terça-feira, novembro 20, 2007

Viva Zumbi!

No dia em que se celebra a consciência negra no país, está sendo divulgado mais um estudo (dos pesquisadores Marcelo Paixão e Luiz Carvano) sobre a desigualdade racial brasileira analisada a partir do padrão de mortalidade. O estudo mostra, entre outras coisas, que a violência é a maior causa de mortes entre homens negros.

De 1999 a 2005, a taxa de assassinatos por 100 mil homens brancos caiu de 36 para 34 mortes. No mesmo período, a mesma taxa entre os homens negros aumentou de 52 para 61 por 100 mil. Uma melhoria dos índices entre os brancos e uma piora entre os negros é expressiva. Fica claro que a cor determina muito as chances de ser assassinado, quanto mais negro a pessoa for.

Sabemos que o racismo é um dos piores problemas da sociedade brasileira, e a tentativa constante de renegar esse assunto-tabu é uma das barreiras à sua superação. Uma sistemática exclusão dos negros é o argumento-chave para as medidas de inclusão serem postas em prática de uma vez por todas. Um debate neste sentido precisa envolver toda a sociedade.

A consciência negra precisa ser ampliada e reconhecida para que assim finalmente alcançemos a tão sonhada e mítica democracia racial. Precisamos dialogar, compreender e pôr em prática os caminhos para uma urgente igualdade racial. Não podemos mais rir das piadas racistas e preconceituosas, não podemos mais compactuar com a idiotice, nem sermos apáticos frente à estupidez que passa de geração a geração, no automático.

Olhemos para nós mesmos e nossa riqueza multicolorida, olhemos para o protagonismo essencial do negro em nossa história, para que assim possamos ver que não há mais porque ninguém ter vergonha de ser negro. Aí então, ninguém mais vai querer alisar o cabelo nem usar lentes azuis, e muito menos deixar passar em vão piadas racistas que fazem de idiota aos que ouvem e de estúpido quem a conta.

Viva Zumbi dos Palmares!

Thiago Mattos.

PS: Imagens de http://www.ribimbocadaparafuseta.blogspot.com/

Marcadores: ,

12 Comments:

Anonymous Anônimo said...

é isso aí, acima de tudo o respeito para/com seu semelhante; que independente da cor, tem 2 olhos, 2 orelhas, 1 boca e 1 massa cefálica, que nem sempre é usada como cérebro

obs: falto só o Mané Garrincha na montagem.
abraço

10:05 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

É isso aí, Rodrigo! E ainda digo mais: somos todos negros.

Sobre a montagem, falta ainda muita gente, pois muitos foram os negros que protagonizaram nossa história, que fizeram desse país o q é.

Na verdade, eu peguei as imagens emprestadas do ribimbocadaparafuseta.blogspot.com e lá ainda tem mais uma que vale a pena ser conferida, e uma discussãi interessante sobre a mesma questao. Aconselho a todos.

Abs!

12:02 AM  
Blogger Wallace said...

Isso aí, Tico, o Brasil é um poço de contradiçòes. Ë fato histórico de que pessoas com mesma formaçào terão oportunidades diferentes se tiverem cor de pele distintas.
Outro fator é o cultural: porque se diz que quem tem cabelo enrolado "tem cabelo ruim", ou "fulano é escuro mas é de de alma branca", etc? Estrutura de dominação, claro.

6:53 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

Esse assunto-tabu trouxe uma série de sutiliezas preconceitusas que já estão tão naturalizadas na nossa sociedade que termos como "cabelo ruim" ou "de cor" passam como despercebidos, como "água" e "cadeira"...

Esse assunto é tão temido que percebe-se a apatia das pessoas até na timidez dos comentários. Ninguém quer falar sore isso, sabe cuméquié?

7:29 PM  
Blogger Carlos de Castro said...

