segunda-feira, outubro 08, 2007

Extrabrasileiros

O artigo publicado recentemente pelo apresentador de TV Luciano Huck na Folha de S. Paulo é desmoralizante, indigno e repugnante. Contudo, temos uma oportunidade ímpar de entender a cabeça de nossa elite financeira, que cisma em não olhar para onde vivemos – esse país estranho chamado Brasil.

O apresentador reclama por conta de um relógio que lhe fora roubado por “dois pobres coitados”, se diz revoltado e pede para chamar o Capitão Nascimento (o anti-herói do filme Tropa de Elite que executa sumariamente outros “pobres coitados” nas favelas).

Huck diz estar à procura de um salvador da pátria, alguém que lhe garanta proteção, cuide de sua propriedade e lhe tranqüilize ao andar com seu Rolex de sabe-se lá quantos zeros no país do faz de contas (já que paga uma fortuna de impostos).

Ao longo do seu texto, chamou-me a atenção em especial um termo usado por ele nesta frase: “Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de ‘extraterrestres’ fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo?

A palavra ‘extraterrestres’ é pontual e explica muito a lógica deste sistema, onde os pobres (coitados ou não) são domesticados com a ajuda de estúpidos programas de TV, de modo a tornarem-se apáticos em relação à injusta distribuição da riqueza social no país, percebendo-a ainda como a ordem natural das coisas – como se fossem excluídos por acaso, e ninguém tivesse nada a ver com isso.

Extraterrestres. É exatamente assim como são vistos os “pobres coitados” que roubam, vendem mercadorias ilegais, CDs piratas, drogas e matam por nada. E, como se não fossem deste planeta, como se não pertencessem a este país, vagam pelas ruas em busca da sobrevivência, da existência social, por assim dizer.

São ignorados em todos os sentidos do termo e, a não ser quando percorrem as páginas policiais, praticamente não existem. Quando a realidade nos forca a vê-los, a encará-los, não os reconhecemos como compatriotas. Tudo é diferente: seu jeito de falar, de andar, de se comportar, de dançar e também seu jeito de roubar.

Não queremos vê-los ou entendê-los, queremos nos ver livres deles. São para nós equivalentes aos imigrantes ilegais dos EUA, com uma pequena diferença de sermos do mesmo país. Vá lá, são extrabrasileiros.

No fim de tudo, o cidadão que se diz humilhado ao ter um 38 na testa e quase morrer por causa de um relógio compartilha sua dor com outros tantos que são lembrados a toda hora que a realidade existe. Porém, não adianta tentar maquiá-la com projetos sociais ou tentar modificá-la com a pena de morte promovida pelo tal Capitão Nascimento. Essa não é a solução.

Nada funcionará se não mudarmos nossa maneira de enxergar a lama em que estamos e como nós mesmos a fazemos e a deixamos fazer. Nada mudará se não percebermos nossa maneira peculiar de enxergá-la, nosso distanciamento e nossos preconceitos. Nossa cegueira cega que não quer ver que não está vendo.

Vejam por si só, acreditem em mim: extrabrasileiros existem.

Thiago Mattos.

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15 Comments:

Blogger Sangue de Barata said...

PENSAMENTOS QUASE PÓSTUMOS (1/Out/2007)

LUCIANO HUCK foi assassinado. Manchete do "Jornal Nacional" de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.
Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.
Por quê? Por causa de um relógio.
Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado.
Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia.
Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa.
Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável.
Passei um dia na cidade nesta semana -moro no Rio por motivos profissionais- e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres.
Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa"? Quem sabe até a "Tropa de Elite"! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito.
Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.
Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.
Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase "infantis" para uma sociedade moderna e justa.
De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui.
Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber.
Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de "extraterrestres" fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo?
Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no "Roda Vida" da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, "Tropa de Elite" é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando.
Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: "Cansei". O Lobão canta: "Peidei".
Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar.
Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.
Isso não está certo.

LUCIANO HUCK, 36, apresentador de TV, comanda o programa "Caldeirão do Huck", na TV Globo. É diretor-presidente do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias

10:36 AM  
Blogger Sangue de Barata said...

Acima está o texto do Luciano Huck que inspirou este post.

10:37 AM  
Blogger Seu Cuca said...

Sabe qual é o reverso da medalha?

É uma droga ter medo de andar com relógio na rua.
Não nasci na Zona Sul. Não gosto da maior parte das pessoas lá. São frias, distantes e sem sal.
Me sinto OBRIGADO a dar esmola. Não dá pra comer alguma coisa em uma lanchonete dali sem ver um MONTE de pessoas com olho comprido em você. E eu dou, simplesmente porque TENHO CORAÇÃO.
O problema é o meu relógio.
O problema é que eu ralei e ralo que nem um condenado pra ter minhas coisas. Ajudei gente a ter a chance de ralar. Estudei. Vim de um lugar pobre, oras. Da tantas vezes temida BAIXADA FLUMINENSE.
E daí levo um tiro na cabeça por isto? Daí pago o pato daquela gente escrota da minha vizinhança? Porque sou OBRIGADO a trabalhar de terno?
Porque EU tenho que me sujeitar a servir de exemplo de "justiça poética social"?
SIRVA VOCÊ!

