domingo, novembro 08, 2009

Vergonha da minha geração acéfala



Há pouco a dizer sobre o ridículo episódio da estudante de turismo da UNIBAN, em São Paulo. Como todos sabem, há algumas semanas Geyse Arruda foi escurraçada, xingada e, finalmente, expulsa da universidade onde estudava.

É lamentável, meus amigos, mas de experiência própria posso garantir que a atitude daqueles "universitários" não é assim tão chocante: essa é a nossa juventude, esse é o infeliz retrato do Brasil.

Após me formar em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, decidi voltar a cursar jornalismo em São Paulo e sei que isso poderia muito bem ter acontecido onde estudo hoje - tenho certeza. Aliás, foram alguns "colegas" de lá que me garantiram que teriam feito o mesmo.

Isso posto, resta pouco a dizer. Reproduzo aqui uma nota da União Nacional dos Estudantes que diz tudo o que penso:

Episódio de violência sexista acaba em mais uma demonstração de machismo

No dia 22 de outubro, o Brasil assistiu cenas de selvageria. Uma estudante de turismo da Universidade Bandeirante (São Paulo) foi vítima de um dos crimes mais combatidos na sociedade, a violência sexista, que é aquela cometida contra as mulheres pelo fato de serem tratadas como objetos, sob uma relação de poder desigual na qual estão subordinadas aos homens. Nesse episódio, a estudante foi perseguida e agredida pelos colegas, hipoteticamente pelo tamanho de vestido que usava, e só pôde deixar o campus escoltada pela polícia. Alguns dos alunos que a insultaram gritavam que queriam estuprá-la. Desde quando há justificativa para o estupro ou toleramos esse tipo de violência?

Pasmem, essa história absurda teve um desfecho ainda mais esdrúxulo. A Universidade, espaço de diálogo onde deveriam ser construídas relações sociais livres de opressões e preconceitos, termina por reproduzir lamentavelmente as contradições da sociedade, dando sinais de que vive na era das cavernas.

Além de não punir os estudantes envolvidos na violência sexista, responsabiliza a aluna pelo crime cometido contra ela e a expulsa da universidade de forma arbitrária, como se dissessem que, para manter a ordem, as mulheres devem continuar no lugar que estão, secundárias à história e marginalizadas do espaço do conhecimento.

É naturalizado, fruto de uma construção cultural, e não biológica, que os homens não podem controlar seus instintos sexuais e as mulheres devem se resguardar em roupas que não ponham seus corpos à mostra. Os homens podem até andar sem camisa, mas as mulheres devem seguir regras de conduta e comportamento ideais, a partir de um padrão estético que a condiciona a viver sob as rédeas da sociedade, que por sua vez é controlada pelos homens.

Esse desfecho, somado às diversas abordagens destorcidas do fato na mídia, demonstram a situação de opressão que todas nós, mulheres, vivemos em nosso cotidiano. Situação em que mulheres e tudo o que está relacionado a elas são desvalorizados e depreciados. A mulher é vista como uma mercadoria - ora utilizada para vender algum produto, ora tolhida de autonomia e direitos, ora violentada, estigmatizada e depreciada. É essa concepção que acaba por produzir e reproduzir o machismo, violência e sexismo, próprios do patriarcado. Tal concepção permitiu o desrespeito a estudante.

Nós, mulheres estudantes brasileiras, em contraposição a essa situação, estamos constantemente em luta até que todas as mulheres sejam livres do machismo, da violência, do desrespeito e da opressão que nos cerca.

Repudiamos o ato de violência dos alunos contra a estudante de turismo, repudiamos a reação da mídia que insiste em mistificar o fato e não colocar a violência de cunho sexista no centro do debate e denunciamos a atitude da universidade de punir a estudante ao invés daqueles que provocaram tal situação.

Exigimos que a matrícula da estudante seja mantida, que a Universidade se retrate publicamente e que todos os agressores sejam julgados e condenados não somente pela instituição, a Uniban, mas também pela Justiça brasileira.

Somos Mulheres e Não Mercadoria!

Diretoria de Mulheres da UNE - União Nacional dos Estudantes


É nessas horas que tenho vergonha da minha geração acéfala.

Thiago Mattos.

Marcadores: , ,

8 Comments:

Blogger Sangue de Barata said...

Na verdade, isso poderia ter acontecido na maioria das universidades e principalmente nas que aceitam acéfalos e vende diplomas em prestações de quatro anos; ter acontecido na UNIBAN foi só por acaso. Mas a postura da instutuição que acabou expulsando a aluna e não punindo aqueles alunos foi lamentável. Nossa educação é essa aí: a própria falta dela.

8:56 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

MEC pedirá explicações da Uniban sobre expulsão de aluna:

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,mec-pedira-explicacoes-sobre-expulsao-da-estudante,463160,0.htm

9:18 PM  
Anonymous Gus said...

sem demagogia e sem sombra de dúvida, o nível mental da juventude brasileira atual é patético, a educação e a bagagem cultural da maioria dos jovens é baixíssima, assim como seus interesses por tais assuntos são inexistentes.
Mas, acredito que essa situação não reflete o que poderia acontecer em qualquer lugar do Brasil; porque não foi só antiético como também, e principalmente, Bizarro. Alunos incitarem o caos total porque uma aluna se veste com um vestido curto (?), e ainda chegarem a agredir verbalmente a menina a ponto de ela ser escoltada até a saída da faculdade (!), e pra piorar, a atitude do reitor da universidade é expulsar... a Menina (?!?!?!?!?!?!). Parece uma piada, eu quase não acredito.
De qualquer forma, sob um pós conceito levemente preconceituoso eu diria sobre esse assunto que: Tinham que ser paulistas.

3:54 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

E a doméstica que foi espancada pois a confundiram com uma prostituta? Isso aconteceu no Rio, cara. Entao, acho que não é um sintoma do estado mas do pas. É uma perda de valores total.

3:06 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

E a doméstica que foi espancada pois a confundiram com uma prostituta? Isso aconteceu no Rio, cara. Entao, acho que não é um sintoma do estado mas do pas. É uma perda de valores total.

3:07 PM  
Blogger Sangue de Barata said...

E a doméstica que foi espancada pois a confundiram com uma prostituta? Isso aconteceu no Rio, cara. Entao, acho que não é um sintoma do estado mas do pas. É uma perda de valores total.

3:07 PM  
Anonymous Gus said...

o caso da doméstica é um típico caso corriqueiro que acontece não só no Rio, ou no Brasil, mas no mundo inteiro; mas sim, concordo que seja uma evidência da perda de valores total, mas do ser humano, não do carioca ou do paulista ou do brasileiro.
E, convenhamos foi um caso bem diferente do que aconteceu em SP, visto o número de pessoas envolvidas e o desenrolar do caso como um todo.

6:12 PM  
Anonymous Gus said...

Aliás, muito interessante o blog, parabéns.

6:14 PM  

Postar um comentário

<< Home