Fala Thiago, não acho que o assunto é temido, pelo menos por mim não é. O assunto é chato, batido,mal interpretado. Sou de um Rio de Janeiro, de uma Guanabara multiracial e multireligiosa, muito mais tolerante,e por incrível que pareça, menos racista e preconceituosa. A umbanda era a segunda maior religião da cidade, as pessoas eram pretas, brancas, mulatas,todas mestiças, ninguém era afro-americano, euro-americano, eram brasileiras. Um gato pode ser branco, preto ou malhado, será sempre um gato. Aí vieram com aquele papo que mulato vem de mula, judiar vem de judeu. Quer dizer, o politicamente correto ferrou tudo, em um lugar que existe a SAARA, onde árabes e judeus são amigos e pretos e brancos são parceiros no dia a dia. Estamos em uma época em que o conceito de raça foi destruído pela ciência, sabemos que a origem de todos é a África, e vem gente com cotas, ações afirmativas e com o papo de que preto é cor e negro é raça, pô? Esse americanismo idiota só Municia os verdadeiros racistas que estupidamente se consideram de raça branca. Existe racismo? Sim, e hoje é pior devido aos dois lados da questão. Sérgio Porto hoje seria preso por compor o "Samba do Crioulo Doido", David Nasser e Rubens Soares por compor "Nega do Cabelo Duro",Lamartine Babo por compor "O Teu Cabelo Não Nega". Brasileiros mestiços não precisam de cotas, quem precisa de cota é pobre com comprovante, independente de cor. O episódio dos irmãos gêmeos idênticos, um considerado de "raça negra" e o outro branco foi ridículo, e resume tudo. Racismo é babaquice de quem não tem o que fazer, de um lado e do outro, seja um negão de um afoxé baiano ou um branquelo da nação ariana.

10:10 PM  
Blogger Carlos de Castro said...

Para completar: Thiago, antes de falar de sutilezas preconceituosas, pense o seguinte: ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Até hoje não conheci um brasileiro vestido com lençol branco, queimando cruzes e enforcando pretos. E mais, ruminarmos os 300 anos de escravidão não contribuirá para a inclusão social. Nos EUA eu seria preto pois minha bisavó era preta. Sinceramente, eu prefiro mil vezes um brasileiro babaca sutil a um americano da Ku Klux Klan.

10:23 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

Não sei se posso concordar com "o assunto é chato" (talvez pra quem não seja negro), nem "prefiro mil vezes um brasileiro babaca sutil"...

Em primeiro lugar, realmente acho que precisamos falar disso, é necessário debatermos o assunto, esgotá-lo sem medo, trazer novas contribuições à discussão, encarar a nossa realidade.

Em segundo, nao sei se é um lado bom, mas neste país todos podem até admitir que o racismo existe, mas ninguém sabe onde o racista está. Lá nos EUA ao menos não há essa hipocrisia e vc pode saber onde eles estão, assim fica mais fácil até confrontá-los. Mas, aqui no Brasil, como confrontar um inimigo invisível, que ninguém conhece, ninguém viu, ninguém o é, mas todos dizem ouvir falar dele?

É um absurdo igual.

Uma terceira questão: assim como somos todos afro-brasileiros, também somos euro- indo- etc.
A diferença desse gato, q será gato independente de sua cor - é como sua vida será afetada dependendo da cor que ele tiver. Ignorar essa pequena sutileza é negar que haja o problema. E infelizmente ele sim existe.

Os tantos anos de escravidão devem sim estar presentes para percebermos que pouco mudou desde então. Quando finalmente alcançarmos a tão sonhada igualdade independente da cor, aí sim, esse assunto "chato, batido, mal-interpretado" finalmente poderá ser superado. Nesse dia não importará mais a cor do gato, mas até lá, importa sim.

5:27 PM  
Blogger Carlos de Castro said...

Há um revisionismo histórico que por um lado contribui com a causa da igualdade, como a releitura da saga de Zumbi. Quando eu era criança, aprendi no colégio, que Zumbi dos Palmares havia se suicidado para não ser escravizado. Isso fazia parte dos livros de história da ditadura militar.Hoje ele é um herói e não suicida. Por outro lado, todos os brancos são acusados pela escravidão de modo generalizado e sobra para os descendentes atuais que não são racistas e não tem nada com os erros de seus antepassados. Se esquecem das leis que beneficiaram os escravos antes da lei áurea, como a do ventre livre e a do sexagenário, desprezam a campanha abolicionista. Isso também é errado. O assunto é chato da maneira que é abordado, com generalizações, maniqueísmo. E é chato para qualquer um. Não tenho amigos brancos, meus melhores amigos são mestiços como eu, todos pretos ou mulatos, brasileiros, e nenhum sofreu racismo. São pessoas bem sucedidas e sem cotas. Todos os meus chefes eram pretos, e todos competentes. Será que eu sou a única exceção a regra? A realidade que voce fala não seria a sua de sociólogo em vez da nossa?

6:44 PM  
Blogger Anne said...

Nossa! Esse assunto ainda vai dar pano p/ manga..rs
Ótimo texto, Thiago, como sempre. Com relação ao debate, concordo com vc sobre a necessidade de debater para expor/identificar isso que está escondido e mascarado - o preconceito.

Precisamos derrubar as máscaras sociais do racismo que é invisível neste país. E, De Castro, não acho que estamos culpando ninguém especificamente não, pois até nos incluímos nisso tudo, acho sim que estamos querendo diminuir um mal que é real, que prejudica muitas pessoas de forma abrangente. Prejudica independente de termos pessoas do tipo americano racista, 'brasileiro babaca sutil' ou até neonazistas imbecis.
De Castro, vc de fato me parece uma "exceção a regra", pois não se ter ao menos um amigo negro que sofreu preconceito é mesmo raro...