1:59 PM  
Blogger Wallace said...

Dá pra entender sua indignação como SOCIÓLOGO, Tico. Agora, como o "Seu Cueca" tentou ensaiar - infelizmente sem conseguir chegar sequer perto - é que o reverso da medalha existe. Não quero fazer apologia ao errado nem legitimar a violência, mas, o camarada que apontou o revólver na testa do Huck poderia fazer o mesmo texto ao inverso:

"Como brasileiro, tenho até pena do coitado global montado naquele carrão com relógio caríssimo.
Provavelmente não trabalhou na infância, teve educação e muito mais oportunidades. (...) Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos e, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas perdidas durante o caminho para casa."

Qual é a moral da história? Está na hora dos nossos governantes se inspirarem em grandes homens como JK e promoverem uma DESCENTRALIZAÇÃO dos espaços urbanos, um desenvolvimento para ao interior do país. Pois é inviável colocar 80% da população nas cidades, assim como é inviável colocar 100 presos numa cela onde só cabem 40, por exemplo.

2:33 PM  
Blogger Seu Cuca said...

Quando alguém te oferece um presente e você não aceita, quem fica com ele?

Enfie sua ironia onde melhor lhe aprouver, Wallace.

4:47 PM  
Anonymous Anônimo said...

Esse sujeito do terceiro comentário sofre de um tremendo complexo de inferioridade, daí vem a prepotência, o preconceito e o autoritarismo, que venho observando em alguns posts. Pelo amor de Deus!!! Mas que inveja doentia, ou será paixão?
Adorei seu texto e voltarei no blog.

beijos

6:12 PM  
Blogger Seu Cuca said...

Rapaz...

Conheço o Thiago desde moleque.

Eu já argumentei aqui contra o Hugo Chavez e o fechamento da RCTV, e ele mui inteligentemente me rebateu.

Acho que a idéia do blog (você já olhou os posts antigos?) é justamente CAUSAR DISCUSSÃO.

Você quer o quê? Que todo mundo entre aqui e diga "sim, seu texto é ótimo, boa tarde?". Isso ele sabe! Ele escreve bem, puseram até textos dele em sites americanos, oraora, não sou eu quem vai fazê-lo menor ou maior!

O caso é que tem uma pá de gente por aqui que é esquerdista doente - ou coisa que o valha - e pensa que quem tem opiniões diferentes é "inimigo dos injustiçados".

E eu votei no PT, amiguinha. SEMPRE. Fiz propaganda pra ele onde morava. Botei a estrela no peito e tudo. Também conheço a realidade triste de muita, muita gente.

Só que tem coisas que considero erradas, tem idéias que não acho que vão dar em nada. A Holanda libera as drogas e DÁ CERTO, a Suécia proíbe e TAMBÉM dá certo, e o culpado sou eu por tomar um partido? Problema seria ficar em cima do muro!

Tenho achado bem mais saudável discutir pessoalmente com o Thiago. Eu afirmo que um monte de vocês deve gostar do que ele escreve justamente porque as idéias se parecem com as suas.

Eu gosto porque são bem-formuladas. Porque são competentes. Porque valem a pena ser discutidas.

E ele não precisa falar mal de ninguém pra aparecer.

8:50 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

Gente nao quero chegar ao ponto de ter que ficar removendo comentário por achar impróprio, entao vamos pegar leve, ninguém precisa baixar o nível por aqui.

A proposta do blog é discutir sim mas com respeito, sem mandar ninguém enfiar nada em lugar nenhum, que coisa feia! Não é por aí...

A diversidade de opinioes é importante e sou um defensor dela, mas nao precisamos impor a ninguém nosso ponto de vista. Exijo respeito, por favor.

Sejam bem-vindos os novos leitores e permanencem bonitinhos e comportados os antigos. Alto nível.

Paz.

11:53 AM  
Blogger Sangue de Barata said...

Mudando de assunto:

Eu quis levantar com o post um outro lado que nao é muito falado. A maneira como algumas pessoas vivem no Brasil nao condiz com a nossa realidade social e ainda por cima é revoltante. Entendo os 2 lados mas estou tentando me deter sobre um em especial.

Nao acho que seja no "cada um por si" que esteja a solucao. Por exemplo, uma das desculpas das pessoas serem tao apáticas em relacao à injustiça social é que elas se vêem com uma relativa chance de, em algum momento, poderem usufruir dessa desigualdade que permite a alta mobilidade social que há no Brasil.

