quinta-feira, junho 07, 2007

Renan Calheiros encalhará?

Após muita pressão e temendo desgaste político, o Conselho de Ética do Senado abriu ontem processo contra o presidente da instituição, Renan Calheiros (PMDB-AL), para investigar indícios de quebra de decoro parlamentar.

Nosso senador adúltero é suspeito de ter despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Segundo os indícios, Gontijo entregava R$ 12 mil mensais a jornalista Mônica Veloso, com quem o presidente do Senado teve uma filha numa relação extra-conjugal. Os favores do lobista seriam retribuídos generosamente pelo nobre senador com a indicação de nomes para cargos públicos.

Apesar da abertura do processo, tudo parece andar conforme quer seu grupo político - até o relator indicado é um aliado (Epitácio Cafeteira, PTB-MA). No entanto, a partir do momento em que for citado no processo, Renan Calheiros não poderá mais renunciar ao mandato e corre o risco – ainda que mínimo – de ser cassado.

Ok, sabemos que Brasília inspira entre os colegas parlamentares uma solidariedade quase materna. Mas o fato é que mesmo após demonstrar em documentação - com uma naturalidade espantosa, diga-se de passagem - que seu patrimônio cresceu 73% em 4 anos (de 984 mil em 2002 para R$ 1,7 milhão em 2006), nosso senador milionário não se livrou das acusações, já que não há nada que comprove o recebimento do dinheiro pela jornalista.

Segundo as contas apresentadas – que incluem desde a verba indenizatória usada para ressarcir os parlamentares de gastos relativos ao exercício do mandato até “ganhos agropecuários” da sua fazenda – Renan Calheiros teria condições suficientes para realizar esse pagamento. No entanto, essa quantia poderia ter qualquer destino, visto que a falta de recibos impossibilita dizer que o dinheiro pago saíra de seu próprio bolso.

Até os colegas mais solidários temem o risco de que a situação saia do controle e o senador encalhe nesse mar de lama que é o da corrupção. Infelizmente, todos os esforços no Senado serão para que o processo termine o quanto antes com a absolvição do senador e que assim a denúncia se perca na memória popular. Estamos no país do tapinha nas costas.

Thiago Mattos.

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6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sempre tentando comparar com a França (não para criticar Brasil, mas porque França é o meu único pais de referencia), a lei de 6 de novembro de 1962 diz que uma pessoa, concorrendo à presidência, não pode aproveitar do seu cargo para aumentar seu patrimônio.

Ao constituir o seu “dossier” que deve ser dado ao Conselho Constitucional, o candidato tem que fazer uma declaração de patrimônio: salário, cargos antigos, patrimônio estrangeiro... Tudo. Uma consultoria calcula e analisa isso tudo. Só o patrimônio do presidente eleito é publicado no Jornal Official.

Quando sair, mesma coisa, o patrimônio é novamente calculado e as deferências são analisadas. Se o aumento foi favorecido pelo cargo, as multas e condenações são enormes.

Agora não sei se existe mesma coisa para todos os cargos do estado? Aguardem um comentário da Sophie.

11:30 AM  
Blogger Wallace said...

Calheiros é o resumo da política nacional, do "é dando que se recebe". Sem maiores comentários, é cultural, faz parte do DNA...

4:09 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

Sei que certos assuntos envolvendo a corrupção política, causa nojo e revolta, até mesmo uma sensação de que é assim msm e ñ tem jeito. Mas não posso concordar com a afirmação de que a corrupção faz parte do DNA brasileiro e é uma maldição cultural.

Infelizmente, esse pensamento (aparentemente inofensivo) contém em si um grande perigo e uma armadilha em potencial.

Vou tentar explicar: Quando dizemos que "brasileiros são naturalmente corruptos" estamos isentando de qualquer responsabilidade aos corruptos e a nós mesmos. Não procuramos entender as raízes desse problema no sentido de frear esse chamado impulso natural, que, no caso, seria explicado pela "cultura". Apenas aceitamos q ele se manifeste e nos conformamos a sua existência.

Em outras palavras, estamos praticamente perdoando aos corruptos, como se disséssemos: "tudo bem, eu entendo... essa mania de corrupção é mais forte q vc, sou brasileiro e sei como é".

Bem, sou brasileiro e ñ sei como é, nem quero ser conivente ou q estejamos como um povo condenados a uma eterna exploração por parte das elites simplesmente porque todos nós estamos no país do "é dando que se recebe" e que isso é uma coisa cultural.

Alguém mais se habilita a acrescentar algo à discussão?

12:30 AM  
Anonymous Anônimo said...