Alunos de várias comunidades já me expuseram como sofreram preconceitos. E achei interessante como eles mesmos têm dificuldade de interpretar o tipo de preconceito que recebem. Um exemplo é achar que não conseguiu tal emprego porque é "favelado", mas não se questionam que outra pessoa da mesma comunidade conseguiu o emprego por ser mais clara (isso mesmo, aquele velho quesito "boa aparência", principalmente em lojas).
Bom não vou ficar dando 'exemplinhos', pois vc certamente pode ter vários dos seus. E além do mais vc acha esse papo todo muito chato, né?! ...rs
Bom abraço e bom debate a todos nesse blog tão legal!

7:25 PM  
Blogger Carlos de Castro said...

O preconceito e o sol com a peneira foi exemplificado: comunidade em vez de favela. Porque o comportamento politicamente correto? comunidade é abrangente, é o bairro, a cidade. Favela não é comuna. O assunto é chato porque é abordado por nossa inteligentzia com panos quentes ou generalizações, maniqueísmo, preto/branco. O preconceito, a discriminação se inicia com as generalizações. São dezenas de etnias africanas, dezenas de etnias indígenas, centenas de nações. Hutu não é Tutsi, na visão maniqueísta são todos negros. Kamiurá não é Kaingang, e no final todos os índios viram uma massa uniforme. É isso que estou tentando mostrar. Nunca neguei a existência de preconceito ou discriminação, e afirmo que não existe essa segregação racial toda que a visão politicamente correta tenta mostrar.No Brasil, ainda bem, não existe apartheid como muitos querem, e após a abolição, muitos negros, filhos ou netos de africanos conseguiram se integrar na sociedade brasileira sem repudiar sua cultura ancestral, principalmente religiosa. Antes mesmo da abolição havia miscigenação e integração. A grande maioria dos escravos na época da abolição era composta de cidadãos brasileiros.
O que eu quis dizer é que biologicamente somos todos mestiços alguns com mais ou menos melanina.Para quem não tem essa consciência, o assunto inclusão social passa pela melanina sim. Quanto a perseguição policial ela é um continuísmo da mentalidade policial repressora criada nas ditaduras brasileiras, de desrespeito a qualquer cidadão que aparentemente não tenha poder político ou financeiro.

9:07 AM  
Anonymous Anônimo said...

Não é possível identificar com precisão quem é negro no Brasil. “Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos da América, a miscigenação entre os denominados ‘brancos’ e ‘negros’ torna a identificação por fenótipo absolutamente inconsistente”.“Se há dívida social – como de fato há – não é exclusivamente com o negro, mas com toda a universalidade dos que estejam socialmente em desvantagem”.“A supressão de vagas ao ‘não-negro’ viola o princípio constitucional da igualdade, sem que haja real fator para privilegiar o denominado ‘negro’, em detrimento do denominado ‘não-negro’Na sentença, o juiz entende que é possível reservar vagas para grupos sociais desde que a argumentação seja pertinente, como acontece no caso de pessoas com deficiências em concursos públicos. Entretanto, “o fator de discrímen, para não ser arbitrário e, portanto, inconstitucional, deve ser pertinente, guardar relação de causa e efeito, ser determinante, explicar o motivo por que se considera aquele grupo ou categoria inferior”.

Segundo o magistrado, o maior obstáculo ao acesso do negro ao ensino superior não seria a condição de negro, “mas o fato de o ensino público anterior ao vestibular ser de má-qualidade e a sua condição social, eventualmente, não possibilitar dedicação maior aos estudos, ou outros fatores que devem ser melhor estudados e debatidos”. O juiz também se refere ao sistema norte-americano de ação afirmativa, dizendo que o modelo não pode ser aplicado à realidade brasileira.

juiz Carlos Alberto da Costa Dias, da 2ª Vara Federal de Florianópolis, em uma decisão proferida nesta quinta-feira (29), considerou que a reserva de vagas da universidade viola o princípio constitucional da igualdade.

10:12 PM  
Blogger Zaira Brilhante said...

Fala Thiago!!! Tem surpresa pra vc la no Fine... Sua vez de passar adiante, mas nao vou dizer o que eh ainda nao, ate vc ir la... =) Ah, e eh td verdade o que eu escrevi, ta? bjssss
ate...
ps: to indo pra londres em janeiro, morar la um tempo... ve se da noticias antes disso! hehe

6:35 PM  

Postar um comentário

<< Home