Mas essa visao de que "se eu trabalho eu consigo" nao é sempre válida, pois surgem várias questoes:

Consegue o quê?
Com que tipo de trabalho?
Como se consegue esse trabalho?
Todos podem conseguir esse trabalho?
Como isso funciona para os que não podem?
E por aí vai...

A gente tende a ver tudo na ótica individual e há um mundo lá fora, que muitas das vezes nossa visão particular nao alcança.

Nesse medida, quem seriam os estranhos? Quem seriam os extraterrestres? Os excluídos ou os excludentes?

Vale a pena refletir.

12:02 PM  
Anonymous Anônimo said...

A questão de excludentes e excluídos, alienantes e alienados, visão marxista, fica clara no depoimento de Huck, os extraterrestres, os aliens da periferia, a horda, plebe ignara. Huck é o exemplo clássico do alienado que aliena. Empurra para a plebe as feiticeiras e tiazinhas da vida, intocáveis, com seus corpos esculturais moldados a photoshop, alimentos saudáveis e caras academias, como parâmetros de sexualidade, em um país que se faz campanha contra a obesidade,a bulimia e a anorexia, centenas de mulheres são chefes de familia, engravidam aos treze anos e ficam velhas antes do tempo. Ele presta um deserviço social,frustra. Como seus amiguinhos do Chopin, que jogam ovos em transeuntes, ele só se preocupou com a violência quando teve o seu rolex de 40.000 roubado. Quantos rolex será que ele tem? Ele não se preocupou com a violência publicada em várias revistas quando deu um helicóptero para seu filho recém nascido.Em um país como o nosso,em que pessoas são presas por roubar manteiga, tal exposição de riqueza, é acintosa, como os cordões de ouro dos traficantes. Concordo com o Wallace sobre o reverso da medalha, e isso fica evidente nas expressões do Seu cuca "Não nasci na Zona Sul. Não gosto da maior parte das pessoas lá. São frias, distantes e sem sal." Ele exemplifica a visão generalizada e errada da periferia,sobre os ets da zona sul do Rio, e olha que ele estudou e ainda carrega uma grande carga de preconceito, solidificada pelas visões de Gilberto Braga, Manoel Carlos e cia. Quando diz:"Me sinto OBRIGADO a dar esmola. Não dá pra comer alguma coisa em uma lanchonete dali sem ver um MONTE de pessoas com olho comprido em você. E eu dou, simplesmente porque TENHO CORAÇÃO." Ele não pergunta para o "pobre coitado" de onde ele é. Eu te garanto que o "pobre coitado" tem onde morar em Campo Grande, Santa Cruz, geralmente na zona oeste. Devido a pessoas como ele "com bom coração" que vem de outros lugares e dão esmola, há um crescente aumento da população de rua na zona sul. População que quando recolhida pela prefeitura, se recusa a ficar nos abrigos.Esse preconceito também é visível nos morros cariocas e sua terrível especulação imobiliária. O aluguel de casas na Rocinha pode alcançar o mesmo valor de um conjugado em Copacabana. A maior parte dos atuais moradores da zona sul, da Glória até o Leblon, é oriundo dos subúrbios, zona oeste e grande rio, e sua população flutuante também.O preconceito também é encontrado na Baixada Fluminense. Um morador de Olinda ou Austin não é tratado da mesma forma que um morador da parte rica de Nova Iguaçu ou Caxias que também tem sua elite, quem mora em Niterói tem preconceito com quem mora no Jardim Catarina.O bairrismo é real e deve ser combatido.

3:23 PM  
Anonymous Anônimo said...

O indivíduo alienado é aquele que se submete aos valores e instituições que o cerca. Submete-se cegamente sem haver um questionamento.

Alienação seria um problema de legitimidade do controle social, um problema de poder. Ela torna o indivíduo separado da sociedade e, para Marx, quando o indivíduo aliena-se da sociedade ele aliena-se de si mesmo.
http://www.alienacaosocial.hpg.com.br/alienacaoII.htm

4:04 PM  
Blogger Seu Cuca said...

Fala, de Castro!

Cara, vamos por partes...

> Concordo com o Wallace sobre o
> reverso da medalha, e isso fica
> evidente nas expressões
[...]
> e olha que ele estudou e ainda
> carrega uma grande carga de
> preconceito, solidificada pelas
> visões de Gilberto Braga

Eu vou a reuniões de condomínio, sempre. Eu faço compras. Converso com meus vizinhos quando posso.
Conheço mineiros que vieram morar no Rio e estão aqui há mais de 5 anos.
Conheço pessoas que moravam no Rio e foram pra Mesquita porque gostaram do lugar.
Falo com o barbeiro (hoje falei), troco idéia com os caixas de supermercado direto. Já fiz várias obras em casa (e sempre comentam como o pessoal da ZS merece ser "acharcado").
Cariocas de longa data. De diversos lugares. E minha análise permanece a mesma.
O Maneco não tem nada a ver com isso...

