sexta-feira, agosto 08, 2008

08/08/08

A abertura dos Jogos Olímpicos de Beijing às 08h08m08s deste 8 do 8 de 2008 foi realmente um belo espetáculo de efeitos especiais, luzes, cores e fogos. Mas é preciso ver mais além, onde o espetáculo não mostra.

Com o lema "Um mundo, um sonho", a República Popular da China estará mostrando ao mundo que está aí com todo seu poder de volta, disposta a retomar seu sonho imperial. E o primeiro passo certamente será a busca por medalhas na disputa com os Estados Unidos pelo posto de nova potência esportiva.

Não é de hoje que a conexão entre esporte e política vem aumentando. Lembremos das Olimpíadas de Berlim em 1936, quando Hitler abandonava o palco ridicularizado e enfurecido com as quatro medalhas de ouro do atleta negro Jesse Owens em solo alemão.

Lembremos do Massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em 1989, que sepultou a candidatura olímpica da China na época - diga-se de passagem: mais de 130 presos políticos seguem presos, 19 anos depois. Lembremos, mais recentemente, dos Jogos de Atlanta em 2004, época da invasão do Iraque pelos EUA, da autorização da tortura em Guantánamo, das prisões ilegais da CIA.

Agora, mais uma vez, é a vez da China. As polêmicas envolvendo os Jogos estão aí há muito tempo - pelo menos desde Burma. Falamos em poluição, pedimos direitos humanos, clamamos por liberdade. Mas o governo chinês não parece estar disposto a ceder.

Apesar de tentador, um boicote aos Jogos de Beijing não seria a solução. Devemos ter em mente a oportunidade que estas Olímpiadas podem fomentar, seja através das polêmicas que não podem mais ser ignoradas e precisam ser debatidas, seja nas atenções voltadas para um dos lugares mais problemáticos do mundo contemporâneo e na pressão que isso causa.

Afinal de contas, falamos de uma só China, a mesma que também sofre por desastres naturais e passa por momentos difíceis na reconstrução pós-tragédias. Devemos nos solidarizar com o povo chinês, guerreiro e sofredor, dividir as dores causadas por terremotos e governos. E torcer para que "um mundo, um sonho" se realize o mais rápido possível.

Thiago Mattos.

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7 Comments:

Blogger Carlos de Castro said...

Ótimo texto, mas sou mais pessimista, esse "um mundo, um sonho" me deixa bem preocupado, não gosto de comer cachorro e odeio as pilhas chinesas. abração

7:06 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

Temos que lembrar que essa fama dos chineses (e povos asiáticos em geral) por comidas nojentas e de "mal gosto" tá do lado do preconceito. Muitos chineses, principalmente os do interior, tinham que comer esse tipo de coisas por falta de opção, por causa da miséria e não por serem exóticos.

Quanto às pilhas e às outras muambas, o que vc quer com uma mão-de-obra tão barata e explorada, sem informação e sem poder reclamar? Não tem como...

Uma coisa é o governo, a outra é o povo. E outra é o povo bestializado pelo governo (nem to falando do Brasil =P)

PS: Valeu pelo elogio!

7:30 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

Agora sobre o pessissimo: entendo EXATAMENTE essa preocupação e a divido com você.

O mundo "pagando pau" para as bugigangas tecnológicas sendo usadas em nome do Estado e achando graça do "espetáculo", a opressão do indivíduo em nome do coletivo (o partido), os absurdos cometidos contra a liberdade de imprensa e de expressão, as prisões políticas, a pena de morte, o país mais pirata do mundo, a analogia óbvia com o nazi-facismo, etc etc etc.

Só acho que tem um lado bom a ser levado em conta nisso tudo e temos que explorar aí: o foco agora está todo lá e é uma puta oportunidade de TODO MUNDO botar a boca no trombone, pressionar!

Espero que as equipes de jornalistas lá, todos da imprensa tomem esta atitude, pois eles têm um grande trabalho a fazer. Não se pode perder essa chance!

7:46 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

Interessante matéria dO Globo Online:

Porta-bandeira dos EUA dá o tom político da abertura das Olimpíadas
08/08/2008

RIO - A China tentou evitar que assuntos políticos fizessem parte da cerimônia de abertura das Olimpíadas. Mas foi impossível ignorar o significado político do atleta escolhido pelos Estados Unidos para ser o porta-bandeira da delegação americana. O atleta Lopez Lomong, refugiado sudanês, é o símbolo de uma questão incômoda para os chineses. A China é alvo de protestos pelo mundo, acusada de dar suporte e vender armas ao Sudão, governado por uma ditadura sangrenta. Lomong não é um competidor de ponta - tem só a terceira marca dos 1.500m na equipe dos EUA - e não foi escolhido porta-bandeira por acaso.

Nesta sexta-feira, dia da abertura dos Jogos, Lomong já tinha criticado o governo chinês por apoiar o Sudão e por cancelar o visto do ativista americano pró-Darfur Joey Cheek, um dos fundadores do Team Darfur (grupo internacional de atletas comprometidos com a causa da província sudanesa, ao qual Lomong é ligado).

