terça-feira, setembro 09, 2008

Brasil: Retrato das Desigualdades

Num país que se enxerga livre de qualquer tipo de preconceitos, racismo ou sexismo, e, ainda por cima, se gaba por ser multirracial, pode soar chocante o estudo do Instituto Econômico de Pesquisa Aplicada (IPEA) publicado essa semana que diz que mulheres e negros ainda têm muita desvantagem comparados aos homens brancos. Chama-se Retrato das desigualdades de gênero e raça.

Entre os tantos dados, chamam a atenção principalmente o fato de que a renda média de uma mulher corresponde a dois terços da renda de um homem e - pasmem - a renda média dos negros corresponde a metade da de um branco.

O estudo do IPEA, apontando uma ínfima melhora ao longo dos anos, reconhece que essa melhora não provocou mudanças efetivas nas condições de vida entre mulheres e negros - maioria da populção brasileira. E lembra: "os negros trabalham mais durante mais tempo ao longo da vida, entrando mais cedo e saindo mais tarde do trabalho".

Como ficam a propaganda que exalta a mulata e o discurso de que somos um país multicolor, justo e igual? Quantos estudos mais serão necessários para que se implementem políticas públicas que reconheçam que a questão no Brasil não se reduz a apenas ser "pobre" ou "despreparado"? Parece às vezes que quanto mais sabemos, menos queremos saber.

Estranho... Estamos todos no mesmo Brasil?

Thiago Mattos.

Marcadores: , ,

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

nossa sociedade é machista e o que é pior muitas mulheres toleram e engolem as piadas machistas. da msm forma ninguem conhece ninguem racista ou preconceituoso no brasil. onde sera q estao todos eles?

7:15 PM  
Blogger Seu Cuca said...

E porquê as mulheres e negros não são "pobres e despreparados" e esta desigualdade, um efeito colateral?

Ainda vejo com relativa freqüência mulheres que não são preparadas para o mercado de trabalho com seriedade pelos pais, porque provavelmente basearão sua vida nos afazeres domésticos. O que não é condenável, mas produzirá mais "subempregadas" no advento cada vez mais comum do divórcio.

Entendo o negro como vítima do mesmo problema: a maior parte desta população é mais pobre, isso é óbvio. E a educação pública costuma ser péssima, o que também salta aos olhos. Não é de espantar que isso redunde em má posicionamento profissional.

Conheço mulheres que foram corretamente orientadas alcançam posições de sucesso e são bem remuneradas: planos de cargos e salários não diferenciam sexo, por exemplo! E conheço negros bem preparados que lideram desde áreas de tecnologia quanto institutos de previdência - já fui inclusive promovido para o posto de um deles, que ascendeu para um cargo ainda maior!

Concordo que vigore no Brasil uma segregação, mas face a estas coisas não acho que seja sexual ou racial - mas educacional e social.

O que você acha?

2:30 AM  
Blogger Sangue de Barata said...

Pra responder a esta pergunta de maneira correta, seria necessária uma extensa explanação do modo pelo qual o preconceito vem sendo entendido na pesquisa social brasileira desde Gilberto Freyre, passando por Florestan Fernandes até Carlos Hasenbalg. Mas não temos tempo nem espaço pra isso.

A maneira pela qual o preconceito opera (e aqui não me refiro apenas ao negro, mas também a mulher) está além da questão econômica, está também na atribuição de idéias negativas que não são superadas apenas com uma igualdade de renda. Símbolismos difundidos aos quatro cantos do Brasil de maneira naturalizada e, por isso mesmo, imperceptível.

A estética do orgulho branco/macho hiper-valorizado no Brasil soma-se a práticas sociais que desvalorizam de maneira contínua o que é ser negro ou ser mulher.

Está claro que a maior parte dos mais pobres no Brasil são os não-brancos e que, ainda que tenha havido uma pequena melhora, os salários das mulheres ainda são menores comparados aos dos homens, ou seja, ainda há desigualdade. Exemplos das exceções existem: Pelé e Min. Joaquim Barbosa, por um lado; Dilma Rousseff e Min. Ellen Gracie, por outro. Mas, que não esquecamos, são ainda exceções.

O que precisa ser entendido de uma vez por todas é que não é apenas uma igualdade de renda que resolve um problema difundido na cabeça do povo há muito tempo atráves da linguagem, das representacões e símbolos que são de maneira geral considerados inaptos, feios, e de mau gosto.

Já pensou se a Madonna fosse brasileira? Nunca iria adotar uma criança negra. E se a Angelina Jolie fosse atriz da Globo então? Consegue imaginar uma atriz da Globo adotando 2 crianças africanas? Não pega bem no Brasil né?

O preconceito, seja com o negro ou com a mulher, existe sim e o pior que que, como não o percebemos, não fazemos muito pra acabar com ele. Pegamos nosso sorriso amarelo e apenas rimos no final da piada.

9:46 AM  
Blogger Bruno said...

Eu concordo com o Seu Cuca na maior parte do comentário dele. Acho sim que a maior parte do preconceito é social do que racial. É claro que o último existe também. Acho que esse é o tipo de coisa difícil de acabar na marra, por assim dizer. Por exemplo, classificar as pessoas como brancas, pardas ou negras acho que só piora o problema.

Quanto as mulheres acho que realmente a nossa sociedade é machista. Só que acho que a maioria das mulheres também é, pelo menos, tão machista quanto os homens...

10:11 AM  
Anonymous Anônimo said...

Por outro lado, fingir que ninguem é negro no Brasil, quando as pessoas si dizem ou se negam ser uma coisa ou outra, e dizer que somos todos iguais, quando tudo inclusive os números mostram que infelimente não somos, pode ser também fechar os olhos pro problema, nao é?

10:19 AM  

Postar um comentário

<< Home