Até porque um dos problemas da Globo é o contrário: é fazer pensar que o Leblon está em todo lugar!

> Quando diz:"Me sinto OBRIGADO a
> dar esmola. Não dá pra comer
> alguma coisa em uma lanchonete
[...]
> CORAÇÃO." Ele não pergunta para
> o "pobre coitado" de onde ele é.

Já perguntei e muitas vezes eles me respondem que MORAM na Baixada Fluminense.
Cara, eu já CONVERSEI com mais que DEZ deles, com certeza. E achei VÁRIOS que na verdade têm até emprego, mas não vão pra casa durante a semana para ECONOMIZAR A PASSAGEM.

Eu não tenho formação nenhuma na área de Humanas. Mas me dedico a conhecer este pessoal quase com aspiração antropológica.

Acho que responderia a você e às perguntas do Thiago ao mesmo tempo: penso que um pouco menos de paternalismo estatal ia ajudar muito a esta gente.
Hoje perdemos licitações INTERNAS de multinacionais porque o custo de mão-de-obra na Índia é 70% menor. Tem empresa indiana contratando nos States.
Acha que são funções especializadas? Não, são de atendimento telefônico! Tem gente que prefere um indiano confundindo "13" com "30" em inglês o dia todo, e nos manter trabalhando às vezes pra cobrir um fuso-horário (!!!!!!!) :)
O mundo é ótimo? Não! Mas estamos passando por uma bonança econômica nos últimos anos que poderia estar sendo melhor "surfada".
E eu dou esmola até porque acho que aquelas pessoas que pedem, meu caro, é que são influenciadas pelas novelas do Maneco e acabam crendo que na ZS sempre há muita comida. Tem os gringos... Isso é falado até no "Diário de Uma Guerra Particular", pra citar uma fonte que tá no hype.

Sobre o bairrismo na Baixada, me parece bem menor. Eu tenho parentes em Belford Roxo (Santa Amélia! não é Centro!) e no Morro da Cocada, e não ouço histórias assim todo dia. Gente escrota existe em todo lugar - e estamos aqui para evitá-las, não é?

Abraço.

12:14 AM  
Blogger Sangue de Barata said...

Acho que esta é realmente a proposta do blog: trocarmos idéia no alto nível e assim podemos nso sentir que nem numa mesa de bar (sem a cerveja, infelizmente), mas cada um dando sua contribuiçao, deixando seu ponto de vista... Duvido que nunca alguém que tivésse uma concepção sobre alguma coisa nao mudasse de idéia depois de ouvir o outro e saber que existem outros pontos de vista.

Seja lá qual for a solucao das coisas, acho que ela passa pela conversa, pela troca de idéia, pelo entendimento e pelo respeito.

É isso aí gente, show de bola! Vamos manter o alto nível =P

9:59 AM  
Anonymous Anônimo said...

É pa!
Tantos comentários. Essa foi (em minha opinião... confesso que não li tudo) a conversa mais interessante que já vi neste blog (de qualidade).
É verdade que conversar é o que pode mais ajudar; pena que não pudemos o fazer com os extraterrestres. O debate seria ainda mais produtivo.
Mas a vontade do governo a respeito da inclusão digital ainda não é para agora, e mesmo se fosse não ajudaria.
Falando do assunto, acho que todos temos uma responsabilidade no problema da violência no Brasil. Alguns mais que outros, mas todos temos: pelos nossos preconceitos e pelas nossas ações, por que fazemos parte do sistema mesmo se não aceitamos ele.
Porem, eu ainda não achei como sair dele. Ajuda-me!

Os: vamos conversar num bar? Thiaggo, marcar um encontro (pelo menos mensal)!!!

10:37 AM  
Anonymous Anônimo said...

A grande ironia de tudo isso são citações como a de Hulk sobre o fato: "...um par de ‘extraterrestres’ fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo."

Impressionante não? o país se autodestruindo e se 2 'extraterrestes' não estivessem vagando por um certo BAIRRO NOBRE (tem q ser um nobre) paulistano, no msm lugar e momento que o magnatinha da globo Luciano Hulk, ele nunca notaria nada =o.

Isso é uma 'prova prática' do poder que tem a morfina audiovisual da televisão(globo) na vida de muitos brasileiros. Quando esta morfina se choca com a adrenalina da realidade, acontece isso... o susto de um homem com o fim dos seus sonhos.


abraço thiago, e muito bom esse texto.

9:05 PM  

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