A história oficial do "rouba mas faz" na politica brasileira começou com o ex-governador de São Paulo, o empresário e fundador da rede Bandeirantes Adhemar de Barros, acusado de corrupção e desvio de verbas públicas. Esse foi o slogan extra-oficial de sua campanha para prefeito em 1957. Apesar do slogan, ou mesmo devido a ele, Adhemar foi eleito para a prefeitura de São Paulo. Maluf e Quércia seguiram o mesmo caminho, assim como FHC e os trezentos picaretas com anel de doutor que "Luís Inácio falou, Luís Inácio Avisou". Mas o partido de Luís Inácio tambem roubou e ele foi reeleito. Garotinho foi acusado de roubo e eleito, e depois elegeu Rosinha, Benedita foi em um encontro evangélico no exterior com dinheiro público. A quantidade de escândalos não tem fim, começaram hà tempos: Caderneta de Poupança Delfim, Coroa-Brastel, Mandioca,Capemi,Previdência,Valerioduto,Propinoduto,agora Bingos/Caça níqueis e Gautama. E não se preocupe muito não, eles não vão parar. O nosso problema é perder tempo em apertar botões na eleição.O problema não é cultural nem de DNA, é vergonha na cara, bom senso de não dar carta branca para o Alí Babá e suas centenas de ladrões. Como dizia o gonzaguinha, a gente não tem cara de babaca e nem tá com a bunda na janela prá passar mão nela. Mas em seguida vieram os Mamonas com a história do me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém. Cazuza, o super herói global, já dizia: Vida breve, já que eu não posso te levar quero que vc me leve, reforçada pelo Zeca "Ambev" Pagodinho, deixa a vida me levar, vida leva eu. Grandes mensagens para um povo panaca que espera a ajuda de deus, (é com minúscula mesmo) daí eles, os políticos, levam o seu dinheiro, o seu voto,a sua vida e o pouco de dignidade e orgulho de ser brasileiro que te resta. Político não tinha que receber salário nem ajuda de custo, deveria ser sustentado por seu partido, Quem vai querer ser candidato? Que o bem sucedido fazendeiro Calheiros, e os demais senadores eleitos por oito longos anos (dai-nos paciência) custeiem seus gastos, já era um início.

3:57 AM  
Blogger Wallace said...

Sem querer fugir do assunto, apenas fazendo outra colocação, descobrí sem querer outro BLOG, o
http://sanguedebarata.blogspot.com (que pela grafia deve ter sido criado antes deste).
Ao contrario deste Blog,
http://sanguedbarata.blogspot.com
os textos são confusos, sem muito escopo. Não seria legal levar este BLOG para outro espaço para não gerar confusão ou link mal-direcionados/indexados sem querer?

Outra: achei a radio genial, vou usar até em minhas aulas.

10:10 PM  
Blogger Seu Cuca said...

Hey,

a idéia de colocar o site em outro canto dá trabalho, mas faz sentido. Porque não avaliar o Wordpress? (fora que tem o apelo "cool")
Infelizmente estou aqui para bater em uma tecla lá de trás: assisti hoje a "A Revolução Não Será Televisionada".
Cara, o tal Carmona é um jegue, OK. O avião que pousou lá na ilha onde Chavez estava era americano - beleza, é mesmo obsceno. O discurso almofadado por fezes nos "canais privados" também é desagradável.
Mas pera lá: o "documentário", em sua primeira metade, é quase um programa eleitoral. É extremamente tendencioso e me lembrou o velho João Mendes! Só faltavam as criancinhas correndo e gritando "Hugo Chavez! Hugo Chavez!". Ou pior, a Dona Florinda!!!
Para ganhar apoio, é recorrente que partes de um conflito se apeguem ao seu próprio viés da realidade. Fizeram isto no documentário (DEMAIS), fizeram isto na TV venezuelana (DEMAIS), e com isto ambos se afastaram da descrição objetiva da realidade para tentar aproximar (e levarem os outros a) suas próprias conclusões.
Quero dizer que realmente foi muito ruim mostrarem os tiros durante as passeatas de apenas um ângulo. Mas isso não se resolve com totalitarismo ou tirando o direito de alguns falarem suas próprias besteiras.
Não vou negar a parte dos venezuelanos o direito de achar que os círculos bolivarianos são horrorosos ou perigosos. Pode não ser minha opinião, mas eles têm o direito!
E se uma rede de TV puser um analista econômico que fale mal dos indicadores nacionais, ela também deveria ser permitida.
Ora, e que os abusos ou questões mais difusas sejam decididas pelo judiciário! Ou a constituição magnânima de Chavez não o institui? E se não institui, será que não há alguém com poder demais para si?
Depois de ver o documentário, não fico mais sensibilizado com o chefe da Venezuela, nem acho que a concessão da RCTV deva se basear na idoneidade de seus dirigentes na década de 70. Acho que ambos os lados devem seguir a lei, fazer seu trabalho e evitar incomodar os outros.
Puxar demais para o lado das TVs privadas ou para o dos governos só me fará lembrar da China.
E esta não é uma boa idéia.

12:00 AM  

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