias brasileiras e nenhum deles têm qualquer noção de ética, bondade ou respeito. A corvadia só muda de sotaque.

Estão sendo formados pelos seus pais para serem esse tipo de gente mesmo, sem qualquer compromisso ou consciência social. Daqui a alguns anos, muitos se tornarão diretores de importantes empresas, respeitáveis advogados, executivos que estarão à frente de funções que lhe garantam suficiente poder para dar continuidade ao mesmo projeto de vida que mantém nosso país como é: desigual e injusto, seletivamente cruel e bárbaro, de modo que a política de extermínio aos pobres continue vagarosa e imperceptivelmente.

Assim os poderosos conservam seu poder e assim tem sido há 500 anos. Não sabemos quanto tempo os jovens-de-comportamento-desviante ficarão presos, nem tampouco se ficarão. A impunidade é um privilégio para poucos nesse país. E é claro que tudo seria bem diferente se fossem “favelados” agredindo uma empresária. De qualquer forma, tentemos vislumbrar uma esperança nisso tudo.

Temos a sorte de podermos contar cada vez mais com gente disposta a fazer justiça como o taxista que anotou a placa do carro dos jovens agressores, ato heróico de um anônimo. Talvez nem tudo esteja perdido, ainda que o futuro da nação esteja nas mãos dessa juventude doentia e ignorante – reflexo piorado de todas as gerações anteriores.

Thiago Mattos.

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7 Comments:

Blogger Wallace said...

O primeiro passo para mudar as coisas é difundir a informação, para criar massa crítica. Mesmo sabendo que mudar as atitudes não implica em mudar as pessoas, conseguir isso já é um grande passo.
O lado triste é que o índio Pataxó, o garçom foram esquecidos no meio de tantas notícias (!).

1:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

Comcordo com Wallence,e mais ,temos mesmo que divulgar esses tipos de acontecimento ,temos mts ferramentas nas mãos .Indios ,garçons e empregadas domésticas assim como o garoto de 6 anos arrastado nunca podem ser esquecidos,pois é uma maneira de colocarmos sempre a mão na cabeça antes de cairmos no estress que as grandes cidades nos proporcionam.
Valeu mais uma vez.

CH

5:31 PM  
Blogger Carlos de Castro said...

A questão aqui não é se são playboys, punks, funkeiros, skinheads, políticos ou zé manés, é a impunidade e a abertura da temporada de caça ao pobre. Eles são bandidos e ficarão impunes como todos aqueles que podem pagar um bom advogado para descobrir furos na lei. Traficantes ricos "favelados" também saem impunes, vide Fernandinho Beira-Mar e suas freqüentes viagens de avião, para ele não existe o apagão aéreo. Traficantes vivem de amedrontar e matar pobres, ou seus soldados por acaso não são menores e pobres? Enquanto a policia pobre mata soldados pobres, os riquinhos vandalizam. A violência contra a empregada doméstica já começa no estupro do quarto de empregada com o abuso de autoridade, com o garçom com a exploração patronal, e com o índio com o roubo de suas terras, me diz qual é a novidade?

7:23 PM  
Anonymous Anônimo said...

Acho que todos nos somos de acordo sobre o fundo e a forma do problema. Agora, como podemos nos, simples cidadões mudar isso tudo ? Se ainda podemos ? O problema de sociedade me parece ser tao profundo que ficou triste em pensar que é ireversivel ! Midia super potente mostrando mais violença cada dia, politicos anti-eticos, justiçia que nao apoia, corupçao... o individualismo nos faz perder qualquer respeito para o outro ! A educaçao de base parece ser a unica soluçao!

9:27 AM  
Blogger M said...

Adorei!

Samambais venuzianas agora além de mal ler e de nada ter noção(exceto obviamente trivialidades e falta de noção da realidade), compensam suas ausências com porradaria.
Ou sempre foi assim?

1:29 PM  
Blogger M said...

A educação de base sempre será a melhor saída, mas nesse caso, o que se mostra evidente é uma má-estruturação familiar.
No Rio, esta já é difícil de achar.
Mas como mexer em algo estritamente particular?
Como obrigar pais a educarem?

Educação não se aprende na escola, nem com educação de base, assim como ética. Alguns fatores tem que ser intrísecos à família, ou...
(não todos os casos, mas a exceção deveras é inválida para a regra)

1:35 PM  
Anonymous Anônimo said...

Desculpa, mas não estou inteiramente de acordo com você Mariana. O Estado tem também sua responsabilidade na educação que dá e não só sobre respeito; também há o meio ambiente (também ha gestos que todos fazem e que são condenáveis! Ecologia não é só Amazônia!!!), a consciência política... Sem vontade do Estado, o povo não faz nada. E por isso ele tem que começar a mostrar o exemple: para com um país de impunidade, de corrupção.

Você atribui isso a falta de educação em casa. Ok! mas quem educou os pais, e os avos... Se pensarmos assim, nunca acaba. É o que em direito se chama a teoria da causalidade, e que não é utilizada!

Em fim, para parar isso tudo acho que a única solução é o povo ir a rua para recuperar o poder que ele deu a classe política, para assumir de novo a responsabilidade que cada um tem na sociedade.
Organizem-se! Atuem!

9:26 AM  

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