- Eu vivi isto. Sou membro do Team Darfur. Vivi esta situação. Os Jogos Olímpicos supostamente devem ser algo para unir os povos. Algo pacífico - protestou.

Bush critica novamente o governo da China

O atleta, que tem 23 anos, nasceu no Sudão e fugiu do país africano quando tinha apenas 6 anos, forçado a se separar da família. Ele conseguiu a cidadania americana há 13 meses.

O conteúdo político e o desconforto entre EUA e China estiveram presentes também em comentários do presidente americano, George W.Bush. Nesta sexta, antes da cerimônia, ele voltou a defender a liberdade de expressão e de culto na China, dizendo que estes são caminhos para a prosperidade e a paz.
O pequeno Lin hao, sobrevivente do terremoto, na festa de abertura das Olimpíadas. Foto Reuters

Na cerimônia de abertura propriamente dita - à qual Bush, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros 102 chefes de Estado estiveram presentes - houve cuidado para questões políticas, mesmo as do passado, não aparecerem. O salto da China Imperial para a China maravilhosa de hoje, como os próprios chineses denominam, se deu com um hiato de 150 anos. Na linda festa de mais de quatro horas, em que a história milenar do país foi apresentada, os organizadores omitiram, por exemplo, o que os chineses chamam de "período da vergonha" (a viagem pelo passado escondeu a China Imperial invadida por forças estrangeiras, a perda de Hong Kong, a invasão japonesa dos Anos 30, a Revolução Cultural de 1966 e outros episódios).

Mas quando o assunto é bom para a imagem do país, a organização fatura. O menino sobrevivente de um terremoto, alçado a herói nacional na China que vende ao mundo a imagem da superação, desfilou ao lado do gigante do basquete Yao Ming, porta-bandeira da delegação chinesa.

Nas arquibancadas do Ninho do Pássaro, o Estádio Olímpico, palco da abertura dos Jogos, nada de manifestações. Apesar do estresse diplomático entre americanos e chineses - rivais também na disputa pela soberania do quadro de medalhas - a delegação dos EUA foi aplaudida. A da França, país cujos produtos foram alvo de boicote na China devido a críticas do governo ao regime chinês, foi recenida sem vaias. Apenas com frieza e nada de aplausos.


Fonte:
http://oglobo.globo.com/esportes/olimpiadas2008/mat/2008/08/08/porta-bandeira_dos_eua_da_tom_politico_da_abertura_das_olimpiadas-547641010.asp

7:57 PM  
Blogger Jorge Cordeiro said...

mandou bem, meu caro! E é bom sempre lembrar que nao somos contra a China ou as Olimpiadas, mas contra um governo que conta com o apoio cinico de outras grandes potencias. Afinal, é tudo um jogo de cartas marcadas, no qual quem se fode, sempre, somos nós...

abs!

3:12 AM  
Blogger Sangue de Barata said...

Exatamente!

3:07 PM  
Anonymous Anônimo said...

Garota que "cantou" nos Jogos foi dublada por cantora mirim
Por Chris Buckley

PEQUIM (Reuters) - A garota que ficou famosa ao cantar na cerimônia de abertura da Olimpíada de Pequim foi apenas um rosto fotogênico escolhido para ser dublada pela cantora de verdade, que acabou rejeitada por sua aparência, informou a imprensa chinesa nesta terça-feira.

Lin Miaoke, de 9 anos, foi celebrada por toda a China como a voz angelical e rosto bonito que cantou "Ode à Pátria" na espetacular cerimônia de abertura na sexta-feira.

Mas um diretor da cerimônia de abertura, Chen Qigang, afirmou à TV estatal que a voz de Lin foi substituída pela voz de outra cantora mirim, a garota Yang Peiyi, disse o serviço estatal de notícias da China.

"Yang Peiyi não foi selecionada (para aparecer na cerimônia) por causa de sua aparência. Foi por interesse nacional", disse Chen.

A China não tem medido esforços ou gastos para garantir a Olimpíada perfeita.

Uma autoridade revelou na quarta-feira (horário local) que algumas das cenas de fogos de artifício transmitidas na hora da cerimônia foram pré-gravadas.

Entre as imagens gravadas anteriormente estavam as impressionantes cenas de "pegadas" formadas por fogos de artifício, disse o vice-presidente dos Jogos, Wang Wei, a jornalistas.

As pegadas passaram pela cidade até chegarem ao estádio Ninho de Pássaro, onde o espetáculo de quatro horas aconteceu.

Mas fazer uma criança passar por outra foi longe demais, disseram alguns chineses em comentários postados na Internet.

"Por que se preocupar tanto com as aparências? Todas as crianças de sete anos são anjos", disse uma pessoa.

http://br.esportes.yahoo.com/china2008/noticias/12082008/5/esportes-garota-cantou-nos-jogos-dublada-cantora-mirim.html

8:48 AM  

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